Empresas brasileiras têm IA como prioridade, mas investem pouco, mostra pesquisa
Pesquisa feita com mais de 600 líderes de grandes e médias empresas mostra barreira da adoção quebrada, mas que ainda há poucos recursos destinados à área
Apesar de a barreira da adoção da inteligência artificial (IA) ter sido superada por boa parte das empresas brasileiras, a integração dessa tecnologia à estratégia de negócios ainda é o maior desafio para o futuro, segundo a pesquisa "Panorama 2026", realizada pela Câmara Americana de Comércio (Amcham) e a Humanizadas.
Realizado com 629 executivos, em sua maioria em cargos de alta liderança de companhias de médio e grande portes, que juntas faturam R$ 1,8 trilhão e empregam 592 mil pessoas, o levantamento mostrou que 84% delas já usam de alguma maneira a IA.
Apesar de acontecer de maneira pontual, a adoção dessa tecnologia é apontada como prioridade número 1 para boa parte dos setores ouvidos na pesquisa. Nos anos anteriores, IA aparecia apenas como uma tendência para os próximos anos - e não prioridade.
Mesmo assim, há um longo caminho a ser percorrido. Quase 80% das empresas - mais exatamente 77% delas - não têm orçamento dedicado à IA ou destinam menos de 2% de seus investimentos ao tema.
"O Panorama 2026 revela um paradoxo claro: a Inteligência Artificial é a prioridade número um das empresas no Brasil, mas o investimento ainda não acompanha o discurso", diz Marcelo Rodrigues, diretor executivo de Inovação e Novos Negócios da Amcham Brasil. "A empresa que não investir nem aprender a criar modelos e processos a partir das oportunidades tecnológicas que a IA oferece desde já abrirão uma lacuna que poderá inviabilizar a competitividade do seu negócio e muitas empresas ainda não deram os passos necessários nessa direção."
De acordo com o relatório, esse cenário mostra que a tecnologia segue sendo tratada mais como experimento do que como pilar estratégico para a maioria das empresas. "A falta de recursos consistentes compromete a capacidade de desenvolver projetos robustos, desde a definição de objetivos até a mensuração de valor", diz o relatório da pesquisa. "Sem prioridade clara e recursos adequados, a IA tende a permanecer restrita a pilotos e casos isolados."
Na prática, as áreas nas quais a IA mais vem sendo adotada são no atendimento a clientes (59%) e marketing e vendas (54%). Em funções estratégicas e mais críticas, como estratégias de negócios e finanças (adotadas por 38%) são menos exploradas. "Esse padrão revela que a IA ainda é vista mais como ferramenta tática para melhorar interação com clientes do que como motor de transformação interna e tomada de decisão estratégica", diz o relatório.
De acordo com o estudo, porém, esse cenário tende a mudar a partir do próximo ano, quando os empresários esperam ver a IA avançar em projetos pilotos para usos mais estratégicos e escaláveis.
Em relação aos motivos limitadores para a adoção da tecnologia estão falta de profissionais qualificados (por 43% dos respondentes), falta de integração entre áreas e sistemas e preocupações com usos legais e éticos (41% e 28%, respectivamente).
"Os maiores desafios para o avanço das empresas brasileiras não são apenas tecnológicos, mas humanos e organizacionais", afirma Rodrigues. "A dificuldade em executar a estratégia, a resistência cultural e a falta de liderança preparada superam, inclusive, as limitações de acesso à tecnologia."
Para ele, empresas que organizarem seus dados, redefinirem modelos de gestão possíveis a partir da tecnologia e aplicarem IA em seus nichos terão saltos de produtividade em seus mercados que não serão possíveis para as empresas que ficarem para trás. "Fazer igual com uma camada de inteligência artificial será insuficiente", diz Rodrigues. "A vantagem competitiva nos próximos anos virá de quem souber combinar tecnologia, dados, liderança e cultura organizacional."
Novos caminhos
Outra tendência detectada diz respeito ao fato de tecnologia e conectividade como forças motrizes para o desenvolvimento dos negócios terem ganhado força para 2026.
As iniciativas que são levadas adiante nessa linha estão uso de IA (citada por 59,5%), automatização de processos (49,7%), dados na tomada de decisão e transformação digital nas operações (com 33,7% e 33,3%, respectivamente).
Em relação às perspectivas de desempenho das empresas, os empresários estão mais otimistas. O porcentual dos que acreditam em alto desempenho dos negócios no próximo ano ficou em 30%. No levantamento do ano passado, eram 20%.
As principais dificuldades para a melhoria do desempenho estão mais ligadas a fatores humanos e organizacionais, como dificuldade em executar estratégias (52%), cultura resistente à mudança (35%) e lideranças pouco preparadas (também 35%), do que ligadas a questões tecnológicas e de produtos.