Avaliação: BYD Shark PHEV mostra que é possível fazer picape de modo diferente
Rodamos durante 10 dias com o BYD Shark, que tem um sistema híbrido plug-in de três motores, 437 cv e proposta disruptiva. Mas vale a pena?
É um erro achar que o BYD Shark busca clientes que usam um Toyota Hilux ou um Ford Ranger para o trabalho. Não. A proposta da picape Shark é buscar clientes da Hilux, da Ranger e de outras caminhonetes tradicionais que se cansaram de fazer viagens com uma chaminé de CO2. E também do pula-pula das picapes tradicionais, que tanto sacrificam os passageiros de trás.
Esse público existe e é ele que a BYD quer atingir com o Shark (tubarão, em inglês), que se diferencia não apenas pelo sistema híbrido plug-in de três motores (sendo dois elétricos), mas também pela suspensão, que é independente nas quatro rodas, com braços sobrepostos, com rodagem mais próxima de um SUV do que de uma caminhonete.
Tanto é assim que os novos Ford Ranger e Chevrolet S10 se destacam principalmente por reduzir os solavancos da carroceria sobre chassi. Não é que o BYD Shark rode exatamente como um SUV moderno, mas ele se aproxima. E, graças à combinação dos três motores, entrega mais do que o dobro de potência das picapes médias-grandes a diesel.
São 437 cavalos de potência combinada e exuberantes 637 Nm de torque. Isso dá ao Shark um desempenho só encontrado nas picapes full size, na faixa de meio milhão de reais. Vai de 0 a 100 km/h em 5,7 segundos e chega a 160 km/h de velocidade máxima. Para dar uma ideia, o Toyota Hilux 2.8 Turbo Diesel leva 12 segundos para chegar a 100 km/h.
Mesmo o Ford Ranger, que tem motor 3.0 V6, demora 9,2 segundos para ir de 0 a 100. O desempenho fenomenal do BYD Shark é resultado da combinação do motor 1.5 turbo a gasolina de 183 cv, do motor elétrico dianteiro de 231 cv (170 kW) e do motor elétrico traseiro de 204 cv (150 kW). O torque, respectivamente, é de 260, 310 e 340 Nm. A transmissão é automática.
O BYD Shark não é barato e isso pode espantar clientes muito racionais. Custa R$ 379.800, enquanto o Toyota Hilux topo de linha sai por R$ 346.290. Além disso, a picape Shark é uma novidade, carrega apenas 790 kg de carga (1.200 litros) e a Hilux, com décadas de credibilidade com sua propulsão a diesel, carrega 1.000 kg (e 1.000 litros de volume).
Em compensação, a caminhonete chinesa (fabricada no México) é capaz de rodar até 100 km no modo elétrico (EV), sem emitir um único grama de CO2 na atmosfera, seja na cidade ou na paz da fazenda, enquanto a barulhenta Hilux – e todas as outras picapes da categoria – emite até 199 g de gás carbônico a cada km rodado, fazendo jus que as chamemos de chaminés de CO2.
Ou seja: nos 100 km que o Shark roda sem emitir CO2, uma picape a diesel pode emitir até 20 kg de CO2 na atmosfera – uma das causas do aquecimento global. E mesmo usando a picape chinesa no modo híbrido (HEV), a emissão de CO2 é de apenas 46 g/km. É possível ajustar no console e ver no painel digital o modo de condução.
A única versão do BYD Skark à venda no Brasil é a GS, que vem equipada com seis airbags, tração integral sob demanda (graças ao motor elétrico traseiro), painel digital de 10,25 polegadas, Head-Up Display de 12 polegadas, multimídia com tela giratória de 12,8 polegadas, conexão Android Auto/Apple CarPlay, visão 360 graus, câmera 180 graus no shubchassi e até uma função karaokê, além de itens do sistema Adas.
Produzido na plataforma DMO (Duo Mode com design Ocean), o BYD Shark é chamado de “super híbrido” pelo fabricante, pois conta com uma bateria de alta tensão de 29,6 kWh de capacidade. A potência de carregamento é de 55 kW em DC (rápido) e 6,6 kW em AC (lento). Basta ter um carregador instalado em casa ou na fazenda para rodar 840 km sem precisar abastecer.
Mesmo sem carregador no destino, é possível rodar sem zerar a bateria elétrica. Isso porque o próprio distema DM da BYD se encarrega de dar carga para a bateria quando ela baixa de 20%.
A posição de dirigir é excelente, o volante tem ótima empunhadura, há 10 porta-objetos na cabine dupla, carregamento de celular sem fio e/ou com cabos (entradas USB A e C) e muito espaço interno.
O BYD Shark é enorme. Tem 5,457 m de comprimento, 1,971 m de largura, 1,925 m de altura e 3,260 m de distância entre eixos. A caçamba, além de grande, tem um acessório embutido para facilitar o acesso. Além de imponente, a picape é bastante pesada, com 2.710 kg (mas com ótima relação peso/potência de 6,2 kg/cv). As retomadas de velocidade são muito rápidas.
Claro que o peso acaba influenciando no consumo. Segundo o PBEV do Inmetro, o Shark faz 9,5 km/l de gasolina na cidade e 7,7 km/l na estrada. Não é nada brilhante. O PBEV indica ainda que o consumo elétrico equivale a 24,6 km/l no ciclo urbano e 19,9 km/l no ciclo rodoviário (mas, na verdade, só consome energia elétrica).
Os pneus são 265/65 R18, inclusive no estepe. A picape tem 210 mm de vão livre do solo, mas não é muito boa em manobras. O diâmetro de giro enorme, de 13,4 m (contra 12,4 m da Hilux), exige marcha-à-ré em estacionamentos com curvas fechadas de 180 graus.
O comportamento dinâmico é bom, por se tratar de uma picape. Para quem usa uma picape média-grande para viagens com a família, o Shark certamente vai surpreender favoravelmente. O curso dos amortecedores é longo, mas há pancadas secas em pisos muito irregulares, como observamos durante a avaliação.
Visualmente, o Skark não chega a ser um carro muito bonito, por ter linhas bem quadradas, básicas. Mas traz elementos que impactam visualmente, como o enorme logotipo “BYD” na grade e um jogo de luzes dianteiras que lembram um pouco o Ford F-150 Lightning (elétrico). Na traseira, as lanternas de LED formam um “E”. As rodas parecem pequenas para o porte da caminhonete.
A pergunta que muitos fazem é: vale a pena comprar? Depende. Para uso em trabalho, não, pois as picapes tradicionais a diesel, além de serem mais baratas, ainda são mais práticas. Mas para uso em viagens com a família vale a pena, sim. Por todas as características que verificamos nesses 10 dias e, principalmente, pelo impacto positivo na emissão de CO2 e no nível de ruídos.