'Atacada' pelo Sol, nave pode ajudar missão tripulada a Marte
Sonda deverá preparar Marte para receber astronautas
27 abr2012 - 09h13
(atualizado às 09h18)
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Marte é um dos grandes - senão o grande - alvo da pesquisa espacial. Após o plano do presidente americano Barack Obama de mandar astronautas ao planeta vermelho, cada vez mais pesquisas e estudos se juntam aos já existentes para tentar descobrir se é possível chegar ao nosso vizinho. Contudo, nós já visitamos o solo marciano há décadas, mas não presencialmente. E a próxima sonda já está a caminho - faltam apenas 100 dias para o fim da viagem.
A Curiosity segue na nave Mars Science Laboratory, lançada em 26 de novembro de 2011 em um foguete Atlas V, da Nasa - a agência espacial americana. Curiosamente, no meio do trajeto o equipamento sofreu uma experiência que pode ajudar no projeto de levar o homem a Marte.
A espaçonave foi alvejada diretamente por uma tempestade solar X-2 (na escala "Richter" do Sol, as tempestades X são as mais poderosas). Foi uma fuzilada de elétrons e prótons de altíssima energia que viajaram próximos à velocidade da luz - na Terra, essas partículas formam as auroras boreais e austrais. Ao atingir os escudos externos da nave, espatifaram moléculas e átomos em seu caminho, o que produziu uma segunda onda de energia.
E é essa radiação cósmica uma das maiores preocupações em uma viagem interplanetária. Astronautas podem acabar torrados pelos prótons do Sol ou por raios de uma supernova ou de um buraco negro. A boa notícia para a exploração espacial é que a sonda resistiu a toda esse bombardeio do Sol. A segunda boa notícia é que é a primeira que tem um equipamento para medir a radiação recebida (chamado de RAD). Contudo, não conseguimos saber com precisão como essa radiação atuou dentro da nave.
"Mesmo supercomputadores têm problemas em calcular o que exatamente ocorre quando raios cósmicos de alta energia e partículas energéticas solares atingem os escudos de uma espaçonave. Uma partícula atinge outra; fragmentos voam; os fragmentos atingem uns aos outros e batem em outras moléculas", diz um artigo da própria Nasa.
Mas sabemos que serão muitos os dados recebidos e analisados pelo RAD durante a viagem. Afinal, o Sol está em uma temporada de poderosas tempestades que deve durar ainda alguns anos. Além disso, diversas partículas de outras fontes varrem o Sistema Solar com frequência e devem - ou até já atingiram a Curiosity. E tudo isso vira know how para os cientistas. Aliás, a Nasa afirma que espera que o equipamento seja atingido. E ainda faltam 100 dias para isso.
Curiosity
A sonda é não apenas a mais moderna, mas também a mais bem equipada a já chegar a Marte. São 10 instrumentos científicos que deixam o robô 10 vezes mais pesado e com o dobro do comprimento que as sondas Spirit e Opportunity, lançadas em 2003.
Ao contrário das irmãs mais velhas, a Curiosity é capaz de colher (após pulverizar, triturar e/ou "explodir" com um laser) amostras de solo e rocha e analisá-las em um "laboratório" interno - ou com suas muitas câmeras e espectrômetros (equipamento que analisa o espectro eletromagnético).
Segundo o Laboratório de Propulsão a Jato (JPL, na sigla em inglês), da Nasa, o robô é capaz de passar por obstáculos de até 65 cm de altura e percorrer até 200 m por dia no terreno marciano. Um gerador radioativo, alimentado por plutônio-238, vai produzir energia suficiente para um ano marciano (687 dias da Terra), tempo previsto para a missão.
O local onde a sonda vai pousar não foi escolhido ao acaso. A cratera Gale seria um dos locais potencias para a existência de vida em Marte. Contudo, a sonda não foi projetada para determinar se existe - ou existiu - vida no planeta, já que não carrega instrumentos para registrar processos biológicos nem registrar imagens microscópicas. A ideia é preparar o terreno para futuras missões com esses objetivos e até para uma possível missão tripulada.
Programada para ser lançada rumo a Marte no sábado, a sonda Curiosity se juntará a uma série de equipamentos que registrou desde descobertas incríveis a imagens impressionantes. Veja a seguir algumas das melhores fotografias feitas durante a exploração do planeta vizinho
Foto: Nasa / Divulgação
Essa imagem de 2010, colorida artificialmente, mostra água em estado sólido em uma cratera em Marte. O registro foi feito 10 anos depois da descoberta da substância no planeta. Até agora, somente a presença de gelo, e não água líquida, foi confirmada no planeta vizinho
Foto: Nasa / Divulgação
Registro mostra o que seria água corrente. Os filetes escuros da fotografia seriam o primeiro indício da presença de água líquida no planeta, mas os cientistas da Nasa são cautelosos: ainda precisa confirmação, e isso vai demorar alguns anos. Veja a sequência de imagens que mostraria água fluindo em Marte
Foto: Nasa / Divulgação
A sonda Viking 1 chegou a Marte em 19 de junho de 1976 e deixou no planeta uma segunda sonda, a Viking 1 Lander, que fez esta imagem. A sonda "irmã" Viking 2 fez processo semelhante, em 7 de agosto do mesmo ano
Foto: Nasa / Divulgação
Os registros das sondas Viking foram os primeiros a indicar que Marte não tem vida. Contudo, estudos feitos 30 anos depois indicam que o experimento foi mal feito, já que as sondas podem ter destruído qualquer forma de vida durante o pouso
Foto: Nasa / Divulgação
Uma das imagens mais famosas do planeta é o "rosto" de Marte, registrada pela Viking 1. Várias imagens feitas da mesma região já mostraram que a face era apenas uma combinação de sombras e formas naturais - inclusive uma de 2010, feita pela Mars Reconnaissance
Foto: Nasa / Divulgação
Pode não parecer, mas esta é uma das imagens mais famosas de Marte e virou notícia em diversos sites, TVs e jornais internacionais. Contudo, é apenas um pequeno detalhe que precisa de muito zoom para ver...
Foto: Nasa / Divulgação
...O mosaico reúne diversas fotos feitas pela sonda Spirit em uma paisagem marciana. Contudo, onde muitos viam apenas rochas, mas algum desconhecido notou um detalhe minúsculo na gigantesca imagem...
Foto: Nasa / Divulgação
...Para muitas pessoas, o ser era um ET, uma figura humanoide e, segundo relatou a Sky News na época, para um internauta parecia até um "alien nu correndo". Contudo, para os cientistas, o "homem de Marte" não passa de uma pedra
Foto: Nasa / Divulgação
Outra imagem conhecida do planeta, este registro de 2008 mostra as "árvores de Marte". Registradas pela Mars Reconnaissance Orbiter, sonda que orbita o planeta, essas marcas, segundo a Nasa, surgem quando o gelo da região polar (formado por dióxido de carbono) derrete e a areia negra escorre do topo das dunas, dando a impressão errada. Essas "cascatas" de areia negra têm cerca de 1 km e não fazem sombra
Foto: Nasa / Divulgação
A câmera HiRISE, da Mars Reconnaissance, faz registros em alta resolução do planeta. As imagens são coloridas artificialmente pela agência americana
Foto: Nasa / Divulgação
Imagem do solo na região de Deuteronilus Mensae
Foto: NASA/JPL-Caltech/University of Arizona / Divulgação
Imagem de um planalto formado por rochas depositadas no norte da região de Utopia Planitia
Foto: NASA/JPL-Caltech/University of Arizona / Divulgação
Foto do planalto escarpado da região de Aureum Chaos, sugerida pelo aposentado James Secosky
Foto: NASA/JPL-Caltech/University of Arizona / Divulgação
Foto do solo da cratera Palos
Foto: NASA/JPL-Caltech/University of Arizona / Divulgação
O robô Opportunity percorreu 32,5 km em sete anos em Marte e segue trabalhando
Foto: Nasa / Divulgação
Na imagem de abril de 2004, o Opportunity fotografou as marcas deixadas por suas rodas na superfície de Marte após percorrer 100 metros
Foto: Nasa / Divulgação
Em agosto de 2007, o robô mandou à Terra uma imagem de seu braço mecânico após uma manobra de ré
Foto: Nasa / Divulgação
A imagem criada digitalmente mostra como seria a visão do robô Opportunity no solo de Marte. A montagem foi feita com uma fotografia real da cratera Endurance e um modelo digital do robô, com cores artificiais
Foto: Nasa / Divulgação
O "autorretrato" feito pelo Opportunity mostra a sombra do robô no solo marciano em julho de 2004