Palmeirinha, time da maior favela de São Paulo, é presidido por corintiano roxo
Time mais antigo e reconhecido da comunidade foi oficializado em 1973. Entre os fundadores, palmeirenses eram minoria
Paraisópolis, na zona sul de São Paulo, tem mais de 58 mil moradores segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Também tem vários times, entre eles a Associação Esportiva Palmeirinha de Paraisópolis Morumbi. A sede, a lojinha e o campo ficam no centro da favela. Conheça a história do time que foi fundado e é dirigido por uma família corintiana.
As histórias da favela de Paraisópolis são inesgotáveis, como a do seu time mais famoso, o Palmeirinha, escrito assim mesmo, no diminutivo e sem o “s” no final. Fundado em 1973, o clube mantém a sede, uma lojinha e seu campo no centro da favela — a maior de São Paulo e a terceira maior do país, com mais de 58 mil moradores, segundo o último Censo do IBGE, de 2022.
O atual presidente, corintiano roxo, tinha onze anos de idade quando participou da reunião de fundação, em 20 de maio de 1973. Francisco Luiz da Silva, hoje com 65 anos, veio de Alagoas. Nos primeiros jogos que assistiu em São Paulo, “a primeira paixão foi Rivelino”, que brilhava no Corinthians.
Pergunto ao presidente por que, na reunião de fundação, da qual participaram umas quinze pessoas, o nome escolhido foi Palmeirinha? Ele conta que foi para evitar atritos entre a maioria dos fundadores, homenageando o time da minoria palmeirense. Uma votação referendou a escolha e a ata foi lavrada.
Moradores de Paraisópolis e seus vários times
Em Paraisópolis, os moradores têm dois clubes do coração: um de fora, profissional, e o Palmeirinha. Ou outro dos incontáveis times da favela, como o Cruzeirinho, que disputa uma partida a poucos metros da loja em frente ao campo. É onde entrevistamos o presidente, um diretor e um técnico do time administrado por corintianos – seis familiares do presidente compõem a diretoria, entre doze diretores do Palmeirinha.
“Nós tomamos revólver na cara para acabar com o campo, e não foi uma vez só, não. Foi nas antigas, era gente que queria construir no lugar para vender casa pro povo. Hoje em dia, não, pacificou”, conta o presidente.
“É muito importante você colocar aí: nossa camisa tem peso”, completa o diretor Carlos Santana, 58 anos, o Carlinhos Careca. Ele atua na categoria veterana do Palmeirinha, que mantém oito equipes, para todas as idades. “Sou um cascudo bom”, diz sobre a habilidade em campo.
Enquanto conversamos em uma tarde de sábado, a beirada do campo recém-reformado tem barzinhos, lanchonetes, gente passando, motos tirando fina. No ar, vários cheiros e músicas disputam os ouvidos, enquanto os olhos estão no jogo. O campo é usado todo dia, o dia inteiro, não só pelo Palmeirinha, que disputa seis campeonatos enquanto o Palmeiras profissional joga o Mundial de Clubes.
As grandes conquistas do Palmeirinha de Paraisópolis
A loja do Palmeirinha exibe parte dos troféus, alguns maiores do que uma criança. O campo atual foi instalado no início da década de 1980 e não faz vergonha a ninguém: tem 68 por 105 metros, alambrado pintado, arquibancada, grama sintética novinha, iluminação. Em dia de clássico, chega a juntar 5 mil pessoas em volta.
O Palmeirinha venceu metade das 39 edições da Copa Paraisópolis, realizada dentro e com times da favela. Um momento importante da trajetória? 1988, após ser campeão invicto de uma copa disputada em Embu. "Começamos a perceber que tinha que disputar campeonatos fora da favela”, lembra o presidente.
Outro fato histórico é a criação da Copa da Paz, em 2008, uma das mais importantes da várzea paulistana. O motivo óbvio está no nome. E deu certo, ninguém mais toma enquadro por jogar em quebradas rivais. “Quando ganhamos em 2015, fomos à loucura, estávamos há sete anos sem ganhar a copa que nós mesmos criamos”, lembra Chiquinho do Palmeirinha.
Dos títulos recentes, o time feminino venceu a Taça das Favelas em 2022. Por falar em atualidade, o presidente e o diretor têm suas dúvidas se o Palmeiras do Allianz Parque chega à final do Mundial de Clubes. Cristiano dos Santos Oliveira, um dos técnicos do Palmeirinha, tem certeza: “o Palmeiras vai ganhar porque está com medo. Quando o time chega com medo, respeita os adversários”, diz Fumaça, como é conhecido em Paraisópolis.