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'Não precisa ter medo de ser você': menina trans supera medos e celebra Dia das Crianças com apoio da família

12 de outubro de Milena será especial: comemoração, churrasco e 'aproveitar para ser criança'

12 out 2025 - 04h59
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Resumo
Apoiada pela família e por redes de acolhimento, Milena, uma menina trans de 12 anos, celebra sua infância com confiança, destacando a importância do amor, do suporte psicológico e da aceitação na busca por felicidade e liberdade.
'Data especial', 'me divertir': menina trans revela desejos para o Dia das Crianças:

‘Vai ter churrasco, vai ser muito legal. Meu plano é me divertir’. A programação de Milena para o Dia das Crianças neste domingo, 12, pode parecer até simples demais, mas é muito significativa para quem aos 12 anos já teve que lutar para existir e ser reconhecida como uma menina.

Moradora de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, a menina tem uma rotina parecida com a de várias crianças ao longo da semana: vai para a escola, faz aulas de inglês, corre e brinca. No entanto, ela destaca as idas à psicóloga. "É um espaço onde eu posso falar o que eu quiser. É um espaço onde eu consigo ser a Milena."

Eloquente e sem aparentar dificuldade para se comunicar, Milena afirma ter conquistado confiança para expressar sentimentos e para ter o que considera "uma rotina normal" graças ao apoio da psicóloga e da família depois de ter passado pela transição de gênero.

Porém, nem sempre foi assim. Houve momentos em que não queria ir para a escola, ficava chateada por causa do bullying e temia sofrer alguma violência. "Atualmente, eu não preciso mais ter esse medo. Foi muito bom saber que alguém estava se preocupando com a minha felicidade. Eu me escondia muito, então para eu já dar minha opinião e falar o que eu quero, era muito difícil."

Família de Milena e Carize incluem pai e irmã que celebrarão Dia das Crianças neste domingo
Família de Milena e Carize incluem pai e irmã que celebrarão Dia das Crianças neste domingo
Foto: Arquivo pessoal

Milena se refere à mãe, Carize Müller da Costa, de 35 anos, como peça fundamental para a filha alcançar a normalidade na rotina. "Todo mundo deveria pensar que nem ela", diz a filha. 

Para a mãe, a única possibilidade sempre foi entender Milena e buscar a felicidade da garota. "A gente quando escolhe ser mãe e ser pai, escolhe amar, proteger, acolher, dar limite e preparar para o mundo. E acho que temos que fazer essa escolha e abraçar essa escolha de verdade. O amor não tem gênero." 

O começo foi turbulento, justamente pela falta de informação sobre as dificuldades enfrentadas pelas pessoas trans. Turbulento, no entanto, não significava virar as costas para a filha. Por volta dos dois anos de idade, Milena sempre escolheu "pelo que se diz feminino", segundo a mãe. A família levava a situação com normalidade. Na época, Carize imaginava que "tinha um menino gay" e relembra que não conseguia a diferença entre gênero e orientação sexual. 

Quando Milena completou quatro anos, Carize a levou a um psicólogo. "Foi uma experiência bem negativa. Na época, ele orientou que a gente tinha que reforçar o masculino e falou que [a transgeneridade] é porque ela se espelhava muito em mim", relata.

'Olha onde eu estou agora': criança trans encontrou confiança com psicóloga e apoio da família
'Olha onde eu estou agora': criança trans encontrou confiança com psicóloga e apoio da família
Foto: Arquivo pessoal

Porém, ao ver o sofrimento da filha, começou a dar liberdade para Milena assistir aos desenhos de que gostava e pintar a unha, por exemplo. 

Com a troca de terapeuta e o apoio da ONG Minha Crianças, Carize entendeu do que a filha precisava:

"Dei liberdade de ela ser uma criança feliz. Eu também tenho outra filha que tem 9 anos, então eu não achava justo eu ter uma criança que podia ser criança, ser feliz com as brincadeiras, e outra que não", lembra Carize.

ONG Minha Criança Trans trabalha para fomento de políticas públicas de crianças e adolescentes trans
ONG Minha Criança Trans trabalha para fomento de políticas públicas de crianças e adolescentes trans
Foto: Reprodução/Insgram @ongmct

Carize cortou relações com pessoas preconceituosas e a ansiedade de Milena diminuiu. "Ela foi, assim, florindo".

A ONG Minha Criança Trans tem uma atuação para promover a defesa dos direitos de crianças e adolescentes trans no Brasil. O trabalho envolve acolhimento afetivo de famílias, fomento e defesa de políticas públicas, diálogo com redes de ensino para garantir inclusão escolar, psicologia responsável com atendimento ético e acessível, e pesquisa e produção de dados para combater a desinformação e a transfobia. 

Reunindo mais de 400 famílias em todo o País, a organização busca fortalecer emocionalmente os responsáveis, mediar conflitos e promover visibilidade e respeito às identidades de gênero desde a infância. Fundadora e presidente da entidade, a ativista Thamirys Nunes afirma que a desinformação é o principal obstáculo para as famílias atendidas pela ONG.

"Como ativista de direitos de crianças trans, criança e adolescente trans, eu cansei de ir em eventos que falam, que celebram o Dia das Crianças, eventos políticos, eventos de empresas, e não ver a minha filha representada ali. As demandas delas sendo faladas, a vida delas sendo representada. Eles buscam trazer uma diversidade, mas que nunca vai chegar até a criança trans. É meio exaustivo você ser convidado para ir para essas celebrações, como eu já fui em celebrações em Brasília, e aí chego lá e não se fala dessa infância. Fala-se de quase todas as infâncias, mas essa a gente silencia", provoca Thamirys.

Carize buscou informação para entender transição de gênero de Milena
Carize buscou informação para entender transição de gênero de Milena
Foto: Arquivo pessoal

Ainda que garanta que a sociedade seja bastante transfóbica — e que viver em meio a ataques é "extremamente assustador, angustiante" —, ela lembra que há redes de apoio para oferecer acolhimento e informação. "Isso que é importante: que ninguém passe por esse processo sozinho. O que eu falo para essas famílias que estão começando a viver isso é, vocês não estão sozinhos. Busquem rede de apoio, grupos entre pares porque quando a gente se une a gente se fortalece", finaliza a ativista.

Para Milena e Carize, o conselho de Thamirys fez todo sentido. "Não precisa ter medo de ser você. Eu sei que às vezes pode ter medo de ser quem você quer, mas é bom ser você. Claro que vai ter luta, vai ter brigas, intrigas, mas vale a pena. Olha onde eu estou agora", conclui Milena.

Fonte: Portal Terra
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