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Mulheres driblam preconceito e desconfiança para se formarem pilotas de aviação no País

Dezesseis pilotas se formam em primeira turma exclusivamente feminina no Brasil; projeto é tocado pela Avianca para ampliar o número de mulheres no comando das aeronaves comerciais

12 jul 2018 - 18h26
(atualizado em 13/7/2018 às 16h11)
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Foi só aos 19 anos que a carioca Gizelle Hashimura descobriu que existiam pilotas de avião. Acostumada, desde pequena, com idas e vindas ao Japão, onde morava com os pais, nunca havia visto uma mulher comandando os aviões em que viajava. Quis trabalhar com aviação e teve de entrar pela única porta que lhe pareceu aberta - a de agente de aeroporto. "Foi aí que eu vi uma comandante passando pelo aeroporto pela primeira vez. Até então, nem sabia que existia."

Nesta semana, Gizelle e outras 15 profissionais se formaram como pilotas na primeira turma exclusivamente feminina da aviação brasileira, em um projeto da Avianca para aumentar a presença de mulheres no comando de aeronaves comerciais. No fim do ano passado, havia 41 mulheres no País com licença para pilotar um avião do tipo, ou 0,86% do total dos profissionais, segundo dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).

Na Avianca, eram 18 antes do projeto "Donas do Ar", uma referência à personagem Mônica, de Mauricio de Sousa, a "dona da rua" das histórias em quadrinhos. Com a formatura realizada na quarta-feira, 11, esse número saltou para 34.

"Para o homem, é muito claro que ele pode ser piloto. Para a mulher, não é segredo que tem preconceito. Quando comecei no aeroclube, era a única mulher. Tudo intimidava, não estava em minha zona de conforto. É mais fácil você seguir profissões estereotipadas", diz Gizelle.

"Ainda falta muito para ver outras mulheres em cargos ocupados por homens. Essa formatura é um marco, mas deveria ser normal", afirma.

Antes de chegar ao atual cargo, de copilota, Gizelle ainda trabalhou como comissária de bordo por um ano, em uma tentativa de se aproximar do setor. Fez, então, curso para ser pilota e concluiu a carga horária de voo mínima para atuar em companhias de aviação comercial em 2013.

"Logo depois, veio a crise. Aí sobrou profissional no mercado", diz. Teve de esperar até 2017, quando foi chamada pela Avianca para participar da primeira turma feminina.

A formanda Paula Soffo, de 32 anos, também precisou esperar por uma oportunidade em uma cabine de pilotos. Antes, teve de trabalhar com prevenção de acidentes aéreos e instrutora de voo. Via dificuldade até para entrar em uma empresa de táxi aéreo: "A companhia pensa: se tiver uma mulher, em um deslocamento, vou ter de pagar dois quartos no pernoite. Se for homem, posso colocar os dois (piloto e copiloto) no mesmo quarto".

Além de questões financeiras como essa, piadas de mau gosto e preconceito são questões a ser enfrentadas diariamente. Rayanne Sousa, de 28 anos, conta que, recentemente, um passageiro entrou no avião, a viu na cabine de pilotagem e, com descrédito, perguntou ao comissário de bordo se ela era pilota.

"Existe preconceito, sim, e a gente ainda escuta piadas como 'mulher não pilota nem fogão direito, imagina avião'", afirma a recém-formada.

Antes de iniciar a implementação do programa "Donas do Ar", a Avianca tinha apenas 2% de seu quadro de pilotos formado for mulheres. Hoje, após a formatura, são 5%. A companhia se comprometeu com a ONU Mulheres em aumentar a presença feminina nas cabines de pilotagem em 10% ao ano.

Estadão
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