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Novelas brasileiras influenciaram a terra da Dona Armênia

Ator armênio radicado no Brasil, Arthur Haroyan explica o poder das tramas da Globo.

16 jan 2018 - 12h18
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Se alguém ouvir a frase ‘Quero a predinha na chon’ certamente vai se lembrar de quem a disse: dona Armênia, a simpática encrenqueira interpretada por Aracy Balabanian em ‘Rainha da Sucata’, novela exibida na Globo em 1990.

Na trama, a imigrante da Armênia, que pegava no pé de suas ‘filhinhas’ (três marmanjos mimados) queria derrubar um edifício em plena Avenida Paulista.

A inesquecível Dona Armênia, papel que consagrou Aracy Balabanian.
A inesquecível Dona Armênia, papel que consagrou Aracy Balabanian.
Foto: Memória Globo/Divulgação

Tornou-se uma das personagens cômicas mais queridas da teledramaturgia brasileira e apresentou aos telespectadores uma referência de um País pouco conhecido no Brasil.

Vindo da mesma Armênia, o ator Arthur Haroyan conversou com o blog a respeito do êxito das novelas brasileiras na ex-república soviética.

Como começou sua paixão pelas novelas brasileiras?

Era uma época difícil na Armênia. A União Soviética havia acabado, um terremoto destruiu o norte do País, inclusive a minha cidade, onde eu fui resgatado depois de passar algumas horas sob os escombros; a Armênia enfrentava uma guerra violenta… Foi quando descobri o Brasil através da lambada. Eu e a minha irmã dançávamos escondidos, pois era uma dança considerada pornográfica. No começo, a TV exibia novelas mexicanas, mas nem todos tinham tempo para assistir. A gente precisava encher baldes com a água de chuva no verão e derreter neve n o inverno para ter água potável; ficar na fila do pão quase a manhã inteira ou ir para a floresta desmatar árvores para ter madeira para aquecer a casa, porque no inverno a temperatura chegava a 30 graus negativos. Mas quando começaram a exibir novelas brasileiras, parou tudo na Armênia! A primeira foi ‘Escrava Isaura’ (a versão produzida pela Globo em 1976) transmitida pelo primeiro canal federal da Rússia. Era dublada por cima da fala dos atores. Então as pessoas ouviam ao mesmo tempo as vozes dos artistas e dos dubladores. No começo isso incomodava, logo a gente acostumou. Acho que não era a novela certa para ser exibida nos países da ex-União Soviética porque tinha muita violência contra as pessoas, e naquele momento a violência reinava em vários Países depois da queda do Império Russo. Mas o povo gostava do drama da Isaura (Lucélia santos) e esperava justiça contra o Leôncio (Rubens de Falco). Depois, as novelas brasileiras ‘chegaram chegando’, uma atrás da outra. ‘Mulheres de Areia’, ‘Tropicaliente’, ‘A Próxima Vítima’, ‘O Rei do Gado’, ‘Pecado Capital’ (versão de 1998), ‘Torre de Babel’, ‘Celebridade’, ‘Anjo Mal’, ‘Veneno Suave’, ‘Cobras e Lagartos’, ‘América’, ‘O Clone’, ‘Caminho das Índias’, ‘Avenida Brasil’... Assim, me apaixonei cada vez mais pelo Brasil e me mudar para a terra das novelas e fazer novela se tornou o objetivo primordial da minha vida.

Ainda hoje as novelas brasileiras fazem sucesso na Armênia?

Fazem! São transmitidas no horário nobre. Por exemplo, os últimos capítulos da ‘Avenida Brasil’ pararam o País do mesmo jeito que aconteceu aqui no Brasil. Amo essa novela! Adriana Esteves (Carminha) e Débora Falabella (Nina/Rita) são atrizes incríveis! Quando as amigas da minha mãe sabem que estou visitando a Armênia, vão até nossa casa para perguntar o final das novelas e saber sobre a vida dos atores.

Em visita à Armênia, no final de 2017, Arthur Haroyan foi entrevistado na TV sobre as tramas ‘made in Brazil’.
Em visita à Armênia, no final de 2017, Arthur Haroyan foi entrevistado na TV sobre as tramas ‘made in Brazil’.
Foto: Reprodução/Facebook

O que achou da novela ‘Rainha da Sucata’, com a personagem dona Armênia (Aracy Balabanian, descendente armênios)?

Soube dessa novela aqui no Brasil. Agora a tenho em DVD. Assisti duas vezes! Aracy Balabanian esteve simplesmente deslumbrante nesse papel, deixou sua marca. As pessoas repetem o bordão ‘na chon’ até hoje. Muitos brasileiros conheceram a Armênia por meio da personagem. Conheci a Aracy na novela ‘A Próxima Vítima’ (a atriz interpretou a matriarca italiana Filomena Ferreto). Naquela época, eu morava na Sibéria. O frio siberiano e o calor tropical da novela formavam o contraste da minha vida daqueles anos. Foi a novela mais impactante para mim. Dezoito anos depois, eu finalmente enco ntrei a Aracy Balabanian pessoalmente. Foi um dos momentos mais importantes e emocionantes da minha vida.

O ator no SBT, onde gravou participação em ‘Carinha de Anjo’, e com o passaporte brasileiro após conseguir a cidadania.
O ator no SBT, onde gravou participação em ‘Carinha de Anjo’, e com o passaporte brasileiro após conseguir a cidadania.
Foto: Reprodução/Facebook

Como as famílias armênias encaram a diversidade racial e cultural vista nas novelas brasileiras?

Os armênios são conservadores. Muitas coisas exibidas nas novelas estão fora da realidade da Armênia. Através das novelas, as pessoas de outros Países conhecem a beleza do Brasil. Meu pai sempre falava para mim ‘você não gosta de futebol nem de café, não entendo porque escolheu o Brasil’. Minha resposta era simples: ‘Pai, assista às novelas brasileiras, aí vai entender’. Ele, um homem conservador, fingia não assistir, mas sabia quem estava dormindo com quem, quem estava traindo quem, sabia até o nome dos personagens (risos).

As novelas brasileiras influenciaram os armênios em algum hábito?

Tudo o que é exibido na TV pode influenciar. As novelas não são exceção. Por exemplo, na época da novela ‘O Clone’, muitas moças armênias começaram a usar as bijuterias da Jade (Giovanna Antonelli). Já eu sonhava comer bananas, como via em várias novelas. No começo dos anos 90, as bananas eram frutas raras na Armênia. No meu aniversário de seis anos ganhei uma caixa imensa da minha tia. Naquela caixa enorme havia apenas uma banana. Foi um dos melhores presentes que ganhei na vida (risos).

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