Vendas do comércio varejista sobem 0,8% em março
Resultado ficou abaixo da mediana das estimativas dos analistas; em 12 meses, varejo acumulou alta de 3,1%, segundo dados do IBGE
RIO - O comércio varejista brasileiro registrou um crescimento de 0,8% em março ante fevereiro, o terceiro mês seguido de expansão, segundo os dados da Pesquisa Mensal do Comércio divulgados nesta quinta-feira, 15, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O volume vendido alcançou assim um novo recorde da série histórica iniciada no ano 2000.
As vendas cresceram 0,9% no primeiro trimestre de 2025 ante o quarto trimestre de 2024, o sétimo trimestre positivo consecutivo. No comércio varejista ampliado - que inclui as atividades de veículos, material de construção e atacado alimentício - houve alta de 1,9% em março ante fevereiro, resultando em uma expansão de 1,8% no primeiro trimestre de 2025 ante o quarto trimestre de 2024.
A gestora de recursos XP Investimentos calcula que os segmentos do varejo sensíveis ao crédito cresceram 0,7% no primeiro trimestre, enquanto o grupo de itens mais sensíveis à renda teve alta de 0,5% no período.
"A trajetória de crescimento do consumo das famílias não será revertida de forma abrupta. Reiteramos nossa visão de que os gastos pessoais com bens irão desacelerar de forma gradual este ano", escreveu o economista Rodolfo Margato, da XP, em relatório, prevendo que a inflação alta e a política monetária contracionista devem pesar contra o consumo, mas que o mercado de trabalho segue robusto, ao mesmo tempo em que medidas do governo devem sustentar a demanda interna do País.
O cenário do primeiro trimestre contou com alguns elementos que impactaram positivamente o comércio, como uma perda de fôlego da inflação e uma expansão do crédito, opinou Cristiano Santos, gerente da pesquisa do IBGE.
"Parte dessa expansão do crédito foi parar no comércio, foi parar no consumo", apontou Santos.
O pesquisador diz que a política monetária restritiva tem uma defasagem até que impacte de fato a concessão de crédito. As sucessivas altas na taxa básica de juros, a Selic, não necessariamente diminuem a tomada de crédito na mesma medida em que aumentam o juro, ele diz.
"Depende muito da dinâmica de mercado de outras variáveis. E o crédito consignado CLT (com garantia do FGTS) acaba entrando na última semana de março, o que acaba ajudando a explicar uma dinâmica um pouquinho maior da expansão do crédito em março", acrescentou Santos.
Como contrapeso negativo no primeiro trimestre, o mercado de trabalho registrou perda de trabalhadores ocupados e estabilidade na massa de rendimento, citou o pesquisador. Ainda assim, o varejo teve uma maior disseminação de atividades no campo positivo.
Seis das oito atividades que integram o comércio varejista registraram crescimento nas vendas em março ante fevereiro: livros e papelaria (28,2%), equipamentos de informática e comunicação (3,0%), outros artigos de uso pessoal e doméstico, que incluem as lojas de departamento (1,5%), artigos farmacêuticos e de perfumaria (1,2%), vestuário e calçados (1,2%) e supermercados (0,4%). Na direção oposta, os recuos ocorreram em móveis e eletrodomésticos (-0,4%) e combustíveis (-2,1%).
No comércio varejista ampliado, veículos registraram expansão de 1,7%, e material de construção subiu 0,6%. O segmento de atacado alimentício não tem as informações divulgadas individualmente, por possuir uma série histórica ainda curta para a metodologia de ajuste sazonal.
"O comércio esse mês, pelo perfil distribuído dos setores, a gente pode falar que ele não foi uma questão pontual. Ele tem um crescimento mais consistente", ressaltou Santos, que viu "potência" no resultado. "A série volta a ter um comportamento menos volátil."
O desempenho do varejo em março reforça a avaliação de que a atividade doméstica segue operando em bom nível, apesar de um cenário mais adverso neste ano, avaliou o economista da Matheus Pizzani, da corretora CM Capital. Para ele, a cesta de consumo das famílias brasileiras está em um momento de "transição", com peso cada vez maior para bens e serviços essenciais do que itens que podem ser considerados supérfluos.
"É algo que vemos acontecendo. É uma característica dessa primeira metade do ano", afirmou Pizzani.
No acumulado em 12 meses, o varejo acumulou alta de 3,1%. No varejo ampliado, as vendas subiram 3,0% no período.