De acordo com processos judiciais dos EUA movidos por distritos escolares, a Meta, empresa dona do Instagram, Facebook e WhatsApp, decidiu encerrar uma pesquisa interna sobre os efeitos das redes sociais na saúde mental dos usuários. A decisão veio após evidências de que os produtos da empresa eram prejudiciais à saúde. As informações foram divulgadas pela Reuters.
A pesquisa intitulada de "Projeto Mercury", foi realizada por cientistas da Meta, juntamente com a empresa de pesquisa Nielsen. O objetivo era avaliar o efeito que usuários tinham após ficarem durante um determinado período sem usar o Facebook. Os resultados indicaram que as pessoas que ficaram sem a rede social por uma semana relataram menos sentimentos de depressão, ansiedade, solidão e comparação social, de acordo com os documentos.
Segundo os processos, ao se deparar com os resultados, a Meta preferiu cancelar as pesquisas e considerou que os resultados negativos do estudo tinham relação com "a narrativa da mídia" em torno da big tech.
"O estudo da Nielsen mostra um impacto causal na comparação social", escreveu um pesquisador anônimo. Outro funcionário comparou as conclusões negativas sobre as redes sociais, e a decisão da empresa em omitir os resultados, com a indústria do tabaco. "Fizeram pesquisas e descobriram que os cigarros eram ruins e, então, mantiveram essa informação em segredo".
Apesar de a pesquisa aponta relação entre o uso das redes sociais e a uma piora na saúde mental, a Meta afirmou nos processos que não era capaz de determinar se seus produtos eram prejudiciais aos adolescentes.
No sábado, 22, Andy Stone, porta-voz da Meta, disse em comunicado que o estudo foi interrompido por falhas na metodologia. Além disso, disse que a empresa trabalha para melhorar a segurança de seus produtos.
"Os registros completos mostram que, por mais de uma década, ouvimos os pais, pesquisamos as questões mais importantes e fizemos mudanças reais para proteger os adolescentes", afirmou.
Outras empresas de redes sociais, como o Google, o TikTok e o Snapchat também estão sendo acusadas de ocultar, intencionalmente, os riscos de seus produtos. O TikTok, o Google e o Snapchat não responderam imediatamente a um pedido de comentário da Reuters.
De acordo com os documentos do processo, as acusações da Meta sobre os prejuízos à saúde mental seriam piores do que as das empresas concorrentes.
Os documentos disseram: "1. A Meta projetou intencionalmente seus recursos de segurança para jovens de forma a serem ineficazes e raramente utilizados, e bloqueou testes de recursos de segurança que temia que pudessem ser prejudiciais ao crescimento. 2. A Meta exigia que os usuários fossem flagrados 17 vezes tentando traficar pessoas para fins sexuais antes de removê-los de sua plataforma, o que um documento descreveu como "um limite de punição muito, muito, muito alto". 3. A Meta reconheceu que otimizar seus produtos para aumentar o envolvimento dos adolescentes resultou em fornecer a eles conteúdo mais prejudicial, mas fez isso mesmo assim. 4. A Meta protelou por anos os esforços internos para impedir que predadores infantis entrassem em contato com menores devido a preocupações com o crescimento e pressionou a equipe de segurança a divulgar argumentos que justificassem sua decisão de não agir. 5. Em uma mensagem de texto em 2021, Mark Zuckerberg disse que não diria que a segurança infantil era sua principal preocupação "quando tenho várias outras áreas nas quais estou mais focado, como construir o metaverso". Zuckerberg também rejeitou ou ignorou os pedidos de Nick Clegg, então chefe de políticas públicas globais da Meta, para financiar melhor o trabalho de segurança infantil".
O porta-voz da empresa contestou as acusações, e disse que as medidas de segurança da Meta para adolescentes são eficazes e que a política atual da empresa é remover contas assim que elas são sinalizadas por tráfico sexual.
"Discordamos veementemente dessas alegações, que se baseiam em citações selecionadas e opiniões mal informadas", disse Stone.
Os documentos da Meta citados no processo não são públicos, e a empresa entrou com uma ação para retirar as informações do ar. Uma audiência sobre o processo está marcada para o dia 26 de janeiro, no Tribunal Distrital do Norte da Califórnia.
*Mariana Cury é estagiária sob supervisão do editor Bruno Romani