Carlos Nobre tinha apenas 12 anos quando seu pai o levou pela primeira vez para andar pela Mata Atlântica, nas redondezas do litoral sul do Estado de São Paulo. Foi a partir desse passeio que o então adolescente, hoje um dos cientistas climáticos mais respeitados do mundo e integrante do grupo que venceu o Nobel da Paz em 2007, se encantou pela causa ambiental. “Vínculo emocional muito grande”, revelou Nobre em entrevista ao podcast Futuro Vivo.
Durante aquele momento entre pai e filho, ele ouviu atentamente os conselhos sobre como era importante proteger a floresta –que é uma das mais ricas em diversidade no planeta– e “ficou impressionado”, como ele mesmo conta hoje. Tudo isso em uma época em que ainda não se falava em aquecimento global.
“Eu andei, fiquei umas três horas com ele dentro da Mata Atlântica. Vi um monte de pequenas cascatas. Ele me mostrou um monte de animais. Acho que aquilo foi o que me trouxe uma preocupação muito grande”, contou Nobre, que compartilha o amor pela pesquisa com outros três irmãos –Antônio Nobre, Paulo Nobre e Ismael Nobre–, que também se tornaram cientistas.
O encanto foi tão grande que fez o cientista mergulhar neste universo e construir um dos currículos mais respeitados do mundo. Natural da capital paulista, ele se formou em Engenharia Eletrônica pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica em 1974 e iniciou sua carreira no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) em Manaus.
É doutor em Meteorologia pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT), em Cambridge (EUA), membro da Academia Brasileira de Ciências e da Academia de Ciências dos Estados Unidos e um dos autores do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU (IPCC), projeto que em 2007 recebeu, ao lado do ex-presidente dos Estados Unidos Al Gore, o prêmio Nobel da Paz pelo trabalho de alerta ao aquecimento global.
A preocupação do pai de Carlos Nobre tinha motivo. Além de abranger 15% do território nacional, a Amazônia frequentemente figura entre os biomas mais desmatados do Brasil - em 2024, foram 377.708 hectares desmatados, devastação só menor do que a do Cerrado, segundo o Relatório Anual do Desmatamento no Brasil (RAD).
Decisão pela Amazônia
Se o primeiro contato com a Mata Atlântica foi o que fez os olhos de Carlos Nobre brilharem, criando vínculo emocional com a causa ambiental, foi ao sobrevoar a Amazônia que ele decidiu que dedicaria sua carreira à maior floresta tropical do mundo.
Ele conta que, por volta de 1970, sobrevoou a região em um avião da Força Aérea Brasileira (FAB), com alguns colegas de turma do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) que eram pilotos. Foram três semanas de viagem, passando por diversos estados.
“Era raríssimo, estava começando o desmatamento da Amazônia. Mas a gente nem viu [as marcas do desmatamento]", lembra ele.
"O avião não voava muito alto, a gente via tudo. Via os rios, a biodiversidade, via a floresta. Então foi uma maravilha. Eu e meus colegas do ITA ficamos muito impressionados."
Em 2024, o desmatamento da Amazônia diminuiu em relação ao ano anterior, de acordo com os dados mais atualizados do Prodes (Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite), iniciativa do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), que realiza o monitoramento por satélites do desmatamento por corte raso na Amazônia Legal desde 1988.
O ano de baixa mais significativa aconteceu em 2012. Em contrapartida, o maior registro de desmatamento foi em 1995. Historicamente, Pará e Mato Grosso são os Estados mais desmatados.
Confira a entrevista de Carlos Nobre, na íntegra, ao Futuro Vivo:
Carlos Nobre é um dos convidados do Encontro Futuro Vivo, um evento para refletir sobre o futuro da vida no planeta. O Encontro acontece no dia 26 de agosto, com transmissão ao vivo pelo Terra. Acesse encontrofuturovivo.com.br e se inscreva.