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Operador movimentou R$ 1,8 bilhão em seis bancos

Preso pela Lava Jato, Assad usava empresas de fachada para 'produzir' dinheiro de propina

19 ago 2018 - 10h09
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BRASÍLIA - O operador financeiro Adir Assad conseguiu movimentar cerca de R$ 1,8 bilhão em contas de suas empresas de fachada hospedadas em 14 agências de seis bancos ao manter uma boa relação com os gerentes. Além de presentear gerentes das agências com ingressos para grandes shows, Assad revelou, em depoimento à Justiça, que conquistava a confiança dos bancos ao comprar títulos de capitalização e outros produtos bancários oferecidos pelos gerentes das contas.

Assad é apontado como o maior "noteiro" a atuar nos desvios apurados na Lava Jato. Suas empresas de fachada transformavam notas frias emitidas para grandes empreiteiras em dinheiro em espécie que, segundo ele, era encaminhado a operadores de propina e agentes públicos. Atualmente, mesmo após assinar um acordo de colaboração com o Ministério Público Federal (MPF), continua preso na carceragem de Polícia Federal em Curitiba.

Em depoimento ao juiz Marcelo Bretas, titular da Lava Jato no Rio de Janeiro, Assad disse que nunca pagou propina diretamente aos gerentes, mas que os agradava com "mimos". "Comprávamos seguros, fechávamos consórcios, oferecíamos para os gerentes ingressos de shows e eventos", disse Assad, que tinha acesso a entradas de concertos porque também atuava no setor de eventos.

Entre 2006 e 2014, cinco empresas de fachada ligadas a Assad se valeram de contas em 14 agências de seis bancos da capital paulista. Duas agências do Bradesco - uma na Avenida Brasil e outra na Eng. Luiz Carlos Berrini - concentram 66% dos valores movimentados pelas empresas de Assad, de R$ 1,2 bilhão. As empresas são a Legend, Rock Star, Soterra, SM terraplanagem e Power To Ten.

Com R$ 1 bilhão, entre créditos e débitos, em contas de agências do Bradesco, Itaú, Santander, Citibank e Banco do Brasil, a Legend Engenheiros lidera o ranking das empresas do operador com maior movimentação.

Investigações. A Receita Federal investigou a Legend. Segundo os auditores, a empresa nunca teve funcionários, e os endereços de seus registros eram residências que não comportavam sua atividade de aluguel de máquinas. "Não nos parece crível que esta empresa consiga realizar uma real prestação de serviços sem nunca ter tido em seus ativos as máquinas, equipamentos, veículos e caminhões para tal fim", diz a Receita.

Também na agência do Bradesco na Berrini, a SM Terraplanagem movimentou R$ 347,9 milhões. A empresa sofreu devassa da Receita e os auditores constataram a incapacidade da firma para prestar os serviços declarados. Um dos endereços em que está registrada, em Santana no Parnaíba (SP), diz a Receita, é a residência de uma senhora que diz alugar domicílio tributário a vários interessadas. A SM também movimentou valores em agências do Santander (R$ 13 milhões) e do Citibank (R$ 10,4 milhões).

Advogado de Assad, Pedro Bueno de Andrade disse que seu cliente precisa prestar todos os esclarecimentos à Justiça.

Bancos. Responsável por fiscalizar os bancos, o Banco Central não quis comentar o caso específico do operador Adir Assad, mas disse que, desde 2013, foram instaurados 31 processos administrativos para apurar falhas nos controles de instituições financeiras.

O Itaú disse ter um programa robusto de prevenção à lavagem de dinheiro que identificou "atipicidades nas contas" do grupo, que foram "comunicadas às autoridades competentes antes da deflagração da Lava Jato". O Citibank disse não comentar assuntos em "esfera judicial".

O Bradesco afirmou que "sempre se alinhou com as exigências dos órgãos reguladores e da própria sociedade para a prevenção da lavagem de dinheiro". "Todas as operações atípicas são comunicadas tempestivamente ao Coaf e qualquer conduta suspeita é objeto de investigação interna."

O Banco do Brasil informou que, antes do início da Lava Jato, "tão logo detectou movimentações suspeitas dessas empresas" adotou as medidas previstas na legislação. A Caixa disse seguir padrões de integridade, mas não quis se manifestar especificamente sobre o caso.

O Santander não havia respondido o contato da reportagem até a publicação desta reportagem.

Estadão
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