Wladimir sente falta de Sócrates e reclama de racismo
Em entrevista exclusiva ao Paradinha Esportiva, jogador diz que preconceito explica ausência de negros em cargos de gestão no futebol
Wladimir completou 65 anos em agosto. Antes de começar a entrevista, ele tinha acabado de finalizar uma corrida no condomínio onde mora, na Grande São Paulo. “Não consigo ficar parado. Tenho que sempre estar fazendo alguma coisa”, comentou o ex-lateral esquerdo, que continua batendo uma bolinha semanalmente, quando tem jogo do Masters do Corinthians. “Quando tem oportunidade, a gente vai. No Masters, particularmente, ainda não perdi”, garante.
Em meio a troféus e lembranças na casa onde na década de 80 rolavam os churrascos da Democracia Corinthiana, em dias que seriam de concentração (abolida pelo movimento), três miniaturas do Dr. Sócrates chamam a atenção. E Wladimir não esconde a emoção ao relembrar do craque, que morreu em 2011, e teria a mesma idade que ele se estivesse vivo. “O Sócrates faz falta, o Sócrates foi genial como pessoa, como cidadão e como ser humano, foi genial. Eu conheci pouquíssimas pessoas como ele assim. A gente tinha uma afinidade legal, foi uma experiência única ter conhecido o Sócrates, que tinha uma capacidade intelectual diferenciada.”
Wladimir também falou sobre racismo, o estrutural, que faz com que jogadores negros, que são maioria no futebol, não sejam escolhidos para gerenciar clubes quando encerram a carreira. No Brasileirão, por exemplo, só há dois treinadores: Marcão, do Fluminense, e Roger, do Bahia. “Com toda a história que vários, vários jogadores tiveram nos seus clubes a gente vê poucos como essa oportunidade de intervir no futebol. Isso é consequência do preconceito que a gente vive no país até hoje.”
O lateral, que tem 806 jogos pelo Timão, também citou casou em que foi envolvido diretamente. “Eu fui vítima de racismo como jogador. Na região Sul do país existe poucos negros lá e a maneira que eles achavam de nos agredir e de nos ofender era chamar de negro. Só podia ser negro mesmo, eles diziam isso durante os jogos. Isso tá arraigado na sociedade brasileira, tem a ver com a forma como o negro chegou no Brasil, como subalterno, aquela subserviência”, ressaltou Wladimir.
Para o ídolo corintiano, só o conflito poderia mudar essa situação. “Os crimes de racismo não são combatidos como deveriam. As pessoas estão à vontade pra se expor. A gente espera que um dia chegue no nível dos negros norte-americanos, que tiveram uma luta árdua contra o preconceito e acabaram nivelando as etnias. Essa situação só se reverte quando há conflito. Conflito rigoroso aí sim você consegue equilibrar.”
Wladimir terminou a entrevista dizendo que deixou o futebol com a sensação do dever cumprido. “Tive um período maravilhoso no Corinthians. Se tivesse encerrado, sem ter vivido isso eu estaria frustrado. A gente cumpriu a missão. Eu viveria tudo de novo se tivesse que recomeçar eu faria tudo de novo.”
Veja abaixo na íntegra a segunda parte da entrevista que Wladimir concedeu para a Paradinha Esportiva com exclusividade: