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Com apenas 14 anos, jovem com baixa visão conquista palcos brasileiros com rimas sobre ideologia e inclusão

Natural de Curitiba, Paraná, Valentina Cardoso é considerada a estreante revelação na cena nacional da Batalha de Rimas

22 ago 2025 - 03h59
(atualizado às 11h10)
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Resumo
Aos 14 anos e com baixa visão, Valentina Cardoso, ou "Valle MC", desponta como destaque nacional nas Batalhas de Rimas, abordando inclusão e questões sociais e inspirando fãs com sua trajetória de superação e talento no hip hop.
Com apenas 14 anos, jovem com baixa visão conquista palcos brasileiros com rimas sobre ideologia e inclusão
Com apenas 14 anos, jovem com baixa visão conquista palcos brasileiros com rimas sobre ideologia e inclusão
Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal/Afonso Photo

Em meio às batidas de trap, levemente abafadas pelo grito do público, dois oponentes se enfrentam em um octógono digno das grandes lutas de MMA. No entanto, aqui a disputa não é ditada pelos punhos. Nas Batalhas de Rimas — originárias do movimento da arte de rua contemporânea —, o duelista vence pela inteligência, dando ao oponente uma verdadeira “surra” com palavras e frases rápidas. Quem está no palco não é Valentina Cardoso Kauf, mas ‘Valle MC’, uma gigante na modalidade.

A artista de apenas 14 anos começou pequena, nas ruas de Curitiba, no Paraná, e hoje, já conquista os principais ringues da cena nacional. Em entrevista ao Terra, ela conta que sempre foi apaixonada por música, de modo geral, mas que se encontrou no gênero que surgiu nos anos 1970 nos bairros de Nova Iorque, Estados Unidos

“Eu gostava muito de fazer paródias musicais e também gostava muito de rimar mesmo, em cima de beats (batidas, em inglês). Eu pegava as batidas na internet e rimava. Só que não sabia que existiam batalhas de rimas. Sabia que existia o hip hop, o rap, mas não sabia sobre as batalhas”, conta. 

O responsável por apresentá-la a esse mundo foi um primo mais novo, em 2023. Em um celular, ele mostrou para Valle um vídeo de uma batalha e ela imediatamente se encantou pela modalidade. “Ele apresentou um vídeo do MC Xamuel. Quando o vi, eu me interessei imediatamente. E aí, comecei a querer acompanhar, a gostar e a assistir todos os dias”, diz. 

O vídeo em questão mostra Xamuel na edição de 7 anos da Batalha da Aldeia (BDA), uma das maiores do país. O trecho “Ei, alguém conseguiu entender”, que introduz a rima responsável pela vitória do rapper no festival, viralizou nas redes sociais e consolidou a carreira do rapaz.

Cerca de dois anos depois, Valle ocupou o mesmo palco representando seu estado e foi considerada a “Melhor Estreante” da edição, que aconteceu em julho deste ano. O que torna o destaque ainda mais impactante é que Valle tem hipoplasia do nervo óptico (HNO)

A condição congênita causa a atrofia do nervo óptico, afetando a transmissão de informações visuais do olho para o cérebro e causando, principalmente, baixa visão. Em um ato simbólico no BDA, a rapper guiou WM e Xamuel, que estavam de olhos vendados. De acordo com eles, ela é o “futuro” do gênero. 

 Em um ato simbólico no BDA, a rapper guiou WM e Xamuel, que estavam de olhos vendados
Em um ato simbólico no BDA, a rapper guiou WM e Xamuel, que estavam de olhos vendados
Foto: Reprodução/Instagram

O reconhecimento é fruto de um esforço árduo e muita coragem nas batalhas, mas ela conta que nem sempre foi assim. Quando passou a se interessar pelo rap, levou algum tempo para desenvolver confiança suficiente para enfrentar alguém nas rimas. 

“Comecei treinando no meu quarto. Na época, eu não sabia que existiam batalhas de rimas em Curitiba porque as que eu via eram em São Paulo. Até que a minha prima mais velha me apresentou uma batalha aqui”, conta. 

A extinta “Batalha do Museu” foi a primeira que Valle enfrentou, no entanto, perdeu na etapa final. A partir daí, foram muitas perdas e vitórias. “O hip hop me ajudou a amadurecer, aprender a lidar com perdas. Sempre fui uma pessoa muito competitiva. Seja em jogos, seja em qualquer coisa. E às vezes eu não sabia levar as coisas na esportiva”, refletiu. 

“Na primeira batalha que perdi eu não chorei nem nada assim, mas já houve batalhas em que perdi e que chorei. Eu perdi em batalhas seletivas, para coisas importantes principalmente”, revela. 

Para Valle, subir no palco sempre vem acompanhado daquele “friozinho na barriga” e compara a atuação de um rapper com a de qualquer artista. “Mesmo se tiver cinco pessoas me olhando, vou ficar com frio na barriga. Inclusive, essa é a graça do hip hop. De uma coisa que você nasceu pra fazer, que você ama fazer, porque é uma coisa que você sente. Um sentimento que é meio inexplicável, como adrenalina”, reflete, sem esconder o sorriso no rosto. 

“Na hora de rimar, você não sente mais nada. O que você sente é a vontade de rimar e de conseguir ganhar do outro MC. Normalmente, eu saio com a mão suando, gelada da batalha (risos)”, diz. 

"Pessoas com deficiência sempre são capazes"

De acordo com Valle, consegue enxergar somente de pertinho, mas que o tema não é tabu. Nas redes sociais, onde tem quase 330 mil seguidores, ela aborda o assunto com naturalidade e responde a quem tem dúvidas. 

“Recebo muitas mensagens de pessoas com deficiência, o que já acho muito legal porque elas se inspiram em mim. [Nas mensagens, elas dizem] que eu represento, que trago representatividade para o hip hop. De meninas mais jovens também”, diz. 

Ela narrou um episódio em que um fã ligou para ela no Instagram e ela atendeu. Depois da ligação, a mãe dele também conversou com Valle e disse que ele era autista e que o hip hop estava o ajudando a socializar. “Eu me identifiquei porque apesar de não ter espectro autista, também tinha muita dificuldade para socializar. Desde pequena, sempre fui muito tímida e a música me ajudou a evoluir nisso”, compartilhou.  

Questionada se a condição era alvo de ataques no ringue, ela negou e disse que este era um dos destaques que a fazia gostar tanto das batalhas. “Ninguém ali me olhou como anormal ou como diferente. Os MCs da minha cidade mesmo, na primeira batalha que colei, ninguém falou da minha deficiência e era algo que eu esperava que ia ser falada, mas não foi falado”, diz. 

O assunto também é abordado nas rimas. De acordo com ela, gosta de falar sobre pautas sociais, questões políticas, inclusão e capacitismo. “Mesmo eu sendo muito nova, sempre gostei de estudar sobre isso”, destaca. 

“Essa é a mensagem que eu quero passar também, que as pessoas com deficiência são sempre capazes, que conseguem transmitir [essa temática], e acho que estou conseguindo transmitir isso muito bem”, disse Valle. 

Lidando com as críticas 

“Quando fui na minha primeira grande batalha, deu aquela explosão [de seguidores] e eu comecei a ganhar seguidores. E aí, tinham comentários bons, mas também comentários ruins. Eu não acreditava nos bons e focava mais nos ruins. [...] É muito difícil ver várias opiniões de várias pessoas falando coisas sobre você, seja da sua aparência física ou sobre o seu trabalho. Críticas que normalmente não são construtivas, principalmente vindas da internet”, contou Valle. 

Ela conta que o apoio dos pais a ajudou a lidar com o sucesso que vem conquistando. Entre os comentários, o que ela afirma não gostar é a “pena vinda das pessoas”. “Uma pena desnecessária, de pessoas que não sabem, não conhecem a minha história”, diz. 

Valle orienta aos fãs e a quem deseja fazer o mesmo que ela a serem focados naquilo que querem, independente da opinião das pessoas. “Criticar vai ter vários, mas poucos vão fazer o que você faz”, afirma. 

Fonte: Redação Terra
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