Script = https://s1.trrsf.com/update-1764790511/fe/zaz-ui-t360/_js/transition.min.js
PUBLICIDADE

Queremos levar voz do investidor institucional ao governo na COP-30, diz o presidente da rede PRI

Organização voltada para investimentos responsáveis, apoiada pela ONU, reuniu 1,3 mil profissionais do mercado financeiro de diversos países em São Paulo

12 nov 2025 - 17h02
Compartilhar
Exibir comentários

O PRI in Person, evento anual promovido pelo Principles for Responsible Investment (PRI), uma rede de investidores apoiada pela ONU, reuniu cerca de 1,3 mil profissionais do mercado financeiro de diversos países, em São Paulo (SP), durante três dias na semana passada. Com painéis focados em investimentos climáticos, estandes com cenários de floresta e gastronomia brasileira conquistando o apetite gringo pelos corredores, o evento foi considerado um sucesso por David Atkin, CEO do PRI.

Em entrevista ao Estadão/Broadcast, ele fez um balanço do encontro e falou sobre os planos da rede para a COP-30.

Leia dos principais trechos da entrevista:

Qual sua avaliação do PRI in Person deste ano?

Estou muito feliz. Estive aqui há alguns anos, mas ver o quanto as coisas mudaram no Brasil e as oportunidades que surgiram, é algo que nos deixa muito conscientes de que, de uma perspectiva macro, se o mundo quiser fazer essa transição climática, precisamos que as economias em desenvolvimento e emergentes também a façam. Mas sabemos que, dos US$ 2,1 trilhões investidos na transição energética no ano passado, apenas 15% foram para emergentes. Precisamos de mais capital alocado. E, estando aqui, pude ver que há muitas oportunidades. Há também um governo realmente empenhado em entender o que precisa ser implementado, a estrutura que daria confiança aos investidores. Também estou ciente de que existe muito conservadorismo, e eu diria ignorância, por parte dos investidores de mercados desenvolvidos em relação a investir em emergentes. Nesse contexto, o PRI tem priorizado economias emergentes e em desenvolvimento, e pensamos que não haveria lugar melhor do que o Brasil, com a COP-30 e uma base de signatários realmente vibrante, para contar a história das conexões entre biodiversidade e natureza, clima, e a necessidade de mobilização de capital. Essa foi a ideia e acho que proporcionamos uma experiência realmente impactante e inesquecível. Não foi apenas muito divertido, mas também prático e focado no que investidores podem fazer.

Como quais?

Primeiramente, reconhecemos que não existe uma única maneira de ser um investidor responsável. Depende da região, da estratégia adotada. Por isso, acredito que o lançamento do My PRI e do Pathways, que atendem às necessidades dos nossos signatários e pelos quais fornecemos ferramentas e insights para conteúdo personalizado e um plano de ação para avançar na curva de maturidade, é um grande passo para todos. Acho que demos um passo importante para apoiar nossos signatários no enfrentamento dos riscos sistêmicos, que acredito ser um tema central. Também tivemos o Asset Owner Forum, com a primeira vez que reservamos um espaço exclusivo para proprietários de ativos. Acredito que isso se tornará parte integrante de todas as nossas conferências futuras, pois eles estão no topo da hierarquia de capital e têm responsabilidade fiduciária de pensar nos riscos e oportunidades. Também fornecemos novas orientações sobre como conduzir engajamentos colaborativos e quebrar barreiras de financiamento, mostramos a ação dos investidores em relação ao clima em diversos mercados, e tivemos os relatórios sobre o Estado da Ação Climática dos Investidores e de 'Fluxos de Investimento para a Transição para Emissões Líquidas Zero: Progresso e Necessidades Políticas'. Estamos satisfeitos, mas sabemos que falar é fácil e o importante é agir. Acredito que todos esses fatores ajudarão a catalisar o capital.

Muitos painéis do PRI in Person mencionaram a retaliação ao ESG. Como isso impactou o evento? Americanos ainda participaram?

Claramente tem impacto, porque todo mundo está falando sobre isso. Viajei por 30 mercados nos últimos anos e não houve uma reunião sequer, seja China, Austrália, África do Sul, América Latina, Japão ou Europa, em que não surgisse a pergunta sobre o que é esse movimento anti-ESG. Mas, se você observar a participação aqui na conferência, brasileiros são o maior grupo, como se esperaria, com 25% dos participantes. O segundo maior grupo é dos Estados Unidos, com 22%-23%. Eles estão aqui, engajados e colocando a mão na massa. É verdade que estamos em um novo período de green hushing (silêncio sobre o agenda ambiental). As pessoas não estão se expondo tanto publicamente e estão sendo cuidadosas com a linguagem que usam. Não acho que seja ruim termos que reformular o argumento comercial para o investimento responsável e acho que a estratégia política anti-ESG tem servido para testar a ideia. Será que esse é um tema válido no qual os investidores deveriam se envolver? Então, de certa forma, isso nos obriga a voltar ao básico e perguntar: o que é isso, por que estamos fazendo, qual é o valor? Explicar de uma forma que tenha a ver com negócios, com ganhar dinheiro, ou não perder dinheiro. Claro, existem outros componentes mais negativos. Estamos vendo, por exemplo, nos Estados Unidos, um ataque direto aos direitos dos acionistas. Mas estou muito otimista, mesmo depois de passar por cidades americanas realizando reuniões, pois eles estão simplesmente fazendo o trabalho.

E o saldo do evento em termos de novos signatários?

Certamente expandimos nossa presença aqui no Brasil. Só nos últimos 12 meses, aumentamos de 12 para 20 proprietários de ativos, e também estamos crescendo nossa base de gestores de investimento. Acho que temos cerca de 140 a 150 signatários no total. Acredito que, quanto mais a comunidade de investimentos daqui perceber a relevância de uma organização global como o PRI e como estamos, de certa forma, construindo uma ponte entre o que está acontecendo no Brasil e a comunidade global de investidores, melhor.

Agora o PRI segue para discussões na COP-30?

Planejamos o PRI in Person paralelamente à COP-30 de forma intencional porque queremos usar o poder de convocação do PRI para trazer a voz do investidor institucional ao processo de formulação de políticas. Tivemos interações sem precedentes com governos sobre como atrair financiamento privado para emergentes e vamos dar continuidade. Queremos levar a Belém o tipo de trabalho que desenvolvemos com o governo brasileiro sobre o roteiro político para o País. Aliás, o governo brasileiro investiu bastante para entender o que precisa fazer, quais são os alicerces que precisa implementar para permitir que o capital privado desempenhe um papel mais importante. Eles foram muito criteriosos, e acho que o Brasil desenvolveu um modelo que, à medida que esses alicerces começarem a ser utilizados por investidores, poderá ser usado por outras partes do mundo. E uma das principais mensagens é que precisamos que as NDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas) sejam investíveis. Como criamos sistemas de empréstimo? Como os tornamos tão detalhados a ponto de haver informações suficientes sobre os projetos em andamento, e como vamos compartilhar os riscos e retornos? O capital privado precisa ser incentivado.

O sr. vai deixar o cargo de CEO em breve. Quais foram os destaques da sua gestão e o que gostaria que a próxima CEO priorizasse?

Eu já fazia parte do Conselho do PRI em seus primórdios, mas entrei como CEO em 2020, no auge do ESG. Vi o PRI mais que dobrar de tamanho entre 2019 e 2023, passando de menos de 2,5 mil signatários para mais de 5 mil, de cem países. Navegar pelo PRI e conseguir atender às necessidades de uma base de signatários tão diversa tem sido um verdadeiro desafio. Quando o PRI começou, não havia relatórios sobre investimento responsável, então o nosso foi a primeira coleta voluntária de dados sobre isso. Desde então tivemos outros requisitos e, a partir do próximo ano, os signatários não terão 250 indicadores para responder, mas sim 40. Fizemos nossa própria simplificação, ainda com os mesmos temas, mas o nível de detalhe mudou. Introduzimos caminhos, intensificamos a forma como colaboramos, investimos mais recursos nas regiões e aprimoramos nosso trabalho de políticas públicas, e esses são todos pilares fundamentais da nossa estratégia atual, o que coloca o PRI em uma posição muito forte para sua próxima fase.

Estadão
Compartilhar
TAGS
Publicidade

Conheça nossos produtos

Seu Terra












Publicidade