Inflação ainda assombra, e Lula exibe pouca disposição para controlá-la com corte de gastos
Sem perspectiva de mudança relevante nas contas do governo, condição essencial para a contenção da dívida pública, pouco se aposta em juros muito mais próximos dos padrões internacionais
Com mais empregos e mais chances de ganhar a vida, o trabalhador continua assombrado pelo aumento de preços, 4,15% de janeiro a novembro e 4,50% em 12 meses, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15). Pressionadas pela inflação, as famílias são acuadas também pelo crédito muito caro. No esforço para conter a onda inflacionária, o Banco Central (BC) mantém os juros básicos em 15% ao ano, complicando a produção industrial, atrapalhando o comércio e os serviços e dificultando o financiamento ao consumo.
A taxa de 4,50% está no teto da meta e longe do centro do alvo, fixado em 3% para qualquer período de 12 meses. Em outubro, a inflação correspondente a esse período havia ficado em 4,94%. Apesar da melhora, o aumento de preços continua sendo um desafio importante para o governo, favorecido, por enquanto, pela ausência de um candidato oposicionista à eleição presidencial do próximo ano.
A contenção da alta de preços será muito lenta nos próximos anos, segundo avaliação do mercado financeiro. A inflação ficará em 4,18% em 2026 e recuará para 3,80% em 2027, de acordo com projeção registrada no último boletim Focus. Segundo esse boletim, o crescimento econômico, estimado em 2,16% para este ano, ficará em 1,78% no período seguinte.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva já indicou a intenção de buscar a reeleição. Haverá surpresa, portanto, se ele aceitar uma política de crescimento mais contido e mais compatível, provavelmente, com uma inflação bem mais próxima do centro da meta. O BC quase certamente manterá uma política monetária restritiva, com juros elevados, enquanto o risco inflacionário permanecer elevado. Pela avaliação do mercado, os juros básicos deverão estar em 12% no fim do próximo ano, mas a redução deverá ser vagarosa na fase inicial.
Apesar do empenho do ministro da Fazenda, o presidente Lula continua a exibir pouca disposição de reforçar a política anti-inflacionária por meio da contenção da despesa pública. Sem perspectiva de mudança relevante nas contas do governo, condição essencial para a contenção da dívida pública, pouco se aposta em juros muito mais próximos dos padrões internacionais. Preocupante para quem acompanha, profissionalmente, a evolução das finanças governamentais, esse quadro aponta condições pouco favoráveis ao crescimento econômico seguro e ao bem-estar sustentável da maior parte dos trabalhadores.