'Aprendiz de Feiticeiro' exagera nas magias que já conhecemos
O Aprendiz de Feiticeiro perdeu a onda das férias escolares e, uma semana depois de sua inicial previsão de estreia (tivesse sido lançado uma semana antes ia competir de frente com A Origem), o filme chega às salas brasileiras numa sexta-feira, 13. A data não é auspiciosa, mas a etiqueta do produto indica que este pode ser um filme à prova de mau agouro, afinal de contas, trata-se de mais uma produção Disney em parceria com o produtor Jerry Bruckheimer e Nicolas Cage no papel principal. Opa, Nicolas Cage... O ator que antes era solução está se tornando um problema. Mas acreditem: se Aprendiz de Feiticeiro não for a Coca-Cola do deserto nas bilheterias brasileiras, a culpa não será de Cage. Não desta vez.
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O filme tinha tudo para ser uma divertida sequência de efeitos especiais incríveis, mentiras de encher os olhos, seres lendários e uma história boa de ser contada. Bem, O Aprendiz de Feiticeiro tem todos os atributos acima, menos uma boa história. E há de se convir que com um roteiro equivocado, lá se vai metade da graça dos efeitos especiais, das cenas mentirosas e dos seres lendários. Ficamos então com uma sensação de que o filme poderia pular etapas e cair direto numa boa e descompromissada sessão vespertina na TV.
Com um argumento que consegue ser resumido em "depois de séculos sem lavar o cabelo, feiticeiro encontra seu discípulo em plena ebulição hormonal", o filme começa com uma vibração positiva, nas cenas em que o personagem de Dave ainda é uma criança, aquele divertido anteprojeto de gente que se mostra de cara apaixonado pela menina gatinha da sala.
Fofinho, bonitinho e vários outros inhos se somam. Dave, correndo atrás de um bilhete que parece ser o elemento que vai definir o futuro de sua vida amorosa e social, termina parando numa espécie de loja de antiguidades onde ele encontra Balthazar (Nicolas Cage). Ou melhor, Balthazar encontra Dave, predestinado a assumir a tarefa de proteger a humanidade das trevas, de uma bruxa chamada Morgana e, em última instância, do fim dos tempos.
Um caos medieval se dá dentro da loja, feiticeiros entram em combate, somem do mapa e toda a bagunça termina com a imagem desmoralizada daquela criança de poucas pretensões épicas. Passam-se os anos e o menino se torna Jay Baruchel, um ator cuja performance mais lembra o nome daquela saudosa série dos anos 1980: Caras & Caretas. O crescido Dave é uma versão pós-graduada de algum personagem de séries como Hannah Montana, Zack & Cody ou qualquer outra franquia adolescente Disney Channel. Sem a garota de seus sonhos, ele se contenta em gastar seu tempo fazendo experiências repletas de raios e evoluções do que ele deve ter aprendido em várias feiras de ciência.
Não demora muito para que Balthazar e seu arqui-inimigo, Maxim (Alfred Molina, mais uma vez no papel de vilão, desta vez em piloto automático), sejam novamente libertados e a sequência que se desenvolve é mais ou menos assim: Balthazar quer salvar o mundo, Maxim quer destruí-lo e Dave quer conquistar a gatinha da época do colégio falando palavras como "maneiro". Com essas respectivas prioridades e léxico reduzido, os personagens recebem um presente de grego chamado roteiro. A contagem de clichês roda mais rápido que o número de pessoas mortas por Rambo e sua metralhadora.
Sim, a computação gráfica do filme é incrível, mas como levar a sério o empenho da equipe de efeitos especiais quando você se depara com cenas da Chinatown nova-iorquina sendo filmada como se fosse uma ala de escola de samba do Rio de Janeiro? Ou ainda usar uma atriz do porte e da beleza de Monica Bellucci para entrar muda e sair (quase) calada? Ou mesmo ver soluções já gastas de colocar objetos inanimados ganhando vida, tais como uma águia no topo do Chrysler Building ou o emblemático touro de Wall Street? Algo estala em nossa memória cinematográfica que já vimos essas ideias antes. E elas já foram melhor aproveitadas.
Em outras palavras: Nicolas Cage é dos males o menor. A bem da verdade, ele e toda sua pose canastrona ainda tentam resgatar o filme no que parece ser um daqueles procedimentos de reanimação. Mas nem seu cabelo ensebado, nem seu "sobretudo de brechó" (uma das raras piadas boas do filme) salvam essa trama de uma evidente preguiça em ir além do esperado.