Com paus e lona, ocupação na noite de São Pedro mudou a história de uma cidade

Vila São Pedro, a mais populosa de São Bernardo do Campo (SP), foi fundado em 29 de junho, homenageando o santo do dia

28 jun 2025 - 05h59
Resumo
Segundo a prefeitura, são mais de 100 mil moradores na Vila São Pedro, ou Montanhão, fundada em 1987. É a maior comunidade de São Bernardo e a maior com nome de santo junino no Brasil. Conheça a história da ocupação e a fervilhante comunidade.
Segundo o Censo do IBGE de 2022, a Vila São Pedro é a maior comunidade com nome de santo junino do Brasil.
Segundo o Censo do IBGE de 2022, a Vila São Pedro é a maior comunidade com nome de santo junino do Brasil.
Foto: Divulgação

A polícia expulsou a primeira ocupação, mas, dias depois, em 29 de junho de 1987, aproveitando a noite de festa junina, cerca de 20 famílias ocuparam uma área da empresa Interinvest, em São Bernardo do Campo, Grande São Paulo. Fundaram a Vila São Pedro, em homenagem ao santo do dia. Trinta e oito anos depois, é a maior comunidade da cidade, a única com mais de 100 mil habitantes.

A quebrada é também chamada de Montanhão. “Depois que expulsaram a gente na primeira tentativa, ficamos mais espertos. Juntamos pau, lona, enxada, aproveitamos o feriado e a noite de festa e passamos a madrugada erguendo os barracos”, lembra Geraldo Gomes da Silva, 64 anos, liderança comunitária.

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Geraldo Gomes da Silva, um dos fundadores da Vila São Pedro, e a esposa, Regimere Teixeira dos Santos. Casal luta há décadas pela comunidade.
Foto: Marcos Zibordi

Eleito oito vezes presidente da Sociedade Amigos da Vila São Pedro e Adjacências, Geraldo iniciou o primeiro mandato de vereador neste ano. “A gente se reunia no antigo Clube da Volks, era tudo trabalhador, imigrante que pagava aluguel. Quando ocupamos, tinha pouca árvore, era mato, toco e barranco. Em menos de dois anos, tinha mais de cinco mil pessoas”.

Geraldo e a esposa narram suas memórias na sede da associação de moradores, de dois andares, no centro nervoso da Vila São Pedro. “A gente fez cadastro de família, distribuímos leite, corremos atrás de água, esgoto, asfalto, galerias, canalização, médico, escola, posto de saúde. Quando não tinha Correio, nem nome de rua, nem CEP, chegavam cinco mil cartas aqui, que o povo vinha buscar”, conta Regimere Teixeira dos Santos, 54 anos.

Moradores fazem mutirão para construir a sede da Sociedade Amigos da Vila São Pedro e Adjacências, com dois andares.
Foto: Reprodução

Moradores comparam comércio ao centro de São Bernardo

Jorge Tavares, 75 anos, é dono da Padaria Branca de Neve, a mais antiga em funcionamento na Vila São Pedro. “Abri aqui em 1995 por enxergar que o bairro tinha visivelmente um futuro bom”. Ele construiu o prédio da padaria na época em que as ruas eram de terra. “Tem coisa pra melhorar, mas eu adoro isso aqui. Enquanto Deus me der vida, estarei aqui”, diz Tavares.

A padaria é próxima à Avenida Dom Pedro de Alcântara, a via principal da Vila São Pedro. Os moradores garantem que é o comércio mais fervilhante de São Bernardo do Campo, comparável ao da rua Marechal Deodoro, no centro. “Vi muita melhoria, aqui tem de tudo, não precisa ir para lugar nenhum”, diz Breno Caetano, 32 anos, que veio do Ceará para uma temporada e acabou ficando.

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Jorge Tavares, 65 anos, dono da mais antiga padaria em funcionamento na Vila São Pedro. Ele sabe tudo do quebrada.
Foto: Marcos Zibordi

Em uma São Bernardo com 810 mil habitantes, “fomos a primeira clínica legalizada de bronzeamento artificial na periferia da cidade, e isso me enche de orgulho até hoje”, diz Cinthia Cremonese. Em 2017, ela fundou a Perfect Bronze ABC. No mesmo ano, começou a regularização fundiária da Vila São Pedro, que ainda não terminou. Em 2021, a Prefeitura venceu em ação judicial de desapropriação.

Três comemorações no dia 29 de junho

“Na verdade, são três comemorações no dia 29 de junho”, diz o diácono Marcelo Cavinato, da Paróquia São Pedro e São Paulo, que realiza a tradicional quermesse do Montanhão. “A data oficial de São Paulo é em janeiro, mas as igrejas católicas do mundo inteiro comemoram junto com São Pedro, porque são os pilares do catolicismo”, explica o diácono da paróquia que carrega o nome dos dois santos.

Relbom Moreira do Espírito Santo mora há 30 anos na Vila São Pedro. Gosta da comunidade, mas quer voltar para Pernambuco.
Foto: Marcos Zibordi

A festa, realizada durante o mês de junho, junta cerca de mil pessoas. No último final de semana do mês, é especial: tem apresentação de quadrilha, no sábado, e o tradicional bingão, no domingo. “Os prêmios são bons e a comida é ótima, tudo caseiro, desde ralar o milho para pamonha, o curau, é tudo as mulheres da comunidade que fazem”, elogia o diácono.

A quadrilha reúne casais formados por fiéis da “matriz paroquial” e das cinco capelas da Vila São Pedro. Relbom Moreira do Espírito Santo, 55 anos, conhece e gosta da festa. Veio de Pernambuco, assim como a esposa. Ele voltaria para o estado natal. “Lá é bom”, diz. “É bom pra passar fome”, responde a esposa, que prefere a Vila São Pedro, onde o casal vive há 30 anos.

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Fonte: Visão do Corre
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