IBGE revela que infraestrutura urbana fora das favelas é ruim, mas dentro é bem pior

Instituto considerou dez itens como pontos de ônibus, bueiros, pavimentação, arborização e calçadas com base no Censo de 2022

5 dez 2025 - 09h59
Resumo
Em quase todos os aspectos considerados pelo IBGE, comunidades apresentam índices muito inferiores ao restante das cidades. Pesquisa sobre o entorno das residências em favelas amplia a compreensão dos territórios e pode subsidiar políticas públicas.
IBGE mostra que infraestrutura é precária dentro e fora de favelas, mas nas comunidades as carências são bem maiores.
IBGE mostra que infraestrutura é precária dentro e fora de favelas, mas nas comunidades as carências são bem maiores.
Foto: TV Brasil

Dando continuidade à divulgação dos dados do Censo 2022, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apresenta as características urbanísticas do entorno de favelas e comunidades — ou seja, como é o lado de fora das casas das quebradas. Há postes de iluminação pública? Calçadas, bueiros, pontos de ônibus? Ao todo, foram considerados dez aspectos.

Na comparação entre as favelas e bairros estruturados, “os percentuais das áreas urbanizadas não são grandes, mas dentro das comunidades são menores ainda”, resume Leticia Giannella, gerente de pesquisa do IBGE. Veja os itens pesquisados e as comparações entre favelas, cidades e estados.

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Recenseadores na favela Sol Nascente, em Brasília. Capital planejada não evitou formação de comunidades sem infraestrutura.
Foto: Jéssica Farias/IBGE

Capacidade máxima de circulação da via

O IBGE quis saber quais veículos cabem nas ruas e vielas das favelas. O dado é importante porque permite ou impede a prestação de serviços públicos, como a passagem de caminhões de lixo e ambulâncias. As maiores diferenças estão no Amapá, Alagoas e Rio de Janeiro – na Mangueira, somente 10,2% dos moradores vivem em locais onde cabem veículos de grande porte.

Pavimentação de ruas e vielas

Pouco mais da metade dos moradores residem em vias pavimentadas, atingindo a quase totalidade nas comunidades de Pernambués e Tancredo Neves, em Salvador (BA). O alto índice de cobertura se deve ao fato de que os próprios moradores concretam ruas e vielas, embora existam diferenças de mais de 50% em relação à pavimentação dentro e fora das favelas nos estados de Roraima, Tocantins, Mato Grosso do Sul e Distrito Federal.

Beiru ou Tancredo Neves, em Salvador. Segundo o IBGE, é a maior favela da Bahia e a décima do país, com pouco mais de 38 mil habitantes.
Foto: Wikipedia

Bueiros ou “bocas de lobo”

A quantidade de pontos para escoamento da água revela o quanto as quebradas podem contar com um equipamento básico diante da crise climática. Embora haja locais com diferenças de mais de 35 pontos percentuais de bueiros do que nas favelas, há comunidades como as Baixadas do Condor, em Belém (PA), onde 90% dos moradores contam com pontos de escoamento – a explicação é que, historicamente, rios e igarapés constituem a geografia da cidade.

Iluminação pública

As maiores diferenças entre a quantidade de postes de iluminação pública dentro e fora das favelas estão nos estados de Roraima, Amapá e Mato Grosso do Sul. Considerando as cidades, Balneário Camboriú (SC) apresenta a maior diferença: tem 80% menos postes nas comunidades pobres. Na maior favela do Brasil, a Rocinha, pouco mais de metade dos moradores tem iluminação pública (54,3%). Na maior favela de São Paulo, Paraisópolis, são 66,9%.

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O bairro da Cabanagem surge no final da década de 1980 em Belém. Na capital paraense, periferias são chamadas de “baixadas”.
Foto: Alessandra Serrão/NID Comus.

Ponto de ônibus ou van

A exclusão social também se revela no acesso aos meios de transporte. Fora das favelas, a presença de pontos de ônibus ou van é mais do que o dobro do que dentro. E somente quatro comunidades brasileiras tem mais de 10% dos seus moradores residindo em vias com pontos de transporte público: as comunidades Vila São Pedro e Macuco, na Grande São Paulo; além de Colônia Terra Nova e Zumbi dos Palmares, em Manaus (AM).

Sinalização para bicicletas

A ínfima quantidade de ciclovias, ciclofaixas ou sinalização para bicicletas mostra o quanto o país pedala contra a corrente, dentro e fora das favelas. O percentual de moradores em vias com sinalização ciclística é de 0,9% nas comunidades e de 2,7% fora delas. O IBGE constatou que 97,4% das favelas e comunidades urbanas brasileiras – ou seja, quase todas – possuíam menos de 10% de seus moradores residindo em vias com sinalização para bicicleta.

Segundo o IBGE, a Vila São Pedro, em São Bernardo do Campo (SP), é a maior comunidade com nome de santo junino do Brasil.
Foto: Divulgação

Calçada ou passeio

Para o IBGE, calçadas são as vias com, pelo menos, 80 centímetros de largura, presentes em pouco mais da metade das favelas brasileiras. Foras delas, o percentual sobe para 89,3%. O menor índice de calçadas está na maior favela do Brasil, a Rocinha, no Rio de Janeiro, com 12,1% de calçamento. O maior foi constatado na Cidade Olímpica, em São Luís (MA), quase toda com acesso a calçadas: 99,3%.

Calçada sem obstáculo

Não adianta ter calçadas, se elas têm obstáculos, e o IBGE quis saber o que impede a passagem de pedestres. Dentro e fora das favelas, as calçadas livres são raras, mas a diferença em relação às comunidades é de quase seis vezes. O dado nacional indica que menos de 10% dos moradores de 90% das favelas e comunidades urbanas possem calçadas sem obstáculo.

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Favela Rio das Pedras, no Rio de Janeiro, segunda maior em número de domicílios, com mais de 23 mil, tem a menor arborização do país.
Foto: Fábio Costa

Rampas para cadeirantes

Na comparação da quantidade de rampas para cadeirantes dentro e fora das favelas, repete-se a mesma situação das calçadas: são poucas, mas nas comunidades há muito menos, especificamente sete vezes menos, ou 2,4% contra 18,5%. O IBGE constatou que, se depender de rampas, os cadeirantes jamais se locomoverão nas favelas, pois nove em cada dez comunidades tem menos de 10% dos seus moradores em vias com rampa para cadeirantes.

Arborização

Em Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo estão as maiores diferenças entre a quantidade de árvores dentro e fora das favelas. Nacionalmente, metade das comunidades tem menos da metade dos moradores em áreas arborizadas. Em Rio das Pedras, no Rio de Janeiro, foi constatado o menor índice de arborização: 3,5%. Para Claudio Stenner, analista do IBGE, “há uma relação provável entre o tempo de existência da favela e a falta de arborização, pois as árvores vão dando lugar a casas”.

Fonte: Visão do Corre
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