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Negociação de soja do Brasil tende a travar ainda mais com queda de preço em Chicago

19 jun 2018 - 14h41
(atualizado às 14h59)
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A negociação de soja no Brasil, que já vinha travada pela ponta compradora, dadas as indefinições sobre frete, tende a ser ainda mais prejudicada agora que os preços da oleaginosa na Bolsa de Chicago estão em queda acentuada, desestimulando o lado vendedor, segundo especialistas ouvidos pela Reuters.

Plantação de soja em São Desidério, Bahia 
21/03/2018 REUTERS/Roberto Samora
Plantação de soja em São Desidério, Bahia 21/03/2018 REUTERS/Roberto Samora
Foto: Reuters

As cotações da oleaginosa renovaram mínimas nesta terça-feira em meio à crescente tensão comercial entre Estados Unidos e China, que trabalham com retaliações sobre diversos bens de ambos países. Mais cedo, os preços da commodity chegaram a atingir o menor patamar desde 2008 para um primeiro contrato em Chicago.

"Estamos em um mês de junho com pouca comercialização. Os preços tiveram uma queda bem expressiva, saíram de 10,50 dólares por bushel em maio para abaixo de 9 dólares agora... O produtor vai segurar para aguardar uma nova oportunidade de venda", disse o analista Adriano Gomes, da consultoria AgRural.

Segundo ele, produtores tiraram proveito da alta do dólar ante o real e conseguiram comercializar um bom volume de soja antes dos protestos dos caminhoneiros e posteriores reflexos, incluindo a tabela de fretes mínimos que afugentou compradores para negócios de curto prazo.

Nesse cenário, explicou Gomes, o sojicultor acaba preferindo mesmo aguardar um melhor momento para vender seu produto.

Estima-se no mercado que até 30 por cento da safra recorde deste ano, de quase 120 milhões de toneladas, ainda não tenha sido negociada.

"O produtor se retirou. Ninguém tem de vir a mercado desesperadamente vender", comentou a corretora Moema Damo Bombardieri, CEO da Moema Corretora de Grãos, em Santo Rosa (RS).

Para ela, o mercado de soja "pode travar até mais", pois participantes passam a olhar a partir de agora para a safra dos Estados Unidos, em fase final de plantio, que deve vir em bom volume, pressionando ainda mais os preços na Bolsa de Chicago.

Na mesma linha, a Chicago Corretora de Cereais, em Primavera do Leste (MT) afirmou que, com esse recuo nas cotações, vai ficar "inviável" para o produtor vender.

Desde 21 de maio, quando os protestos de caminhoneiros começaram, até agora, os valores domésticos da soja cederam 3 por cento, para cerca de 83 reais por saca, segundo monitoramento do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, refletindo tanto as incertezas internas quanto o tombo em Chicago e a perspectiva ampla oferta.

ESPERANÇA NOS PRÊMIOS

Os especialistas ponderaram que uma melhora nos prêmios da soja brasileira, resultado direto da disputa entre EUA e China, pode ajudar a destravar algumas vendas, já que a tendência é Pequim se voltar ao produto nacional.

Nesta terça-feira, o prêmio da soja posta em Paranaguá (PR) para setembro, ante o valor em Chicago, atingiu 1,70 dólar por bushel, conforme o Cepea.

"Alguns negócios começaram a sair de setembro em diante. Para junho, julho, não vai ter comprador... Mas lá para frente, com essa briga mais acentuada, os negócios que seriam de China comprando dos EUA devem ser de China comprando do Brasil", disse o analista Paulo Molinari, da Safras & Mercado.

Segundo ele, que já recebeu relatos de negócios nesta semana, o prêmio médio da soja brasileira costuma ser de 0,60 dólar por bushel.

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