Em ano de eleição, chineses fazem só 28% dos aportes projetados no Brasil
De janeiro a outubro, investimentos no País somaram US$ 1,5 bilhão, o que aponta para uma forte queda ante os US$ 8,8 bi de 2017; conselho empresarial chinês diz não acreditar que eleição de Bolsonaro possa afetar relação comercial entre nações
Depois de três anos consecutivos de crescimento, os investimentos chineses no Brasil recuaram em 2018, segundo dados preliminares apresentados na segunda-feira, 10, pelo Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC). Entre janeiro e outubro deste ano, só 28% dos investimentos anunciados por empresas chinesas foram concretizados, o que a entidade considera uma consequência do cenário de instabilidade política no Brasil.
De janeiro a outubro, foram confirmados US$ 1,5 bilhão em investimentos chineses no País, em 14 projetos. Considerando anúncios não confirmados neste ano, havia expectativa de uma injeção de US$ 5,4 bilhões para 2018 no Brasil - essa diferença evidencia um compasso de espera de investidores chineses.
"Foi um ano de instabilidade, o que deixou o investidor estrangeiro, não apenas o chinês, mais apreensivo", explicou Tulio Cariello, pesquisador da CEBC. Em 2017, no entanto, haviam sido concretizados um total de US$ 8,8 bilhões. O montante superou os US$ 8,4 bilhões do ano anterior e atingiu o maior nível desde 2010.
Ainda que os investimentos chineses devam ter forte queda em 2018, o interesse pelos grupos da China pelo País foi forte ao longo dos últimos dez anos, período no qual os aportes somaram US$ 55 bilhões.
Infraestrutura
Segundo o cônsul comercial da China em São Paulo, He Jun, o crescimento dos investimentos chineses foi consequência de uma combinação de crescente interesse de empresários do país em diversificar negócios, do relacionamento bilateral e da expansão de oportunidades para a compra de estatais brasileiras.
O maior volume de investimentos no Brasil em 2017 foi para o setor elétrico. Mais de US$ 6 bilhões foram investidos em projetos no setor. Os US$ 2,8 bilhões restantes foram aplicados em segmentos como agronegócio e logística.
Em energia, empresas como a Shanghai Eletric e a Spic Pacific Energy passaram a operar projetos hidrelétricos no Brasil. Gigantes como a China Three Gorges e a State Grid também ganharam musculatura. A State Grid foi responsável por uma das maiores transações do País, ao adquirir o Grupo CPFL Energia. Entre a compra do controle (da Camargo Corrêa) e de ações no mercado, a empresa desembolsou R$ 25 bilhões.
Relações
Apesar do impacto da instabilidade político-econômica, Cariello disse não esperar recuo na relação bilateral com a China no governo do presidente eleito Jair Bolsonaro. Questionado sobre a visão de membros no novo governo - de que a China "está comprando o Brasil" -, Cariello lembrou que os dados apontam para a existência de investimentos de empresas chinesas em construção de novas fábricas e em projetos de modernização que não ocorrem por meio de aquisições.
"De forma geral, acredito que não haveria prejuízo (às relações Brasil-China]) devido à maturidade que os países atingiram. A relação bilateral atingiu um nível tão alto que dificilmente algum governo conseguiria minar isso", afirmou.
O cônsul comercial da China minimizou o impacto da eleição de Bolsonaro. Sem citar diretamente o presidente eleito, ele afirmou que "durante as eleições, houve vozes não amistosas em relação aos investimentos". Para He Jun, no entanto, a animosidade não reflete a realidade. "Os investimentos chineses são bons para o desenvolvimento econômico do Brasil."