O congresso brasileiro preza pela manutenção do racismo
Leis que visam mitigar o abismo social do Brasil são a todo momento ceifadas pelo legislativo, a fim de perpetuar as desigualdades
Mais uma vez, o Congresso Nacional vota para agradar uma elite do atraso que não pensa em nada além de subjugar ainda mais a classe trabalhadora. Não é a primeira vez que vemos os eleitos pelo povo fazendo o possível e o impossível para prejudicar e fazer sangrar ainda mais os operários. Desde o golpe contra Dilma, é notório todo o esforço que a classe dominante faz para tentar reduzir a zero os avanços dos primeiros governos do Lula e do governo da presidenta Dilma. Seja com Temer e sua reforma trabalhista, que foi um golpe nas lutas dos trabalhadores brasileiros por meio de uma canetada, seja com o discurso adquirido de Bolsonaro, visando um liberalismo covarde que só trouxe mais poder aos detentores dos meios de produção.
Não satisfeitos com todo o mal que fazem ao povo durante as votações, esses mesmos congressistas gastam rios de dinheiro disseminando desinformação e meias verdades para justificar os absurdos que impõem à população que lhes concede votos. Um exemplo claro disso foi quando o governo Lula propôs isentar impostos para quem ganha até R$ 5.000. A oposição, que é maioria no Congresso, produziu diversas informações incompletas para virar o povo contra a reforma, servindo, mais uma vez, aos interesses dos ricos que, segundo consta, são quem financiam suas campanhas.
O que as pessoas negras precisam refletir sobre essa questão é que nós somos a maioria entre os pobres no Brasil. Cada lei que visa beneficiar os menos abonados impacta diretamente nossos interesses, ainda que a palavra “raça” não venha explicitada nas legislações. Até porque, com o atual cenário do debate racial no Brasil, qualquer vínculo à ideia de raça já é tratado como se fosse “racismo reverso”. E o pior: muitos acreditam nessa falácia.
Reforma tributária, FIES, PROUNI, leis em prol do trabalhador e até sonhos ainda mais distantes, como a reforma agrária, são todos projetos que beneficiam diretamente a população negra. O mesmo vale para a taxação de grandes fortunas. Sabe onde estava a minha bisavó enquanto essas grandes heranças eram formadas? Pois é, no açoite. Logo, a maioria esmagadora das pessoas que terão de pagar impostos justos sobre o imenso acúmulo de capital são pessoas brancas que herdaram dinheiro de um período em que nossos antepassados estavam sendo escravizados. Mesmo após o fim oficial da escravidão, o Estado brasileiro preferiu importar trabalhadores brancos, entregando-lhes terras, remuneração e outras condições facilitadoras. Enquanto isso, às pessoas negras — agora ex-escravizadas —, que já estavam aqui, sobraram leis que as impediam de diversos direitos. Entre essas leis, estavam até normas que limitavam a circulação pelas cidades, como a vergonhosa “Lei dos Vadios e Capoeiras” da época.
Historicamente, o Brasil odeia pessoas negras. E ainda que a esquerda seja majoritariamente branca — ao menos em sua cúpula mais midiática —, ela é, até o momento, a melhor escola que temos para pensar em um futuro com mais equidade e possibilidades de ascensão. Todos nós temos críticas ao Lula, Haddad e ao governo do PT, mas acredito piamente que o pior governo de esquerda é 100 vezes melhor do que um governo que prega a manutenção da desigualdade social.
O que pavimenta as classes sociais nos países que surgiram no contexto da escravização africana é a raça. Logo, todo projeto que vise oferecer oportunidades aos pobres, garantindo-lhes mais renda e cobrando o justo dos mais ricos, irá beneficiar de forma significativa a nós e aos nossos descendentes. Não podemos cair no discurso demagógico da direita. Eles não estão minimamente preocupados com o nosso bem-estar. A única preocupação deles é manter os negros e os pobres em situações precárias, para que continuemos vendendo nosso suor e sangue a preço de banana com o objetivo de enriquecer as mesmas famílias poderosas de sempre — aquelas que já lucravam no século XVII.
A democracia nunca será plena enquanto uma parcela da população tiver apenas direitos, enquanto outra tiver apenas deveres.