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Dança do passinho ganha os palcos

Fenômeno na internet e nas ruas, o estilo que nasceu na periferia está conquistando novos territórios

17 jun 2015 - 09h00
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Maio foi um mês histórico. O tradicional Theatro Municipal do Rio de Janeiro sediou pela primeira vez um espetáculo de passinho. A apresentação fez parte da programação do festival H2K e da série “Trajetórias”, comandada pelo maestro Isaac Karabtchevsky.

Fezinho em uma de suas apresentações. Onde ele vai, é seguido pelos fãs que fez na internet
Fezinho em uma de suas apresentações. Onde ele vai, é seguido pelos fãs que fez na internet
Foto: Divulgação

O espetáculo chamado “Na Batalha”, do grupo de mesmo nome, tinha coreografias de Lavínia Bizzotto e Rodrigo Vieira, com direção de Raul Fernando e Julio Ludemir, que é organizador da Batalha do Passinho no Rio, cidade onde surgiu o estilo.

Nascido nos bailes funk há mais de uma década, nos últimos dois anos, o passinho tem conquistado novos territórios, pela divulgação de vídeos na internet, na mídia tradicional e pelo aumento no número de festas onde a música funk toca.

Em São Paulo, o encontro “Dança + Cidade”,  liderado pela pesquisadora e professora Cássia Navas, reuniu no Sesc Pinheiros também no mês passado especialistas e artistas para discutirem a relação entre a linguagem artística e urbanidade. A professora e urbanista Raquel Rolnik e o produtor cultural Renato Barreiros falaram, claro, sobre esse fenômeno que ocupa as ruas.

Barreiros dirigiu os documentários “Funk Ostentação” e “No Fluxo” e organizou em terras paulistanas a primeira Batalha do Passinho Romano, denominação que diferencia o passinho de São Paulo do carioca.

“Começou com um cara chamado Magrão que fazia uma dança ‘estranha’, antes de morrer em um acidente de moto”, conta Barreiros, complementando que, no bairro da periferia Jardim Romano, garotos começaram a filmar suas danças e divulgar na internet. “Nesta época, há menos de dois anos, eles criavam seus passos com músicas que faziam sucesso, geralmente com letras que falavam explicitamente de sexo”.

Ele explica também que logo foram surgindo composições próprias que citavam especificamente o passinho do Romano. Até que novatos foram introduzindo novos temas, como consumo de drogas e a realidade das periferias. “O funk ostentação é de São Paulo e diferente do carioca”, esclarece Barreiros.

Os garotos gravam seus vídeos e se encontram nos fluxos, que são encontros espontâneos onde jovens da periferia se reúnem para dançar funk. “Chegam a ter de 400 a 600 fluxos por final de semana”, estima o produtor cultural. “Eles são todos autodidatas e, na maioria, meninos”.

Fezinho Patatyy é um dos dançarinos mais famosos do momento e também compareceu ao Sesc Pinheiros para dançar no encontro, chamado de “Pajelança”, que contou com orientação do coreógrafo Alex Soares, e promoveu uma aproximação de artistas da dança contemporânea com os de passinho.

Barreiras diz que o passinho do Rio é mais estruturado. Já o do Romano é uma desconstrução da dança. “É uma brincadeira que surgiu no meio do fluxo. Era algo como movimentação de zumbis”, ilustra, esclarecendo que há uma série de outras denominações, como passinho do faraó, do dançarino conhecido por Bin Laden, de São Paulo.

A base musical para todos os passinhos é o funk. Seu sucesso, segundo Barreiros, está ligado a uma solução que os jovens de periferia encontraram para ter lazer. “O crescimento dos fluxos tem a ver com a crise econômica, pois os frequentadores não precisam pagar para entrar, consumir bebidas ou ter gasto com transportes”, diz ele que acompanha o cenário de perto.

Batalhas e encontros de passinho têm sido realizados em diversas cidades brasileiras, como Belo Horizonte, Salvador e Porto Alegre. E vai ganhando cada vez mais adeptos e conquistando novos espaços, como a Virada Cultural, que realiza uma batalha no dia 21 em São Paulo.

Batalha do Passinho

21 de junho, 15h

CEU Vila Curuçá - Avenida Marechal Tito, 3.452, São Miguel Paulista

Grátis

Fonte: Cross Content
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