Federação das Favelas sofre revés na busca por sede e deve R$ 800 mil de aluguel

Comissão de Anistia sugeriu ceder imóvel ou terreno para construção da sede como reparação por perseguição na ditadura

8 jul 2025 - 07h03
(atualizado às 07h05)
Resumo
A Federação das Associações de Favelas do Estado do Rio de Janeiro (FAFERJ), fundada em 1963, é a mais antiga do país. A Comissão de Anistia reconheceu a perseguição pela ditadura, sugerindo que fosse doado um imóvel ou terreno para construção da sede. Sem nenhum dos dois, Federação continua em prédio ocupado.
Sede da FAFERJ no centro do Rio de Janeiro. Prédio do lado direito está abandonado. Federação deseja permanecer no local.
Sede da FAFERJ no centro do Rio de Janeiro. Prédio do lado direito está abandonado. Federação deseja permanecer no local.
Foto: Reprodução

Com a exoneração da responsável pela Superintendência do Patrimônio da União do Estado do RJ (SPU-RJ), a Federação das Associações de Favelas do Estado do Rio de Janeiro (FAFERJ) volta à estaca zero na busca por uma sede.

A representante do órgão federal havia iniciado conversas na tentativa de encontrar um imóvel que pudesse ser cedido à Federação. Ela funciona em um prédio ocupado no centro da capital fluminense – fundada em 1963, com articulações anteriores, a FAFERJ é a mais antiga instituição do gênero no país.

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Ela foi considerada perseguida pela ditadura conforme decisão da Comissão de Anistia, há quase um ano. A sugestão de reparação seria a doação de uma nova sede, ou de terreno para construção – a sugestão não obriga, o que dificulta concretizar a reparação.

“Se tivesse que escolher, eu preferia ficar nesse prédio onde ocupamos ainda no governo de Marcello Alencar, nos anos 90. É uma referência pra gente”, diz Rossino de Castro Diniz, 70 anos, presidente da FAFERJ.

Rossino de Castro Diniz, presidente da FAFERJ, na entrada da instituição que funciona em prédio ocupado no centro do Rio de Janeiro.
Foto: Selma Souza/Voz das Comunidades

Exoneração seria “retrocesso”, diz Federação

Com a exoneração de Sandra Kokudai da Superintendência da SPU-RJ, as decisões tomadas na reunião com a FAFERJ, realizada na última semana de junho, caíram por terra. Na ocasião, foi apresentada a possibilidade de adesão ao Programa Imóvel da Gente, iniciativa do governo federal que visa destinar imóveis da União sem uso ou ociosos a políticas públicas.

Diante da exoneração, a FAFERJ fez uma carta de repúdio. “A exoneração de uma gestora tão comprometida com a justiça social e a gestão pública inclusiva representa um retrocesso e levanta sérias preocupações sobre os rumos da política de regularização fundiária e do diálogo com as comunidades”, diz a carta.

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Uma das dificuldades é encontrar um imóvel com as mesmas dimensões do ocupado pela FAFERJ, no centro do Rio de Janeiro. O prédio de três andares é tombado, o que dificulta intervenções de engenharia e arquitetura. As atividades administrativas e culturais são realizadas no local, que é histórico para a Federação.

FAFERJ entrega demandas das favelas à Secretaria Nacional de Política para Territórios Periféricos e ao Ministério da Saúde, em 2023.
Foto: Divulgação

Dívida de aluguel de R$ 800 mil em imóvel invadido

Desde janeiro de 2019, a dívida da FAFERJ com o aluguel da sede junto ao governo estadual ultrapassa R$ 800 mil, segundo Rossino. Apesar do imóvel ter sido ocupado irregularmente, a Lei Complementar 8/77 exige o pagamento do aluguel.

“Não temos como pagar isso, não está, nem de longe, dentro das nossas possibilidades”, diz o presidente da FAFERJ. Na reunião com a superintendente exonerada, foi feita a promessa de levantar, junto ao cartório de imóveis, a situação atual do prédio da Federação.

O imóvel abrigava uma parte da faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Foi cedido ao governo estadual, mas existem dúvidas sobre os prazos (se teria expirado) e as condições da cessão – o eventual descumprimento de alguma obrigação justificaria a retomada.

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O Visão do Corre entrou em contato com a SPU, que tem novo superintendente, Sandoval Gomes de Sena Neto. Em maio de 2020, ele foi nomeado pelo então governador Wilson Witzel como diretor do Instituto Estadual de Engenharia e Arquitetura (IEEA). Se houver resposta às informações solicitadas pela reportagem, será inserida.

Fonte: Visão do Corre
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