A Operação Bancada é mais uma que intensifica a repressão à prática ilegal de fabricar e soltar balões em São Paulo. Reportagem mostra os altos custos dos balões, os riscos à segurança e os diversos crimes associados, incluindo infrações ambientais e atentado à segurança aérea.
A Operação Bancada — de busca e apreensão contra 28 suspeitos de fabricar e soltar balões em São Paulo — expõe a escalada de repressão a essa prática cultural clandestina. A investigação, que também suspendeu perfis de divulgação nas redes sociais, vinha sendo conduzida havia seis meses. Mas, afinal: onde esses balões são feitos, quanto custam, quem os fabrica, quem os solta e quem os recolhe? E quais crimes estão envolvidos?
Os balões são feitos em fábricas de diversos tamanhos nas periferias de São Paulo e Região Metropolitana, diz o promotor Luis Fernando Rocha, que coordena o combate aos baloeiros em todo o estado. Em agosto, operação na zona leste da capital apreendeu 90 balões na Vila Industrial, Recanto Verde e Vila Bancária. “Não há que se negar que é uma manifestação cultural, só que ilegal e extremamente prejudicial”, diz o promotor.
Mas a cultura do balão não é exercida somente por quem os produz em fabriquetas e fábricas mais estruturadas – neste ano, foram fechadas três que exportavam. Há o grupo dos que soltam balões e dos que resgatam, correndo atrás da “cangalha”, os restos do balão. Existem até prêmios em dinheiro para quem pega a cangalha. Por isso sempre tem gente correndo atrás de balões a pé, de bicicleta, carro, moto.
Balão pode custar até R$ 80 mil
No estado de São Paulo a repressão aos baloeiros é feita pelas polícias civil, militar, ambiental, Grupo de Atuação Especial de Defesa do Meio Ambiente (GAEMA), entre outros órgãos. Nas ações, encontram um cenário típico: explosivos e outros materiais para a fabricação de balões, incluindo estruturas metálicas, prensas para papel de seda, bandeiras, antenas, recipientes de cera e estopa, e até troféus para premiação.
As apreensões e ocorrências demonstram que o período de maior soltura de balões é de abril a setembro, com um detalhe: as festas juninas têm influência mínima entre os baloeiros. Finais de semana são os dias preferidos e os preços vão de R$ 5 mil a R$ 80 mil. Um balão grande pode voar até 60 quilômetros, atingindo cidades do interior paulista, ou chegando à capital.
Balões são fáceis de ver do chão, mas difíceis de ver no ar quando aviões voam entre nuvens e podem ser surpreendidos. Balões não são controláveis, não são captados por qualquer equipamento e muitas vezes sobem com um botijão de gás. “Eles chegam a alugar chácaras e propriedades rurais para soltar o balão, tem alguns locais que são recorrentes”, diz o promotor Luis Fernando Rocha.
Soltar balão clandestino incorre em vários crimes
Como diz o ditado, não é bom cutucar a onça com vara curta. Acidentes e incêndios com balões clandestinos ampliaram a repressão em São Paulo: além das polícias e do Ministério Público, envolve Aeronáutica, Cenipa, Aeroporto de Guarulhos. Há reuniões constantes, instauração de procedimentos. E se você rodar soltando balão, prepare-se: a pena pode ser alta, são vários crimes enquadráveis.
O crime ambiental por soltar balão tem pena de um a três anos, mais multa. “Se o balão estiver no ar e conseguirmos surpreender o grupo que soltou, se conseguirmos demonstrar que o balão colocou em risco a navegação aérea, é atentado à segurança de transporte aéreo, com pena de dois a cinco anos”, explica o promotor.
As autoridades podem conseguir provar que houve organização de várias pessoas para a prática de crimes, ou seja, organização criminosa, com pena de um a três anos. “Se tiver criança e adolescente envolvido, a pena aumenta em mais uma metade. “As pessoas costumam aliar o crime à violência, quando não tem violência, não achamos que é crime. Mas pequenas transgressões legitimam os grandes crimes”, diz Rocha.