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Famoso pelo filme 'Intocáveis', Omar Sy agora estrela 'Jornada da Vida'

Astro francês interpreta um ator celebridade, que viaja à terra dos seus antepassados, uma aldeia no Senegal, e lá entra em contato com suas raízes e com uma cultura da qual ele ignora tudo; assista ao trailer

18 jul 2019 - 03h12
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Textos sobre filmes costumam dar uma ideia sumária do enredo, sem avançar demais o sinal nas informações para não cair no pecado do spoiler. Temo, no entanto, que uma sinopse de Jornada da Vida, mesmo que mínima, dê uma ideia errada ao leitor. Com seus ingredientes de apelo à paternidade, aos bons sentimentos, ao reencontro com as raízes e com alguma redenção, pode levar a crer num filme inócuo e mesmo adocicado demais.

Não é assim. Mesmo manipulando elementos emocionalmente perigosos como uma carga de nitroglicerina, o diretor Philippe Godeau faz dessa produção franco-senegalesa algo mais que um filme apenas edificante e sem base na realidade. O longa é estrelado por Omar Sy, ator francês que ficou famoso com Intocáveis, a ponto de iniciar carreira internacional.

Aqui, ele interpreta um personagem de sua própria profissão. É o ator celebridade Seydoul Tall, que resolve fazer uma viagem à terra dos seus antepassados, uma aldeia no Senegal, em companhia do filho. O motivo é uma tarde de autógrafos em Dacar de um livro de memórias que está lançando.

Como a mãe do garoto não deixa ele viajar, Seydoul vai sozinho. E, em Dacar, ele vai encontrar uma espécie de filho substituto, um menino de 13 anos, Yao (Lionel Louis Basse) que, sem permissão da família, viaja quase 400 quilômetros para pedir um autógrafo ao seu ídolo, Seydoul.

O interessante é que o filme evita enredar-se nas armadilhas da pieguice e põe em cena a cor local. Não ignora as condições de existência às vezes muito difíceis no interior do país, mas também não escamoteia a vitalidade da população, sua hospitalidade, alegria e sabedoria.

Em especial, num aspecto: o manejo do tempo, tão complicado para as civilizações que conhecemos, as nossas, nas quais vivemos apressados, estressados, ansiosos e perdidos, sem tempo para fruir daquilo por que tanto lutamos. Sobretudo, sem tempo ou serenidade para aproveitar daquilo que existe de mais precioso na existência, o convívio tranquilo com outras criaturas da nossa espécie.

Será Yao, o garoto de 13 anos, o cicerone de Seydoul nesse mergulho civilizacional na terra dos seus antepassados. Um reencontro com suas raízes que nada terá de piegas, evitando a todo custo qualquer tom de autoajuda. Será apenas isso: o contraste entre um europeu de ascendência africana com uma cultura da qual ele ignora tudo. Até mesmo detalhes mais ínfimos, como o dado de gentileza que diz respeito a obrigações com um anfitrião que lhe oferece um almoço.

O registro fotográfico realça a beleza do país e não esconde suas dificuldades. Nada tem de cartão-postal. Omar Sy, cuja persona artística associamos ao irrequieto cuidador de tetraplégico em Intocáveis, agora aparece mais sereno. Contemplativo. Como se estivesse, aos poucos, assimilando as lições que o país dos seus avós e aquele garoto de 13 anos estavam lhe passando, de maneira despretensiosa.

O filme todo, aliás, põe de lado qualquer ambição maior, de grandes lições filosóficas, teorias, críticas ideológicas, etc. Mira justo na linha mais básica de um saber viver depurado por várias gerações em contato com a necessidade, contra as pretensões ambiciosas da nossa sociedade de consumo febril. Que acaba por consumir a nós mesmos em primeiro lugar.

Jornada da Vida é um filme do bem. Um feel good movie, se quiserem classificá-lo. Ok, mas neste mundo em que vivemos bem merecemos esse tipo de refresco de vez em quando.

Estadão
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