Serotonina estimula gafanhotos a formarem enxames
Christine Dell'amore
Estados Unidos
A vida social de um gafanhoto do deserto é um estudo de extremos: em um momento, é um solitário irritadiço, noutro, está contente batendo ombros em enxames enormes de sua própria espécie. O que liga e desliga essa relação de amor e ódio, segundo um novo estudo, é uma substância química comum na maioria das espécies animais - a serotonina. Em um experimento recente, cientistas descobriram uma conexão próxima entre a sociabilidade dos insetos e os níveis do neurotransmissor em seus corpos.
"Isso é realmente uma nova descoberta," disse o co-autor do estudo Stephen Rogers, da Universidade de Oxford, Reino Unido. "Tínhamos uma boa noção de que o comportamento do gafanhoto mudava rapidamente, então fizemos uma ampla varredura de neurotransmissores e descobrimos que a serotonina causa transformações em um curto período de tempo."
Os resultados podem no futuro levar a estratégias para o controle de enxames do inseto, que se repetem de décadas em décadas e devoram plantações de terras áridas da África Ocidental à Índia.
Estratégia do desespero
Cerca de 90% do tempo, gafanhotos do deserto vivem em pequenos números espalhados pelo deserto, evitando o máximo possível outros gafanhotos. Apenas quando são forçados a se reunir, os insetos assumem uma mentalidade de enxame. Gafanhotos adotam um comportamento de enxame com base em dois sinais: quando vêem ou sentem o odor de outros gafanhotos por um longo período ou quando suas patas traseiras são constantemente empurradas.
No laboratório, Rogers e colegas estimularam as patas traseiras de insetos solitários com pincéis por duas horas, simulando os empurrões de seus colegas de enxame. À medida que os insetos se tornavam gregários - um termo para descrever a tendência ao enxame - cientistas descobriram que a quantidade de serotonina em seus corpos se elevava acentuadamente.
Embora a serotonina tenha várias funções em animais e plantas, disse Rogers, ela geralmente influencia como os animais percebem e interagem com seu ambiente. Nos humanos, por exemplo, baixos níveis de serotonina são associados à depressão. Como os gafanhotos geralmente se evitam, apenas circunstâncias terríveis os reúnem para zunir em hordas. Por exemplo, chuvas de deserto imprevisíveis causam o florescimento da vegetação, o que pode fazer com que as populações de gafanhotos disparem. Mas quando as chuvas diminuem e as terras férteis encolhem, os gafanhotos se amontoam nas áreas verdes remanescentes.
No fim do processo, o enxame dispara e os gafanhotos tomam os céus - "uma estratégia de desespero movida pela fome," disse Rogers, cujo estudo aparece no periódico Science. Os insetos fracos são carregados pelo vento, que os leva a regiões de baixa pressão atmosférica, onde há maior probabilidade de chover novamente.
Incertezas
Rogers e colegas não sabem se outros gafanhotos, ou outras espécies que formam enxames, passam pelo mesmo pico de serotonina. Mas o novo estudo pode ajudar países prejudicados por enxames em suas colheitas a desenvolver métodos de controle mais efetivos, apontou Rogers.
A atual estratégia para a maioria dos países é observar o comportamento dos gafanhotos, esperar até que se tornem gregários e então matá-los com pesticidas. Com base nessa nova descoberta, as pessoas poderiam borrifar uma substância química enquanto os gafanhotos ainda estivessem se reunindo para bloquear seus receptores de serotonina e, assim, prevenir enxames, observam os autores do estudo.
"Acredito que haja um apreço maior por algo mais específico a gafanhotos do que por uma aplicação indiscriminada de pesticidas," disse Rogers. Mas a simples prevenção de um comportamento gregário não é tão simples, disse Keith Cressman, experiente oficial de previsão de gafanhotos da Organização para Agricultura e Alimentação da ONU, em Roma, Itália. Isso porque as equipes de controle de gafanhotos terão mais dificuldade em exterminar os insetos se eles não estiverem organizados em enxames.
"Isso não diminui a importância das descobertas," disse Cressman, que não esteve envolvido no estudo. "Elas são muito importantes e nos ajudam a preencher as lacunas de conhecimento sobre como o processo gregário funciona."