Wonder Boy: Asha in Monster World é uma jornada clássica com nova roupagem
Jogo é remake de Monster World IV, um tesouro esquecido do Mega Drive
A série Wonder Boy nasceu nos anos 1980 como um típico jogo de ação e plataforma dos arcades, mas foi com sua evolução para o universo de Monster World que a franquia encontrou sua identidade definitiva. Ao incorporar elementos de RPG - como barra de vida, sistema de equipamentos, dinheiro, NPCs e mapas mais abertos à exploração - a saga passou a oferecer uma experiência mais rica e duradoura, ganhando reconhecimento entre os jogadores da época.
No Brasil, essa trajetória ganhou um toque especial. Graças à Tectoy, muitos jogadores conheceram a série através de versões localizadas com os personagens da Turma da Mônica, de Mauricio de Sousa. Foi assim que Wonder Boy in Monster Land virou Mônica no Castelo do Dragão, The Dragon’s Trap se transformou em Turma da Mônica em O Resgate, e Wonder Boy in Monster World chegou como Turma da Mônica na Terra dos Monstros. Essas adaptações, lançadas para Master System e Mega Drive, deixaram uma marca afetiva profunda em toda uma geração de brasileiros - eu incluído.
Dito isso, vale relembrar de Monster World IV, lançado exclusivamente no Japão em 1994 para Mega Drive. Com uma protagonista feminina, estilo visual marcante e gameplay descontraído, o jogo acabou se tornando uma espécie de “joia perdida” do console, reverenciado por fãs e colecionadores.
E foi justamente esse clássico que inspirou o remake Wonder Boy: Asha in Monster World, lançado originalmente em 2021 para Nintendo Switch, PlayStation 4 e PC. Mais recentemente, a aventura de Asha também chegou aos consoles da nova geração, como PlayStation 5 e Xbox Series - e é sobre essa versão renovada que falaremos a seguir.
Um clássico 16 bits
A série Wonder Boy me traz muitas boas lembranças e nostalgia, pois joguei vários deles no Mega Drive, incluindo o belíssimo Monster World IV, um jogo que, infelizmente, permaneceu por anos desconhecido por boa parte do público ocidental - até ganhar nova vida com um remake digno de sua herança.
E esse relançamento não poderia ser mais simbólico: desenvolvido com a colaboração da equipe original, incluindo Ryuichi Nishizawa, criador da série original, Wonder Boy: Asha in Monster World preserva fielmente a essência do clássico de 1994. Ao mesmo tempo em que atualiza os visuais com gráficos coloridos em 2.5D e suaviza a jogabilidade com pequenos ajustes modernos, o jogo mantém intacto seu espírito encantador e nostálgico.
No centro da aventura está Asha, uma jovem guerreira determinada a libertar espíritos elementais aprisionados e restaurar a harmonia em seu mundo. Ambientado em cenários que evocam contos das Mil e Uma Noites, o jogo apresenta ambientes vibrantes, cheios de templos enigmáticos, criaturas mágicas e paisagens inspiradas na estética árabe.
Durante sua jornada, Asha conta com a ajuda de Pepelogoo, uma simpática criatura voadora que desempenha papel essencial na jogabilidade. Com suas habilidades, é possível planar por curtos períodos, alcançar plataformas distantes e interagir com mecanismos do cenário, adicionando uma camada estratégica à exploração e aos desafios do game.
Mesmo jogo, estética nova
Embora se trate de um remake, Wonder Boy: Asha in Monster World opta por uma abordagem bastante fiel ao material original. A estrutura do jogo, seu ritmo, a disposição das fases, os inimigos e até os chefes seguem praticamente à risca o clássico Monster World IV de 1994. Inclusive, algumas das limitações e escolhas de design da época foram preservadas, o que pode soar nostálgico para uns e datado para outros.
A mudança mais perceptível está na parte visual. A pixel art do Mega Drive deu lugar a um novo estilo visual em cel-shading, que transforma a estética do jogo em algo mais próximo de um anime colorido e vibrante. Os personagens ganharam animações mais suaves e expressivas, e o mundo ao redor foi reconstruído com cenários mais dinâmicos e cheios de vida - mantendo, no entanto, a simplicidade que define a identidade da série.
Um trabalho igualmente cuidadoso foi feito com a trilha sonora. A música de Wonder Boy: Asha in Monster World é melódica, agradável e acompanha perfeitamente a aventura de Asha com influências árabes, trazendo um remix das músicas originais. Os efeitos sonoros acompanham bem a ação, enquanto a inclusão de vozes em japonês nas cutscenes adiciona charme e personalidade às sequências narrativas.
O resultado é uma releitura que respeita suas raízes, atualiza a apresentação audiovisual e oferece uma nova camada de imersão, sem comprometer o que fez do jogo uma pérola cult entre os fãs de retro games.
Simples e divertido
No que diz respeito à jogabilidade, o game permanece fiel às bases estabelecidas em 1994. A estrutura é simples e clássica: você saltará entre plataformas, enfrentará armadilhas traiçoeiras, e ocasionalmente sofrerá dano em situações frustrantes, típicas dos jogos da época. As ações de Asha são limitadas, refletindo o design original, o que pode parecer restritivo em comparação a títulos mais modernos - mas isso também contribui para o charme retrô da experiência.
Asha conta com um conjunto de movimentos básicos: pulo, ataque com espada (no chão ou no ar) e defesa com escudo. A mecânica ganha uma camada adicional graças ao seu companheiro mágico, o simpático Pepelogoo. Essa criatura não apenas acompanha a protagonista como amplia suas possibilidades: ela pode planar ao ser segurada no ar, rebater fontes de fogo, e até realizar acrobacias que ajudam a alcançar locais mais distantes. Quando lançado, Pepelogoo também serve para coletar itens à distância, apagar chamas ou ativar mecanismos.
O sistema de saúde de Asha é dividido em duas barras. Os corações vermelhos representam a vida principal e podem ser expandidos ao encontrar braceletes mágicos. Já os corações azuis são obtidos ao coletar fragmentos especiais espalhados pelos cenários. A recuperação de energia pode ser feita ao derrotar inimigos, que ocasionalmente deixam corações, ou através da compra de poções em lojas e máquinas automáticas.
Apesar da simplicidade, o jogo mantém um ritmo envolvente, e o companheirismo entre Asha e Pepelogoo adiciona personalidade e uma dinâmica interessante à progressão da aventura.
Apesar de ser fiel ao jogo original, Wonder Boy: Asha in Monster World implementa algumas melhorias pontuais que tornam a experiência mais confortável para o jogador moderno. Os controles foram suavizados, o inventário agora permite carregar mais elixires - o que facilita a sobrevivência - e o principal destaque fica por conta da possibilidade de salvar o progresso em qualquer lugar (exceto nas batalhas contra chefes). Esse recurso, em especial, é extremamente bem-vindo, sobretudo na reta final do jogo, onde a dificuldade dá um salto perceptível.
Por outro lado, por manter uma estrutura quase idêntica ao clássico de 1994, o jogo carrega consigo um design de fases bastante simples, com sequências de plataforma pouco desafiadoras e combates contra inimigos e chefões com padrões de ataque básicos. Para quem esperava uma releitura mais moderna da jogabilidade, esse apego à estrutura original pode soar datado.
Um ponto que realmente decepciona é a ausência de alternância para os gráficos originais em pixel art, recurso que foi um grande diferencial no remake Wonder Boy: The Dragon's Trap (2017) ou Alex Kidd In Miracle World DX (2021). Essa opção teria sido uma bela homenagem visual ao legado da série e sua ausência parece uma oportunidade perdida, especialmente para os fãs mais nostálgicos. Ao menos é possível ouvir as músicas originais, por meio de um código.
Em termos de duração, a aventura é relativamente curta: entre 4 e 5 horas para ser concluída, o que reforça a ideia de que o jogo talvez não valha o preço cheio. Para quem não tem pressa, aguardar uma promoção pode ser a melhor escolha. Por fim, vale destacar que os textos e menus estão disponíveis apenas em inglês - mas a simplicidade da história e dos diálogos torna fácil o entendimento, mesmo sem localização em português.
Considerações
Wonder Boy: Asha in Monster World é uma releitura respeitosa de um clássico cult do Mega Drive, que não busca reinventar a fórmula, mas sim celebrar a obra original com carinho. Com visuais renovados em estilo cel-shading, uma trilha sonora remixada e ajustes sutis na jogabilidade, o remake traz de volta o charme de Monster World IV, um título que, por muito tempo, permaneceu pouco conhecido fora do Japão. É uma experiência que deve agradar especialmente aos apaixonados por jogos retrô, em especial aos que guardam boas memórias da era 16 bits da Sega.
Wonder Boy: Asha in Monster World está disponível para PC, PlayStation 5, PlayStation 4, Switch e Xbox Series X|S.
Esta análise foi feita no PlayStation 5, com uma cópia gentilmente cedida pela Bliss Brain.