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Saudade do 'cafezinho brasileiro'? Conversa entre Lula e Trump aumenta expectativa por café e carne

Café foi citado na ligação entre os dois presidentes e é visto como item prioritário na lista de urgência; já a carne bovina é tida como produto mais sensível na negociação

7 out 2025 - 13h47
(atualizado às 14h42)
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BRASÍLIA - A primeira conversa entre os presidentes Donald Trump e Luiz Inácio Lula da Silva, na segunda-feira, 6, aumentou a expectativa entre exportadores do agronegócio de ampliar a lista de exceções de produtos brasileiros ao tarifaço de 50%.

A tendência, segundo os exportadores, é de aumento das exceções à sobretaxa de 40% no curto prazo, com a retirada do tarifaço como um todo ficando sujeita a negociações mais amplas, incluindo minerais críticos e etanol. O café é visto como o item número 1 nessa lista de urgência. Carne bovina também está entre os produtos críticos, segundo pessoas ouvidas pelo Estadão/Broadcast.

A ampliação da lista de exceções, entretanto, tende a seguir o interesse dos americanos, observa uma dessas pessoas. "Empresários republicanos e doadores de campanha do Trump estão perdendo dinheiro em virtude do embargo com o Brasil e aumento do imposto de importação. Essa pressão está falando mais alto agora. Mais exceções devem começar a aparecer, principalmente dos setores que estão fazendo lobby em Washington", apontou uma liderança da indústria nacional que exporta aos EUA. Ele acredita em novidades "em breve" quanto à ampliação da lista de produtos isentos à sobretaxa de 40%.

Café, um dos setores mais afetados pelo tarifaço, tende a ser um item prioritário nas negociações
Café, um dos setores mais afetados pelo tarifaço, tende a ser um item prioritário nas negociações
Foto: Daniel Teixeira/Estadão / Estadão

Neste contexto, o café, um dos setores mais afetados pelo tarifaço, tende a ser um item prioritário. Um dos motivos é o fato de o Brasil responder por 34% de tudo que é importado pelos Estados Unidos, que é o maior consumidor mundial da bebida. Outro ponto é a pressão inflacionária. O preço do café no varejo dos Estados Unidos registrou neste ano a maior alta anual desde 1997, de 21% em agosto, lembra um nome do setor exportador.

Um terceiro motivo é o fim dos estoques do grão brasileiro. Processadores americanos relataram a exportadores brasileiros que as reservas das compras antecipadas — embarques aumentaram 17% de janeiro a julho — estão chegando ao fim, devendo durar, no máximo, até o fim deste mês.

De acordo com um interlocutor dos exportadores, bastaria o item ser transferido do Anexo III da ordem de tarifas da Casa Branca para o Anexo II, podendo ser excetuado da alíquota de 40%, sem a necessidade de acordo bilateral. Um representante da indústria exportadora afirma que o café é o primeiro da lista para uma isenção completa. Segundo ele, a avaliação de esferas mais técnicas está concluída, faltando apenas um empurrão político diante de outras prioridades.

A BBC News Brasil revelou que Trump admitiu na ligação com Lula que os Estados Unidos "sentindo falta" de alguns produtos brasileiros afetados pelo tarifaço e teria citado o café. O Estadão/Broadcast confirmou que o café foi citado na ligação. A pressão para retirada do café da lista de sobretaxas é reforçada pela própria indústria americana. A National Coffee Association (NCA) conduz as tratativas com o governo local e já pediu isenção geral à bebida.

Já a carne bovina é um item mais sensível na negociação, mas também com chances de entrar na lista, segundo os interlocutores. De um lado, a retração na produção local, dado que os Estados Unidos estão com menor rebanho em 80 anos, a pressão do aumento da carne bovina sobre a inflação e o encarecimento dos hambúrgueres com alta de 15% no preço da carne moída — o sanduíche é item tradicional da alimentação americana — podem pesar a favor da retirada da proteína vermelha brasileira da sobretaxa de 40%.

O preço do filé chegou a US$ 40 a cada 300 gramas, o que já afeta a classe média, apontou um interlocutor de grande indústria. Os estoques da carne bovina brasileira na indústria devem se estender até meados de novembro, o que demandaria proteína imediata, considerando 40 dias de embarque, segundo uma pessoa ligada ao setor.

Em contrapartida, o aumento nos preços locais da proteína favorece os pecuaristas americanos, a maior parte no Meio-Oeste, reduto eleitoral de Trump. Um nome do setor exportador afirma que Trump terá de calibrar os interesses políticos e os reflexos na economia. Os pecuaristas americanos formam uma base eleitoral significativa, por isso, é mais palatável a exceção ao café do que à carne, segundo essa pessoa. Em uma eventual negociação cara a cara é mais fácil café sair da lista do que a carne, diz.

Em relação à carne bovina, interlocutores do Executivo dizem manter um "otimismo cauteloso", já que os Estados Unidos são um importante player global no segmento. Parte do otimismo persiste ainda da avaliação de que a carne é um produto com canal direto à inflação americana, em meio à redução no plantel local e da necessidade da indústria americana de recorrer ao mercado externo.

No caso da carne bovina, as articulações da indústria brasileira passam pelo Meat Import Council of America (MICA), que representa empresas que importam, processam e vendem carnes importadas nos Estados Unidos. O conselho já pediu formalmente ao governo americano que inclua a proteína brasileira na lista de exceções ao tarifaço.

Interlocutores do governo brasileiro afirmam que há sinalizações por parte do governo americano de "espaço" para ampliar a lista de exceções, sobretudo em itens que podem pressionar a inflação americana — caso dos produtos alimentícios utilizados no café da manhã e na alimentação diária americana. Um integrante do governo que acompanha as tratativas diz acreditar que café, carne e frutas serão as próximas tarifas a cair.

Uma das incertezas é quanto à extensão das exceções, se os Estados Unidos vão excluir os itens de maneira geral a todos os exportadores ou se as exceções serão negociadas diretamente com o Brasil. Uma pessoa a par do assunto vê nova rota traçada pelo governo americano quanto às tarifas, com alíquotas direcionadas a setores específicos e não mais a país por país.

Com o direcionamento da taxação setor a setor, as cadeias internas americanas tendem a se ver mais protegidas pela política tarifária, explica o interlocutor. Ele cita como exemplo a taxação de móveis que favorece a indústria de regiões como Carolina do Norte. Com isso, aponta, Trump ganha politicamente e não precisa ficar discutindo exceções país a país.

O pedido do Brasil, feito por Lula no telefonema com Trump, é pela retirada total da sobretaxa de 40%, devido ao déficit comercial brasileiro na relação bilateral. Um exportador de máquinas agrícolas diz estar otimista com algum acordo entre os países, mas acredita que o tarifaço como um todo deve levar um tempo para desaparecer.

As negociações pela exclusão da sobretaxa de 40% de forma homogênea tendem a ser mais amplas, segundo os interlocutores que acompanham as tratativas, e incluir contrapartidas brasileiras em temas críticos aos Estados Unidos, entre eles, a exploração de terras raras, a regulação de big techs e o acesso do etanol americano ao mercado brasileiro.

Após o gesto inicial entre Trump e Lula e destravamento das negociações, exportadores pressionam o governo por um encontro presencial entre os dois líderes.

Estadão
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