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Para quem busca emprego depois 50, voltar à sala de aula pode não ser o que parece

Profissionais maduros enfrentam etarismo durante a recolocação, mas uma nova tendência no mercado pode dar ainda mais proveito à experiência

4 out 2025 - 04h59
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Resumo
Profissionais maduros enfrentam desafios no mercado de trabalho devido ao etarismo, mas a requalificação e as "carreiras adjacentes" têm se destacado como alternativas para aproveitamento de experiência e reinvenção profissional após os 50 anos.
O engenheiro Ricardo Jazbik enfrentou duas crises profissionais em menos de um ano, mas o autoconhecimento fez diferença entre as situações
O engenheiro Ricardo Jazbik enfrentou duas crises profissionais em menos de um ano, mas o autoconhecimento fez diferença entre as situações
Foto: Foto: acervo pessoal

Quando o engenheiro Ricardo Jazbik aceitou o convite para trabalhar na empresa do pai de seu melhor amigo, imaginou que aquele emprego seria temporário. O plano traçado junto do colega que ele fizera durante as aulas na PUC-Rio era simples: os dois contribuiriam para a companhia de telecomunicações enquanto juntariam dinheiro para abrir seu próprio negócio. 

Ele se identificou com o serviço e, acompanhado de pessoas queridas, pegou gosto pelo trabalho. Estava satisfeito com a posição, mas não havia se esquecido do projeto inicial. Cerca de dois anos depois, reuniu-se com seu amigo e decidiram tentar a sorte. O patrão, que já tinha se acostumado com o desempenho dos dois, fez uma contraproposta. E a dupla, que não era boba nem nada, aceitou. 

E, assim, Ricardo seguiu na empresa familiar até que uma nova oportunidade surgiu. Novamente, o pedido de permanência do chefe veio acompanhado de aumentos salariais e de crescimento na empresa. E ele, de novo, aceitou. E de novo. E aceitou todas as vezes que a situação se repetiu pelos próximos 22 anos em que ele contribuiu com o negócio, que, a cada dia passava a ser um pouco mais seu.

“Comecei como engenheiro e terminei como diretor executivo”, resume Ricardo. Até que, em 2021, uma tempestade perfeita recaiu sobre a companhia. A pandemia de Covid-19 já havia se espalhado pelo mundo inteiro e dado um choque na economia global. Ao mesmo tempo, uma questão sucessória fez as bases do telecom se abalarem. E, no final daquele ano, os contratos foram rescindidos e os funcionários dispensados. A empresa fechou as portas, junto dos milhões de outros negócios que foram vítimas do novo coronavírus. 

Era a primeira vez, em quase 30 anos, que Ricardo estava desempregado. E o pior: no meio de uma pandemia. A vacância, entretanto, não durou muito tempo: foi ser sócio de uma empreiteira no Maranhão. Até 2023, o negócio fluiu de vento em popa e superou os concorrentes mais competitivos. No ano seguinte, entretanto, a situação mudou de figura.

O primeiro fracasso, mesmo que tarde

Ricardo viu-se diante de uma nova crise. Desta vez, muito menos amparado. Era ele um dos donos desta vez, e estava prestes a ver seu projeto profissional e pessoal ruir devido a uma mudança nos contratos de seu principal fornecedor. A companhia se deparou com um quadro de fechamento iminente, e o desespero e a tensão apossaram-se do engenheiro.

“Foi meu primeiro fracasso profissional. E o pior é que, desta vez, foi no meu próprio negócio. E aí você começa a pensar não só no seu desemprego, mas na família, em todos aqueles que dependem de você”, afirmou o engenheiro, em entrevista ao Terra. 

Diante da crise inescapável, Ricardo começou a buscar emprego e enfrentou dificuldades causadas pelo etarismo - o preconceito contra profissionais maduros, que frequentemente se desalentam por causa do fechamento das portas do mercado. 

Sem sucesso na caça, procurou uma amiga da área de recursos humanos. Ele ouviu seu conselho e se inscreveu nos grupos de mentoria de uma empresa dedicada à recolocação de pessoas 50+.

E quando tudo parecia perdido, os sócios encontraram uma forma de renegociar as dívidas da firma e os contratos de prestação de serviço. A empreiteira ganhou um novo respiro e seguiu atuante por mais um ano. Agora, no final de 2025, as coisas voltaram a se complicar. 

“A coisa está praticamente inviável. Os funcionários já estão de aviso prévio, a empresa está mais à beira do precipício do que estava em 2024”, relata Ricardo. Desta vez, entretanto algo mudou: o profissional diz ter adquirido autocontrole e reganhado a habilidade de fazer planos mesmo perante as situações mais difíceis.

Nunca é tarde para aprender

Segundo ele, o autocontrole e a paciência adquiridos nas mentorias têm garantido a ele noites de sono tranquilas, apesar da situação crítica do empreendimento. E, desta vez, ele está em paz. Ao Terra, o engenheiro afirmou que está tranquilo porque vislumbra um tipo de carreira que só se apresenta a quem tem experiência e pode ensinar os mais jovens como fazer. Ele decidiu ser professor. 

Segundo o consultor de RH e psicólogo Roberto Ziemer, a docência e a consultoria são possibilidades para profissionais maduros à medida que o mercado, de fato, não pode pedir conselhos para os jovens. Afinal, só quem tem experiência pode guiar. 

Para ele, que é co-criador da SoulWork, consultoria dedicada à recolocação de profissionais 50+,  há uma diferença gritante entre buscar emprego jovem e depois dos 50 anos. “Quando você é recém-chegado no mercado, você vai concorrer com um mercado muito grande. E com pessoas que têm, provavelmente, um baixo nível de experiência ainda. O que significa? Você ainda não constituiu uma bagagem e uma imagem profissional. Então, indicação é uma coisa importante, e como você lida com entrevista”.

Porém, depois de anos no mercado de trabalho, outros fatores passam a ser mais importantes. “No caso de um profissional maduro, ele já tem uma história. E, aí, o que vale realmente é a robustez dessa história. As vitórias, os cargos que ele conseguiu alcançar, a competência que ele desenvolveu. A rede de relacionamentos, as pessoas que apoiam e que o conhecem diretamente”, declarou.

Sempre é tempo de recomeçar 

Segundo Ziemer, perder o emprego nunca é simples, mas para quem já passou dos 50 anos o impacto pode ser ainda mais profundo. O Censo 2022 do IBGE revelou que, em apenas 12 anos, a população com 65 anos ou mais cresceu 57,4%, saltando de 14 milhões em 2010 para 22,1 milhões em 2022. 

No mercado de trabalho, a presença de profissionais maduros também é expressiva: 13.454.522 milhões de trabalhadoras e trabalhadores com idade superior a 50 anos estão ativos em uma variedade de ocupações.

Diante do aumento da expectativa de vida e das incertezas em relação à previdência social, a tendência é que as gerações grisalhas permaneçam saudáveis, dispostas e, principalmente, ativas por mais tempo, segundo Ziemer. Para isso, entretanto, é necessário a habilidade de se reinventar, argumenta. 

A educação tem se consolidado como um caminho de transformação e de novas oportunidades para pessoas acima dos 50 anos. Levantamento da Associação Brasileira de Educação a Distância (ABED) indica que, entre 2010 e 2023, mais de 1,6 milhão de estudantes dessa faixa etária ingressaram em cursos superiores na modalidade a distância.

Do total, mais de 310 mil concluíram a graduação no período. Os dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) confirmam a expansão: apenas em 2024, mais de 210 mil alunos com 50 anos ou mais estavam matriculados em instituições de ensino superior.

“Esses dados mostram uma mudança na mentalidade dos profissionais maduros, que não esperam mais apenas pela aposentadoria, mas buscam se reinventar em oportunidades conectadas aos seus valores”, completa Ziemer.

Conhecidas como “carreiras adjacentes”, essas funções aproveitam habilidades, experiências e conhecimentos já adquiridos para explorar novos caminhos profissionais. Dessa forma, é possível ampliar a atuação sem precisar recomeçar do zero. Para o profissional experiente, isso abre a chance de exercer diferentes atividades ao mesmo tempo, reduzindo a dependência de uma única fonte de renda, de acordo com o especialista.

Fonte: Portal Terra
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