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Pesquisa

Cientista inglês colaborou com teoria da origem das espécies

Estudo de inglês é considerado tão imortante quanto obra de Darwin

19 fev 2010 - 08h50
(atualizado às 09h34)
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No verão de 1859, um inglês chamado Henry Walter Bates retornou ao lar, após 11 anos viajando pela vastidão da floresta amazônica, carregando espécimes de mais de 14 mil espécies coletadas.

Seu sincronismo foi excepcional. Enquanto Bates se dedicava a organizar e descrever a vasta coleção, "A Origem das Espécies" de Darwin foi publicada, o que deu a Bates uma forma inteiramente nova de pensar sobre tudo que havia observado na floresta.

Ele foi capaz de oferecer provas novas, num momento muito oportuno, a favor da seleção natural, pois a teoria explicava um fenômeno que ele havia observado de perto, um que o intrigou e continua a atrair a atenção de naturalistas ainda hoje: a forte semelhança de alguns animais a outros seres vivos ou a objetos inanimados.

É uma pena que o trabalho de Bates seja tão pouco conhecido, não só por seu valor, mas também por ter sido concluído depois de um considerável custo pessoal. Ele havia viajado à América do Sul com Alfred Russel Wallace, que viveria para sempre na sombra de Darwin como a outra pessoa que desenvolveu a teoria da evolução por seleção natural.

Bates e Wallace chegaram ao Brasil em maio de 1848, mas se separaram depois de mais ou menos um ano na exploração da Amazônia, ostensivamente para "cobrir mais território". Essa foi provavelmente a maneira de um cavalheiro vitoriano dizer que, após viverem em alojamentos apertados, eles começaram a dar nos nervos um do outro.

Após um ano sozinho, Bates quase desistiu. Ele não havia recebido nenhum dinheiro de seu agente na Inglaterra (que deveria vender os espécimes enviados por Bates da Amazônia). Suas roupas estavam aos trapos. Ele estava sem calçados - "uma grande inconveniência em florestas tropicais", observou. E teve quase todo o seu dinheiro roubado.

Justamente quando planejava deixar o Brasil, Bates contraiu febre amarela e ficou doente demais para viajar. Foi uma pausa de sorte para Bates e para a ciência. Enquanto se recuperava, ele recebeu o dinheiro de seu agente junto de notícias de que a coleta havia feito sucesso na Inglaterra. Ele deu meia volta e mergulhou na floresta por mais oito anos.

Ao retornar à Inglaterra e encontrar a grande obra de Darwin, Bates logo percebeu que havia notado coisas que Darwin não havia mencionado, mas que poderiam dar suporte à controversa nova teoria de Darwin. Bates escreveu ao famoso naturalista, "acho que vi o laboratório onde a Natureza fabrica novas espécies".

Darwin ficou muito entusiasmado. Ele estava recebendo duras críticas pela obra "A Origem das Espécies" e ansiava por qualquer nova evidência que aquele audaz explorador, recém-retornado das florestas da América do Sul, pudesse fornecer.

Em "A Origem das Espécies", Darwin baseou-se fortemente na analogia entre a seleção artificial praticada por humanos para conseguir que animais domésticos desenvolvam traços desejados e a seleção natural que desenvolve características no meio selvagem. Agora, Bates tinha todo um corpo de evidências para a seleção natural no meio selvagem.

Bates explicou a Darwin que havia descoberto muitas ocorrências nas quais animais completamente inofensivos e potencialmente comestíveis se pareciam com espécies repugnantes, não-comestíveis, nocivas ou venenosas. Ele observou moscas que se pareciam com abelhas, besouros semelhantes a vespas e até lagartas parecidas com cobras-covinha. Ele se referiu às ocorrências como "semelhanças análogas" ou "analogias miméticas".

Bates deduziu que mímicos indefesos ganhavam uma vantagem ao se parecer com espécies perigosas. Ele concluiu que os muitos casos observados não eram coincidência, já que as formas mimetizadas só ocorriam na mesma área geográfica das espécies que copiavam. Ele apresentou o fenômeno, ainda hoje referido como mimetismo batesiano, como "uma bela prova da teoria da seleção natural".

Naturalistas menos científicos e mais sentimentais da época estavam inclinados a ver a semelhança entre espécies como meramente a tendência da natureza à beleza e ao ornamento, não como consequência da batalha natural. Bates contrapôs apontando outros tipos de imitação, como mariposas e lagartas que se pareciam com fezes de aves. Onde está a beleza nisso, perguntou.

Existe boa evidência experimental para o mimetismo batesiano e para as vantagens adquiridas por animais inócuos que se parecem com animais perigosos. Mas, até recentemente, havia poucos testes de como realmente funciona a imitação de dejetos de aves, espinhos ou pedras. O desafio é distinguir se a artimanha é uma forma de ocultação, quando o predador não consegue detectar o animal, ou um caso de "disfarce", quando o predador detecta o imitador, erroneamente o identifica como algo não comestível e depois o ignora.

Recentemente, os biólogos John Skelhorn e Graeme D. Ruxton, da Universidade de Glasgow, e seus colaboradores Hannah M. Rowland e Michael P. Speed, da Universidade de Liverpool, arquitetaram um teste usando como presas lagartas da mariposa Opisthograptis luteolata e da mariposa Selenia dentaria, que imitam galhos.

Para o disfarce funcionar, um predador deve ter experiência anterior com os objetos que são imitados. Assim, os cientistas dividiram galinhas jovens em vários grupos - um grupo foi exposto a um galho de espinheiro, um lar comum de lagartas, outro grupo foi exposto a um galho de espinheiro que foi revestido com padrões coloridos para alterar sua aparência e um terceiro grupo foi exposto apenas a uma gaiola de testes vazia.

Depois, cada um dos grupos foi dividido em três ¿ um com uma lagarta da O. luteolata, um com uma lagarta da S. dentaria e o terceiro com um galho limpo de espinheiro. Os pesquisadores então mensuraram quanto tempo levava para que galinhas com diferentes experiências anteriores atacassem as lagartas ou bicassem o galho.

Mesmo quando as lagartas eram os únicos objetos à vista, as aves expostas a galhos de espinheiro naturais levaram muito mais tempo para atacar as lagartas ou o galho, em média vários minutos em comparação a apenas segundos para aves que não haviam tido contato com o galho de espinheiro ou que haviam sido expostas ao galho de revestimento colorido.

O experimento demonstrou que aves que haviam encontrado galhos de espinheiro subsequentemente acharam que as lagartas disfarçadas fossem galhos, mesmo em curta distância e em plena vista. Disfarces parecem ser uma estratégia de defesa bem difundida. Skelhorn e seus colegas observaram que pelo menos 50 espécies britânicas de borboleta ou mariposa se parecem com objetos inanimados em algum ponto de seu ciclo vital.

As criaturas da selva que fascinaram Bates usam o que agora se reconhece como quatro estratégias para evitar ser comido - mimetismo; criptismo, uma forma de ocultação; a exposição de cores de alerta; e disfarce como objetos não-comestíveis.

Quando o artigo científico de Bates descrevendo várias imitações foi publicado, Darwin lhe disse que foi "um dos artigos mais memoráveis e admiráveis que já li na minha vida" e que "seu valor perdurará". Um elogio visionário do talvez mais bem lido naturalista daquele ou de qualquer século.

Tradução: Amy Traduções

The New York Times
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