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De saída do Banco Central, Ilan defende instituição independente

Em discurso em evento do banco, presidente diz que independência de fato já existe, mas que falta o marco legal

12 jan 2019 - 04h11
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RIO - Na reta final de seu mandato, o presidente do Banco Central (BC), Ilan Goldfajn, está mais otimista quanto à aprovação da independência legal da autoridade monetária. Goldfajn não aceitou o convite da equipe econômica do governo Jair Bolsonaro para seguir no cargo, mas defende a aprovação da independência legal do órgão, com mandatos fixos para os diretores, incluindo o presidente.

Em rápido discurso de encerramento em evento sobre a história do BC, na sexta-feira, 11, no Rio, Goldfajn comentou que um traço da atuação da autoridade monetária desde os anos 1990 tem sido a independência operacional de fato, mesmo que isso não esteja definido ou garantido em lei.

"Pessoalmente, acho que as dificuldades políticas (para aprovar a independência legal), algumas delas, têm ficado para trás. É uma percepção minha, das últimas conversas e das últimas negociações. Nesse caso, estou um pouco mais otimista de que, dada a evolução da independência 'de facto', que a gente finalmente vai ter a independência 'de jure'", afirmou Goldfajn.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, já demonstrou apoio à ideia, que geralmente é bem vista no mercado financeiro e por economistas de formação liberal.

Para o secretário de Fazenda de São Paulo, Henrique Meirelles, que presidiu o BC ao longo dos dois governos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de 2003 a 2011, a independência de fato se consolidou ao longo de seu mandato. Também presente no evento sobre a história do órgão, Meirelles contou a sua história de como teria chegado a essa conquista.

Segundo o ex-ministro da Fazenda, ele só aceitou o cargo, após convite de Lula, porque foi prometido que haveria independência. Num primeiro momento, contou Meirelles, o governo concordou com a ideia de fixar a independência na lei, e uma proposta de emenda constitucional (PEC) chegou a ser redigida. A proposição acabou torpedeada não só pelas alas mais à esquerda do PT, como também pelo empresariado, que queria ter influência na política cambial.

Com a PEC deixada de lado, Meirelles contou que se reuniu com Lula e disse: "O nosso acordo eu vou cumprir. Vou agir de forma independente. Agora, o senhor tem autoridade legal pra me exonerar", contou Meirelles. Segundo o ex-presidente do BC, essa independência foi mantida.

"Estabeleceu-se ali a base da independência de fato do BC. Ela já existia, mas foi um momento de virada, porque era o governo do PT, do Lula", afirmou Meirelles.

Marcado por relatos de diversas crises econômicas da história, o evento de sexta-feira do BC serviu também para marcar o sucesso do trabalho de Goldfajn e sua diretoria no controle da inflação. O IPCA, índice oficial de inflação, ficou em 3,75% ano passado, revelou o IBGE. Foi o segundo ano seguido em que o IPCA ficou abaixo do centro da meta definida pelo governo.

Em outro discurso no evento, Goldfajn disse que, mais importante do que a inflação do ano passado ter ficado em torno da meta, é o fato de que as expectativas de inflação para os próximos anos estão no mesmo patamar. No jargão da política monetária, isso quer dizer que as expectativas estão "ancoradas".

Estadão
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