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Demissões em massa que atingiram startups podem chegar ao mercado tradicional

Inflação, altas taxas de juros e a guerra na Ucrânia são preocupações que levam investidores a frear injeção de recursos nas empresas

30 jun 2022 - 09h00
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Carteira de Trabalho
Carteira de Trabalho
Foto: Agência Brasília

Catalisadas pelas baixas taxas de juros, as startups sofreram um boom de crescimento com recordes de investimentos, cerca de R$ 46 bilhões de captações no último ano, segundo a Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital (ABVCAP). O ritmo agora, no entanto, é o inverso: com a alta da inflação e a guerra na Ucrânia, o mercado de capital de risco deixou de ser atrativo e, como reflexo, vemos demissões em massa em empresas mais que conhecidas pelo público. 

Nos últimos meses, nomes como Nubank, Ebanx e QuintoAndar realizaram grandes dispensas do quadro de funcionários. A plataforma Layoffs Brasil, que mapeia profissionais e suas qualificações para ajudá-los a se realocarem no mercado, já soma mais de três mil trabalhadores nestas condições, número não confirmado por fontes oficiais.

Esse movimento era, no entanto, esperado por veteranos do mercado financeiro brasileiro. Para tentar frear a inflação, uma das ações do Banco Central foi aumentar a taxa Selic, diminuindo o poder de compra e aumentando o rendimento em investimentos mais tradicionais.

"Você tinha um cenário de taxas de juros relativamente baixas, inflação sob controle e algum crescimento econômico. Foi exatamente esse contexto que esse ano deu sinais de mudança muito mais fortes", justifica Alexandre Darzé, sócio da Lighthouse Invest e especialista do mercado financeiro e de capitais. "[Esse ano] você passa a ter inflação bem mais alta e de difícil controle, altas taxas de juros e um cenário de crescimento econômico bastante incerto e com possibilidade de recessão".

Foto: fdr

Para os investidores, o cenário é ótimo, já que investimentos conservadores são favorecidos em contextos como o atual e não é preciso arriscar com injeção de recursos em startups. Para as empresas de tecnologia, no entanto, a má notícia: sem investimento, cortes precisam ser feitos. O enxugamento do quadro de funcionários foi inevitável.

"A única forma de se adequar à nova receita, sem investimentos, é demitir funcionários nessas condições", explica Rafael Barbosa, sócio-fundador da Scale-Up XporY.com e especialista em inovação e em economia compartilhada. 

Mercado tradicional

Não apenas as startups, especialistas alertam que esse movimento pode também afetar o mercado tradicional. A expectativa geral é que o reflexo seja menor do que o sofrido pelas empresas de tecnologias, no entanto, o economista Rafael Barbosa afirma que as demissões em empresas já consolidadas sejam inevitáveis.

"As empresas tradicionais são menos arriscadas. O dinheiro primeiro sai das startups, isso é fato, mas também vai sair das tradicionais", diz ele sobre as decisões de investidores. 

Mesmo que empresas já estabelecidas não dependam de capital externo, a alta da inflação diminui o poder de compra da população e impacta mais uma vez todo o setor econômico. Se há menos vendas, é preciso reduzir custos. O gasto com funcionários é uma alternativa para diminuir a conta no final do mês.

Alexandre Darzé lembra que ambos os modelos de negócio, startups e tradicionais, operam no mesmo mercado financeiro. Sendo assim, operam sob os mesmos contextos.

"Esse cenário de alta inflação, taxas de juros crescente, guerra, possível recessão econômica... Em grandes mercados, isso também tem impacto", diz.

O especialista pondera que a dimensão do impacato vai depender do setor em que essas empresas operam e de suas condições internas.

*Com edição de Estela Marques. 

Fonte: Redação Terra
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