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Crianças atletas precisam de acompanhamento para não se tornarem adultos com comportamentos autodestrutivos, alerta psicogenalogista

Roberta Calderini atenta que alto grau de treinamento, pressão por resultados e responsabilidades podem prejudicar a criança e trazer consequências comportamentais e afetivas na vida adulta

18 ago 2022 - 11h38
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Não é novidade que muitos atletas começam os treinos para se tornarem esportivos de alto rendimento ainda na infância. Como exemplo disso, Neymar, Flávia Saraiva e Rayssa Leal já exibem e treinam seus talentos desde muito jovens. Entretanto, a pressão e a responsabilidade dessa profissão, ainda jovem, levantam a discussão sobre o qual saudável é ser um atleta mirim e como isso pode impactar a vida adulta.

Deve haver equilíbrio entre competição e diversão (Foto: Istock Free)
Deve haver equilíbrio entre competição e diversão (Foto: Istock Free)
Foto: Lance!

Roberta Calderini é psicogenealogista e estuda como os acontecimentos dos primeiros anos de vida podem influenciar no comportamento de um indivíduo. Ela pontua que, durante a infância, a responsabilidade deve ser introduzida aos poucos, assim como os momentos de prazer devem estar presentes na rotina - o que pode não acontecer com as crianças atletas, que precisam abdicar de tempo com os amigos, com a família e para o lazer em função das competições.

"Toda criança que recebe responsabilidade cedo demais vai ter impactos no futuro. Na infância, a criança precisa dos momentos de prazer, de brincar e de se divertir sem muitas pressões. Essa responsabilidade deve ser introduzida aos poucos. Quando bebês, os pais são inteiramente responsáveis. Depois, eles começam a ser responsáveis pelos brinquedos, pelo prato de comida que colocam na mesa para ele, posteriormente pelos estudos, pelo relacionamento com os amigos. Na adolescência, começam a ser responsáveis pela construção de um caminho para carreira, até que chegam à fase adulta e são donos de si. Há uma adição lenta de tarefas", explica.

Entretanto, com treinos, competições e exigência de performances, pode facilmente se traduzir em um excesso de responsabilização ainda na infância. No futuro, esse atleta que não teve tempo para ser criança buscará suprir esse sentimento de ausência infantil.

"Isso cria adultos com uma tendência a buscar pelo prazer em excesso, pelo direito de cometer irresponsabilidade e curtir a vida, aquela liberdade que não teve na infância. É comum, por exemplo, que eles busquem substâncias psicoativas, porque há ali uma criança que precisava sentir prazer, mas teve muitas responsabilidades muito cedo, e agora busca esse prazer de forma irresponsável. Um efeito rebote", explica.

Esporte de forma saudável

Desta forma, o esporte na vida das crianças atletas deve ser introduzido de maneira mais leve, como uma brincadeira ou um hobbie, mesmo que, no final, ela vá competir. "A criança deve enxergar isso como algo divertido e não como uma pressão. Não deve ser um trabalho para ela, algo que, ela precise vencer, ser perfeita, ou estar sempre no pódio. O papel dos pais em amortecer essa pressão é fundamental", alerta.

Nesse ponto, ela destaca que existem pais que procuram se realizar no esporte por meio dos filhos e que isso pode ser perigoso, justamente, porque há uma cobrança maior em relação aos resultados e às expectativas.

"A dor e frustração de perder é duplicada neste caso, porque a criança irá projetar derrotas ou falhas como algo que desaponta os pais e a partir disso, sentimentos como frustração, insegurança e medo surgem", pontua.

Da mesma forma, lidar com a pressão deve ser algo ensinado da maneira mais natural e simples possível.

"O atleta se acostuma a viver sob uma adrenalina constante e vai desenvolvendo uma frieza com relação à pressão. No caso dos atletas mirins, esse entendimento deve ser construído aos poucos, fazendo a transição de uma atividade que ela gosta de praticar, para algo que ela deve entregar o melhor dela e, consequentemente, poder trazer medalhas e títulos. Não deve ser uma responsabilidade de ganhar, deve ser uma consequência de um esforço" pontua.

O acompanhamento psicológico deve ser feito desde cedo com esses atletas, para que eles tenham uma base sólida e um amadurecimento emocional saudável.

"Desta forma, a criança vai aprendendo a como se blindar e equilibrar o lado emocional, sendo menos suscetível à excessos na vida adulta ou mesmo ao adoecimento psicológico que pode em algum momento, até mesmo impedir a essa pessoa de competir, como vimos recentemente no caso de atletas como Simone Biles e Gabriel Medina", destaca.

Lance!
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