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Estudo evidencia racismo no mercado imobiliário alemão

20 dez 2025 - 14h10
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Negros e muçulmanos relataram serem excluídos de visitas a apartamentos. Só ter um sobrenome que não soa alemão já reduz a chance de visitar imóveis.Encontrar uma moradia é um já conhecido desafio para a maioria das pessoas na Alemanha. Em cidades grandes como Berlim, o aluguel de um apartamento pode ser disputado por até centenas de candidatos, e há quem demore meses para conseguir um lugar adequado às suas necessidades. Mas a dificuldade é ainda maior para pessoas que não são alemãs e brancas.

O Centro Alemão de Pesquisa sobre Integração e Migração (DeZIM) publicou recentemente a primeira análise abrangente de como pessoas de minorias étnicas e religiosas sofrem discriminação no mercado imobiliário. O estudo se baseia em entrevistas com mais de 9.500 pessoas entre agosto de 2024 e janeiro de 2025.

Dos entrevistados, 35% dos muçulmanos e 39% das pessoas negras relataram serem excluídos de visitas a apartamentos (que precedem um possível fechamento de contrato de aluguel) por discriminação. A probabilidade era bem menor para pessoas da maioria branca da população, que relataram ter se sentido discriminadas em 11% dos casos.

Os pesquisadores também encontraram evidências que confirmam esse padrão: eles enviaram candidaturas para anúncios reais de apartamentos, variando os nomes dos supostos candidatos, mantendo iguais a renda e a escolaridade.

Os resultados mostraram que candidatos com nomes de origem alemã tinham 22% de chance de serem convidados para uma visita, enquanto apenas 16% dos candidatos com nomes comuns no Oriente Médio, Turquia ou África receberam convites.

Busca sem fim

Belphine Okoth, do Quênia, está procurando em vão um apartamento em Bonn há cinco meses. Desde 2023 na Alemanha, para onde se mudou para estudos de pós-graduação, ela conta que se inscreveu em quase todos os portais imobiliários disponíveis. Em média, diz enviar três candidaturas por dia.

"Eu me certifico de enviar minhas candidaturas em alemão, não coloco minha foto no perfil, então quando proprietários me veem, talvez pensem 'ah, não é o que eu esperava'", diz.

Após finalizar os estudos, Okoth saiu do dormitório estudantil e agora vive num subaluguel informal - outro problema destacado pelo relatório do DeZIM. O estudo constatou que pessoas de minorias raciais e étnicas têm maior probabilidade de viver em situações precárias de aluguel: 12% tinham contratos de aluguel por prazo determinado, contra 3% das pessoas brancas.

As minorias também tendem a enfrentar um ônus financeiro significativamente maior devido aos custos de moradia, gastando 40% ou mais da renda com habitação: 37% delas gastam mais de 40% da renda com moradia, contra 30% das pessoas brancas.

Racismo velado

Proprietários raramente dizem abertamente que estão rejeitando um candidato por questões étnicas porque isso é ilegal na Alemanha.

No entanto, "anúncios imobiliários abertamente racistas também continuam a fazer parte do cotidiano", segundo a Agência Federal Antidiscriminação da Alemanha. Também é comum que pessoas negras com nomes alemães sejam convidadas para visitar apartamentos e, ao lá chegarem, ouçam que o apartamento já foi alugado, segundo especialistas.

"O mercado imobiliário está completamente contaminado pelo racismo. Você pode conversar com qualquer pessoa negra e ela contará histórias muito semelhantes", diz Tahir Della, porta-voz da Iniciativa Pessoas Negras na Alemanha (ISD).

Outras facetas da discriminação no mercado imobiliário passam pela cobrança de taxas adicionais ou até de aluguéis abusivos e pelos conflitos entre vizinhos.

"O que vemos muito claramente é que coisas que à primeira vista parecem um conflito típico entre vizinhos acabam sendo casos muito concretos de discriminação", afirma Alexander Thom, porta-voz da organização Fair mieten, fair wohnen ("Aluguel justo, moradia justa", em alemão), um centro especializado em aconselhamento sobre discriminação no mercado imobiliário.

Thom descreve como um dos padrões de conflito o caso de mães negras solteiras que são atacadas por vizinhos ou denunciadas à administradora por seus filhos supostamente serem barulhentos demais. Quando o problema é investigado, muitas vezes não há barulho, e os registros de "poluição sonora" pelos vizinhos que fizeram a denúncia inicial se revelam imprecisos ou falsificados.

Qualidade de vida desigual

O estudo do DeZIM também revela desigualdades na qualidade, custo e tamanho das moradias. Os resultados mostraram que a probabilidade de viver em imóveis com problemas é de 57% para pessoas de minorias raciais e étnicas, contra 48% para pessoas brancas.

Essas minorias são mais frequentemente expostas a níveis mais altos de poluição ambiental e tendem a viver em condições significativamente mais apertadas, com uma média de 47 metros quadrados e 1,3 cômodos por pessoa, contra 69 metros quadrados e 1,9 cômodos para pessoas brancas.

Além disso, costumam enfrentar um ônus financeiro significativamente maior com os custos de moradia, com 37% delas gastando 40% ou mais da renda com habitação. Esse é o caso de 30% das pessoas brancas.

Noa K. Ha, diretora científica do DeZIM, defende o fortalecimento da lei antidiscriminação e a oferta de mais moradias sociais acessíveis. "Desde a década de 1970 vimos uma liberalização do mercado imobiliário, e isso torna mais complicado para pessoas vulneráveis conseguirem qualquer moradia", diz, acrescentando que imigrantes de segunda geração também têm menos chances de conseguir moradia.

A discriminação no mercado imobiliário é proibida por lei, alerta o governo alemão. As pessoas afetadas devem informar-se sobre a sua situação legal e denunciar os casos de discriminação sempre que possível, segundo a agência antidiscriminação.

Deutsche Welle A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas.
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