Bactéria que causa mortes em hospitais pode "passar" pelo ar
Os trabalhadores do setor de saúde e os pacientes têm mais uma fonte de infecção contraída em hospitais com a qual se preocupar, de acordo com um novo estudo divulgado por pesquisadores britânicos. Os cientistas acreditaram por muito tempo que o Cloristridium difficile, um germe capaz de causar infecções intestinais mortíferas em pacientes de hospital, era difundido apenas pelo contato do paciente com superfícies contaminadas. Mas um novo estudo descobriu que ele também pode se deslocar pelo ar.
Os pesquisadores enfatizaram que não existem indicações de que o C. difficile possa ser contraído por inalação de germes. Em lugar disso, ele fica flutuando no ar e pousa em locais nos quais pessoas podem vir a tocá-lo.
Trata-se de um germe que normalmente é transmitido pelo contato com fezes infectadas, e os cientistas britânicos responsáveis pela pesquisa afirmam que o novo estudo torna ainda mais urgente isolar assim que possível os pacientes hospitalares que estejam sofrendo de diarreia - até mesmo antes de testes que confirmem uma infecção pelo C. difficile.
"Não queremos que as pessoas fiquem à espera de confirmação", disse o Dr. Mark Wilcox, professor de microbiologia medicinal na Universidade de Leeds e diretor científico do estudo. "Porque, quando ela enfim chega, o problema já pode ter se espalhado".
Os surtos de C. difficile, uma bactéria resistente a muitos antibióticos, vêm crescendo nos Estados Unidos desde 2001, acompanhados pela evolução de variantes mais virulentas.
Pessoas em bom estado de saúde são raramente infectadas por essa bactéria. Mas os antibióticos de espectro amplo podem exterminar as bactérias que normalmente vivem nos intestinos, e dessa forma permitir o florescimento do C. difficile. Pessoas hospitalizadas e sob tratamento com antibióticos, e pacientes idosos, mesmo que não medicados, são os grupos de risco mais elevado.
Os profissionais da saúde que toquem em fezes contaminadas podem transmitir a doença por meio de contato direto com outras pessoas, ou simplesmente ao tocarem em objetos. Os esporos são resistentes a desinfetantes e podem sobreviver por meses em áreas abertas. A bactéria produz toxinas capazes de causar febre, náusea, dores abdominais, diarreia severa e ocasionalmente colite, uma inflamação séria do intestino grosso.
O tratamento envolve substituir os antibióticos de espectro amplo por outros antibióticos, em geral vancomycin ou metronidazole. Os pesquisadores britânicos iniciaram seu trabalho com uma pesquisa de seis meses de duração e envolvendo 50 pacientes, alguns dos quais portadores de sintomas e outros não, mas todos com infecções confirmadas. O ar próximo a 12% deles estava contaminado pelo C. difficile, de acordo com o estudo. Quanto mais ativos os sintomas de diarreia, mais provável que houvesse esporos no ar em torno dos pacientes.
Em seguida, os cientistas testaram repetidamente 10 pacientes que apresentavam sintomas da doença, ao longo de um período de 10 horas, e o ar próximo a sete deles apresentou resultados positivos no teste de C. difficile, em geral durante horários de visita ou quando havia atividades nos quartos de pacientes, a exemplo de entregas de comida, visitas de médicos a enfermarias ou trocas de roupa de cama. As superfícies em torno de 90% dos pacientes também estavam contaminadas.
Os cientistas acreditam que o movimento de pessoas e a abertura e fechamento de portas agitem os esporos presentes nas superfícies contaminadas, ajudando-os a se dispersar e ampliando a possibilidade de difusão.
A constatação não deve alterar as atuais práticas preventivas, disse o Dr. L. Clifford Mcdonald,. Epidemiologista no Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos. Ele afirmou que o estudo recomendava que pacientes ficassem em quartos individuais, "o que já é a norma aqui nos Estados Unidos". "Existe uma certa dispersão", ele acrescentou, "mas a contaminação mais pesada continua a ser causada pelo contato direto".
Wilcox concorda com essa avaliação. "É importante", disse, "não interpretar esses resultados como justificativa para métodos de remoção de bactérias do ar, técnicas que podem ser apropriadas para pacientes que tenham alto comprometimento de seus sistemas imunológicos mas não para aqueles que estejam em risco de infecção pelo C. difficile".
Os volumes de C. difficile identificados no ar eram em geral modestos. Não havia uma nuvem de germes voando em torno dos quartos dos pacientes. Isso pode sugerir um nível genuinamente baixo de contaminação por via aérea, avaliaram os pesquisadores em seu relatório, ou simplesmente resultar de um problema metodológico na coleta das amostras de ar: a localização inicial dos aparelhos de coleta de amostras, seu projeto ou sua movimentação para acomodar o tratamento dos pacientes ou a recepção de visitantes.
Wilcox disse que os pacientes deveriam se proteger contra o C. difficile por meio da aplicação conscienciosa de duas substâncias que não requerem receita: água e sabão. "Para todo mundo em um hospital, tanto funcionários quanto pacientes", ele disse, "a coisa mais importante é a excelente higiene das mãos".