"Quais são os seus pronomes?": vídeo ridiculariza questão ligada à identidade e gera polêmica
Ano passado, discussão foi levantada por Linn da Quebrada durante participação no BBB após episódios de transfobia
Desde quarta-feira, 31, um vídeo em que um rapaz aborda pessoas aleatórias e pergunta "quais os seus pronomes?” tem circulado nas redes sociais e gerado polêmica.
As respostas recebidas pelo autor do vídeo passam longe da esperada. Um senhor, por exemplo, ao ser questionado sobre quais os seus pronomes, responde "Zico, Zinho e Adílio", fazendo referência a jogadores de futebol.
E você? Quais os seus pronomes? pic.twitter.com/YPzMXuLWt1
— Antonio Tabet (@antoniotabet) June 1, 2023
Em outro momento do vídeo, uma pessoa, sentada em um parque, desenvolve uma opinião vinculada à infraestrutura do local. "Eu acho que ele já melhorou muito. Em relação ao projeto antigo, eles têm melhorado bastante, têm feito reformas", responde ao ser questionada com a pergunta "quais os seus pronomes?".
Entre os internautas, há aqueles que afirmam que o vídeo, até o momento com mais de 5 milhões de visualizações, é uma tentativa de dizer que "pessoas comuns não estão preocupadas com pronomes" e aqueles que sustentam a opinião de que as respostas foram manipuladas pelo autor do vídeo, "expondo as pessoas ao ridículo".
"Se ele quisesse mesmo demonstrar que a população não liga pra isso na vida real, primeiro ele explicaria o que é pronome e qual a discussão. Isso se chama contextualização. Teríamos a mesma conclusão que o vídeo sugere, mas seria feita de maneira mais didática e respeitosa", escreveu um seguidor. "Qual a finalidade disso, expor as pessoas ao ridículo? Ganhar dinheiro às custas da imagem alheia?", questionou uma segunda pessoa.
O que são os pronomes?
Os pronomes nada mais são do que palavras que substituem ou acompanham o nome. É o caso das palavras "ele", "ela", "dele" e "dela". Ou, no caso da linguagem neutra, é o caso das palavras "elu" ou "delu".
De cara, essa discussão pode parecer meramente gramatical, mas tem a ver também com a identidade e respeito à pluralidade de pessoas.
Ano passado, essa discussão foi levantada diversas vezes por Lina Pereira - mais conhecida como Linn da Quebrada - durante sua participação no Big Brother Brasil.
A artista passou por vários episódios de transfobia envolvendo a dificuldade de outros participantes em utilizarem o pronome 'Ela', com o qual Linn se identifica. Foi necessário que, ainda nas primeiras semanas, o apresentador do programa, Tadeu Schmidt, intervisse.
"Lina, você tem o pronome 'Ela' tatuado acima da sobrancelha, eu queria que você explicasse por que fez essa tatuagem e, também que você dissesse mais uma vez, reforçando, como as pessoas devem tratar você", pediu Schmidt.
Em seguida, Lina explicou o motivo de ter feito a tatuagem: "Eu fiz essa tatuagem, na verdade, por causa da minha mãe. No começo da minha transição, minha mãe ainda errava e me tratava no pronome masculino. Eu falei "mãe, olha, eu vou tatuar 'Ela' aqui na minha testa para ver se a senhora não erra. Acho também que é uma indicação para todas as outras pessoas", explicou a artista na época.
A Oficial de Programa no Fundo Internacional Trans e doutoranda em Estudos Interdisciplinares sobre Mulheres, Gênero e Femininos, pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), Viviane Vergueiro, explica a importância do reconhecimento do gênero de pessoas trans e da utilização dos pronomes corretos.
"Quando se tenta banalizar parece que é uma mera questão de hipersensibilidade, formas que o patriarcado tem de desvalorizar sentimentos, percepções, e de minimizar certas violências que podem acontecer. O desrespeito aos pronomes têm uma relação muito grande com a deslegitimação dos nossos nomes, das nossas existências e perspectivas. Esses elementos têm uma fundamentação desumana que é muito profunda”, destacou Viviane.
Perguntar “quais pronomes você usa?” pode parecer banal ou até mesmo constrangedor, mas com certeza é melhor do que criar suposições sobre uma pessoa com base no visual de alguém. Afinal, cabelos curtos não são sinal de masculinidade, assim como maquiagem ou unhas pintadas não são fatores decisivos sobre o gênero de alguém.
