Ator tenta convencer como mulherengo em 'Caminho das Índias'
É difícil interpretar um conquistador que não toca, não beija e nem "pega". Ricardo Tozzi se deparou com essas dificuldades ao compor o atirado Komal, de Caminho das Índias, de Glória Perez.
Como a autora preferiu adotar o "quase beijo" em sua trama, Ricardo tem de encarnar um homem "galinha" sem contar com seqüências de beijo ou cenas mais quentes. "Trabalho muito o olhar e o sorriso sedutor. No Brasil, o que marca o romance ou a safadeza é o beijo, o toque. Fica difícil explorar isso sem a famosa 'pegada'", analisa.
Exceto por esse detalhe, Ricardo não vê qualquer outra diferença entre um mulherengo indiano ou ocidental. "Galinha é igual em qualquer lugar. A abordagem é que é diferente", brinca. E garante que, com o passar dos capítulos, a safadeza de seu personagem ficará cada vez mais explícita.
E, segundo o ator, isso já chama a atenção das pessoas que o param para comentar sobre a novela. "Vivem me pedindo para não jogar pedras nas mulheres e falam muito das 'firangas estrangeiras'. Estou impressionado com a diferença entre estar no ar às nove da noite e em qualquer outro horário", surpreende-se.
Apesar de estar, inicialmente, entre os nomes que gravariam na Índia os primeiros capítulos da história, Ricardo não viajou com a equipe da novela. "Faríamos as cenas do casamento do Komal lá, mas desistiram", explica.
Por isso, todo o seu estudo para a composição do personagem foi feito nos workshops oferecidos pela própria Globo ao elenco dos núcleos indianos. Além das aulas de dança, Ricardo contou com a consultoria de indianos que palestraram sobre a cultura ensinada no folhetim. E considera que isso foi suficiente.
"Não me sinto prejudicado porque, pelo que vi, as pessoas aprenderam tudo aqui. A diferença é que quem viajou pôde constatar o que foi ensinado lá", justifica.
As reações nas ruas amenizam a preocupação principal que Ricardo tinha antes da estréia de Caminho das Índias. Por tratar de temas desconhecidos entre a maioria do público, o ator chegou a pensar na possibilidade da trama não ser compreendida no ar.
"Rolou uma tensão inicial, já que sem conhecer a força de certos valores indianos, não daria para acreditar na história", exagera. Mas atualmente não pensa mais nisso.
Até a preocupação de que fosse difícil para o público decorar os nomes dos personagens não passa pela cabeça de Ricardo. "Em Bang Bang o nome do meu personagem era Harold, mas nunca aconteceu de um fã pronunciar o nome dele.
Me chamavam de médico, doutor, essas coisas... Agora falam Komal sem problemas", garante.
A satisfação do ator com o atual trabalho é tanta que nem mesmo a baixa audiência de Caminho das Índias é capaz de tirar o sorriso do rosto dele. Ainda mais porque Ricardo já está se acostumando a participar de novelas criticadas por seus números de Ibope.
"Estreei em Bang Bang, que diziam que tinha audiência fraca. Depois fui para Pé na Jaca, com o mesmo problema. O que acho engraçado é que a gente dava entre 27 e 30 pontos, mais do que o horário consegue hoje em dia", compara ele, que também fez uma participação especial em Malhação, na temporada que foi interrompida em outubro de 2007 por não alcançar números satisfatórios.
Pé na comédia
Ricardo Tozzi direcionou toda a sua formação para papéis dramáticos. Mas, desde sua estréia na tevê, é constantemente visto em tipos cômicos. Os rumos que sua carreira tomou não foram propositais, mas despertaram no ator uma descoberta que Ricardo ainda faz questão de aproveitar. "Me descobri um adorador de comédia. E acho isso muito bom para mim", argumenta.
Logo em sua primeira aparição em novelas, Ricardo viu o tranqüilo médico Harold, de Bang Bang, se transformar no atirado e louco Lobo depois que bebia além da conta. Tudo depois que Carlos Lombardi, diante do afastamento do autor Mário Prata, por motivos de saúde, assumiu a trama.
"Comédia tem de ser feita da forma mais séria do mundo. Do contrário, vira pastelão, fica parecendo programa chato de humor", filosofa.
Como se saiu bem na função, Ricardo não só assinou contrato por cinco anos com a Globo como também garantiu uma vaga em Pé na Jaca, que Lombardi estreou em 2006. Novamente, fazendo graça. Na trama, interpretava o divertido Primo Cândido, que vivia abandonado na fazenda cheia de jacas da trama central.
Assim como em Bang Bang, Ricardo foi elogiado por sua atuação como Cândido. Chegou até ser chamado nas ruas e nos estúdios da emissora como o "aqui, fio", bordão de seu personagem na trama. "Foi tão forte a repercussão que ficou difícil largar o personagem para fazer outros trabalhos depois", lembra ele, que começou a gravar Malhação poucos dias após terminar suas cenas em Pé na Jaca.
Instantâneas
# Formado em Administração de Empresas, Ricardo Tozzi trabalhou como executivo de uma multinacional antes de ingressar na carreira de ator.
# A desenvoltura de Ricardo com a comédia fez com que o ator fosse escalado, por diversas vezes, para participações na "linha de shows" da Globo. Dicas de um Sedutor, A Diarista, Guerra e Paz e três episódios de Casos e Acasos estão na lista de aparições do rapaz.
# A maior parte das cenas de Ricardo Tozzi em Caminho das Índias é feita com o ator descalço.
# Ricardo já sabe o que vai fazer quando acabarem as gravações da novela. Ele protagonizará o longa O Monte Carmel, de César Pilatti.