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Os fortes 100 primeiros dias do governo Biden

O bom começo do governo Biden pode ajudar a reconduzir a vida política nos Estados Unidos para o fortalecimento das instituições democráticas

22 abr 2021 - 19h31
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O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, ainda não completou seus 100 primeiros dias de governo (tomou posse dia 20 de janeiro) e, no entanto, já é enorme surpresa. Nenhum analista esperava tanto dinamismo em tantas frentes. Vamos conferir:

Vacinas - A meta original nos Estados Unidos de aplicar 100 milhões de doses em 100 dias foi alcançada em 58 dias. Por isso, foi revista. Biden anunciou que já foram aplicados 200 milhões de doses. Nada menos que 80% dos maiores de 65 anos receberam ao menos uma dose. Qualquer pessoa de 16 anos ou mais tem agora acesso à vacina. Dentro de mais algumas semanas, Biden estará em condições de avançar na chamada geopolítica da vacina, destinada a ocupar os espaços que a China e a Rússia vêm ensaiando ocupar.

Avanço do PIB - A imunização da população é requisito para o disparo da atividade econômica, o que está alcançado. Mas Biden avançou mais. Nas primeiras semanas de governo, propôs pacote de ajuda emergencial de US$ 1,9 trilhão que banca nova rodada de pagamentos para a população carente. E agora, anunciou superprograma de investimentos de US$ 2 trilhões para financiamento de projetos de infraestrutura e de geração de energia limpa. É plano que relança os Estados Unidos como economia líder e deve criar milhões de empregos.

É a melhor resposta à política do governo Trump que pretendia garantir os Estados Unidos em primeiro lugar com base em protecionismos, represálias e desmanche de acordos multilaterais. A ideia agora é reforçar investimentos em tecnologia e iniciativas de ponta. O desafio da China passa a ser enfrentado não com antagonismos, mas com fortalecimento da economia e das instituições. Novas projeções do Fundo Monetário Internacional indicam que o PIB dos Estados Unidos saltará 6,4% neste ano.

Metas ambientais - A convocação da primeira Cúpula do Clima, realizada ontem e hoje com os principais chefes de Estado e de governo, é, por si só, iniciativa de impacto. Não só reverte a política negacionista do presidente Trump, mas, também, avança nas metas ambientais.

Os Estados Unidos se comprometem a reduzir pela metade as emissões de CO2 até o fim desta década e chegar a emissões zero até 2050. Biden ainda anuncia que pretende ajudar os demais países a cumprir as metas do Acordo de Paris.

Reforma tributária - Há duas semanas, o governo Biden anunciou proposta que altera disposições do sistema tributário que, uma vez aceitas, terão impacto global. A primeira é o aumento do Imposto de Renda das empresas nos Estados Unidos, de 21% para 28%. A segunda, a negociação em âmbito global de um imposto mínimo sobre o lucro das empresas, com o objetivo de acabar com a guerra fiscal entre países destinada a atrair empresas.

Política de imigração - Em vez de insistir na construção de muros e na deportação de "não cidadãos" (que substitui a expressão "estrangeiros"), Biden estuda agora formas não truculentas de lidar com o problema migratório.

Fim da guerra - No dia 14 de abril, Biden anunciou a retirada das tropas dos Estados Unidos do Afeganistão até 11 de setembro, data que marca o 20º aniversário do ataque às torres gêmeas. É o fim da guerra mais longa em que se enredaram os Estados Unidos.

Acordo com o Irã - Trump desmantelou o acordo nuclear com o Irã assinado pelo ex-presidente Barack Obama, situação que abriu espaços para que se fortalecessem entendimentos financeiros e comerciais entre Irã e China. Biden já manifestou interesse para a retomada das negociações. Para isso, terá de enfrentar a oposição de Israel.

São decisões que ainda não garantem que a administração Biden leve a bom termo essas e outras iniciativas, porque os 100 primeiros dias se caracterizam como temporada de tréguas no jogo com a oposição. A partir de agora, os republicanos passarão a ver a administração Biden como sério obstáculo a suas pretensões eleitorais em 2022 e em 2024 e deverão acirrar sua atuação política contra o presidente.

No entanto, esse inegável bom começo pode ajudar a reconduzir a vida política no país para o fortalecimento das instituições democráticas e não mais para seu desmonte, como aconteceu ao longo do período Trump.

CELSO MING É COMENTARISTA DE ECONOMIA

Estadão
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