Operações triangulares abasteceram Master com crédito de fachada, dizem fontes
Um esquema de sucessivas operações financeiras triangulares usou o Banco de Brasília (BRB) para abastecer o caixa do Banco Master, e envolveu empréstimos consignados e geração de créditos de fachada, disseram nesta terça-feira duas fontes com conhecimento do caso.
O esquema, de acordo com as fontes, fez com que a Cartos Sociedade Direta de Crédito e a Tirreno Consultoria, Promotoria de Crédito e Participações S.A. gerassem empréstimos consignados, sendo que a segunda delas, uma empresa de fachada criada em novembro do ano passado, cedeu esses créditos para o Master.
Esses créditos de fachada foram, então, do Master para o BRB por R$12 bilhões.
A segunda fonte destacou que a operação buscava estancar o problema de liquidez que o Master enfrentava provendo recursos para a instituição pagar passivos.
A PF afirmou em comunicado que a investigação envolveria crimes de gestão fraudulenta, gestão temerária e organização criminosa, entre outros.
O Banco Central anunciou a decretação da liquidação extrajudicial da instituição financeira nesta terça-feira. A Polícia Federal, por sua vez, deflagrou a Operação Compliance Zero que teve como alvo esse esquema de emissão de títulos de crédito falsos por instituições financeiras que integram o Sistema Financeiro Nacional.
Ao todo, cinco dirigentes e pessoas ligadas ao Master foram alvos de prisão preventiva, entre elas o presidente da instituição Daniel Vorcaro. Além disso, sócios da Cartos e da Tirreno foram alvos de prisão temporária. O presidente do BRB, Paulo Henrique Costa, também foi afastado por decisão judicial, segundo uma fonte da PF a par das investigações.
Uma fonte da PF contou que a prisão de Vorcaro se deu na segunda-feira à noite. Ele estava no Aeroporto de Guarulhos e estava prestes a embarcar em um voo particular ao exterior. Os policiais que monitoravam os passos dele -- e já tinham mandado de prisão contra ele -- decidiram antecipar a detenção do CEO do Master para evitar a fuga.
O dirigente do Master está detido na Superintendência da PF em São Paulo, conforme a fonte.
Cerca de 25 endereços dessas instituições, como a sede do próprio BRB na capital do país, também foram alvos de mandados de busca e apreensão, em decisões autorizadas pela Justiça Federal de Brasília.
O advogado Roberto Podval, que representa Vorcaro, disse que a prisão do seu cliente foi autoritária e arbitrária. Para ele, não havia razão para detê-lo porque o Master havia sido liquidado. Ele negou que o dirigente do Master queria fugir do país e afirmou que ele tinha como destino final Dubai, fazendo uma escala em Malta. Afirmou ainda que deverá apresentar um pedido de liberdade nesta quarta.
Em nota, o BRB disse que sempre atuou em conformidade com as normas de compliance e transparência, prestando regularmente informações ao Ministério Público Federal e ao Banco Central do Brasil sobre todas as operações relacionadas ao Banco Master. A instituição confirmou o afastamento do presidente e do diretor financeiro por 60 dias.
"A Instituição reafirma seu compromisso com a ética, a responsabilidade e a integridade na condução de suas atividades. O Banco segue operando normalmente, garantindo a continuidade integral dos serviços e preservando a segurança das operações, dos clientes, dos parceiros e de toda a sua estrutura operacional", ressaltou.
Em nota, a Cartos informou que permanece à disposição das autoridades competentes, colaborando com todas as solicitações e prestando quaisquer esclarecimentos que se façam necessários. Disse não manter qualquer operação com o Master.
"Embora a Cartos conste entre as instituições mencionadas no procedimento, é importante esclarecer que a empresa não é alvo da investigação, tampouco há qualquer imputação de irregularidade e reafirma seu compromisso com a transparência, a conformidade regulatória e a atuação ética e responsável em todas as suas atividades", afirmou.
Representantes da Tirreno não foram localizados para comentar.