Projeto busca recursos para 'reviver' história das mulheres no futebol brasileiro
Museu do Futebol de São Paulo pretende celebrar os 100 anos da modalidade feminina no Brasil com um audioguia
O futebol feminino foi proibido por quase 40 anos no Brasil. Essa restrição, feita por um decreto-lei nacional do então presidente Getúlio Vargas, em 1941, além de fazer com que o desenvolvimento da modalidade fosse interrompido, fez com que as histórias de diversas jogadoras se perdessem no tempo. Com o objetivo de reverter essa realidade e resgatar momentos apagados da modalidade, o Museu do Futebol está em busca de recursos para lançar o projeto Minha voz faz História, que pretende celebrar os 100 anos do futebol feminino no País.
"Essa é uma oportunidade de devolver aos brasileiros e brasileiras uma parte considerável de suas histórias. Por vezes, naturalizamos a ideia de que as mulheres não participaram da história, não foram protagonistas, não viveram episódios e isso não é uma verdade", avalia Aira Bonfim, pesquisadora do Futebol Feminino.
O projeto consiste na criação de um audioguia que narrará a história de mulheres pioneiras no futebol, como a da primeira-dama Jandira Café, companheira de João Café Filho, que assumiu à presidência do Brasil após Getúlio Vargas cometer suicídio. Ela vestiu a camisa do Centro Sportivo Natalense, em 1920.
"Essa construção nos permite narrar a história de mulheres de 100, 80 e 60 anos atrás. Todas elas presentes de norte a sul e leste a oeste do país. Mulheres da elite carioca, mulheres nordestinas, mulheres pretas e suburbanas. Todas elas relacionadas a um dos eventos mais importantes do nosso País, que é a identificação do brasileiro e da brasileira com o futebol", afirma Aira.
Mas para que a proposta saia do papel, o Museu precisa captar R$ 80.600,00 até o dia 20 de dezembro. Isso porque o projeto recebe apoio do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e essa meta de arrecadação é uma contrapartida para que o financiamento bancário seja realizado. A cada R$ 1 doado, o banco dobra o valor. "Já temos 125 doadores e quase 50% dos recursos arrecadados", afirma Renata Motta, diretora do Museu do Futebol.
"A diversidade no futebol é um aspecto importante para o Museu. Desde 2015, temos acompanhado os movimentos da sociedade em relação ao futebol feminino e integrado cada vez mais o tema às posições. Foi nesse contexto que lançamos o projeto Minha voz faz História", acrescenta a diretora.
O Museu do Futebol servirá de acervo para que essas histórias sejam registradas e se tornem acessíveis. Aliás, a acessibilidade é uma das palavras-chave desse projeto. "Queremos que as trajetórias dessas mulheres no futebol sejam escutadas em outras plataformas de forma independente. Além de ampliar a visibilidade do futebol feminino, queremos fortalecer a modalidade como experiência esportiva, cultural rica e diversa. Não há um único futebol, mas vários futebóis", avalia Renata.
PELO MUNDO
O primeiro registro de jogo de futebol com mulheres vêm da Inglaterra, berço da versão masculina também. É datado de 1898, em Londres. Trata-se de partida entre a seleção local contra seu par da Escócia. No Brasil, entre os anos de 1908 e 1909, há registros de partidas mistas, com homens e mulheres. O blog Futebol Interativo, que aborda o assunto, informa que o primeiro jogo de futebol feminino no Brasil foi realizado em 1921, na zona leste de São Paulo, entre as senhoritas dos bairros Tremembé e Cantareira (hoje Santana).
A primeira Copa do Mundo foi realizada em 1991, na China. Na edição, o Brasil ficou em nono lugar. Nos Jogos Olímpicos, o futebol feminino estreou em 1996, em Atlanta.