Há exatos sete meses, o regime de Bashar al-Assad caía em Damasco. Hoje, 8 de julho, a Universidade de Damasco está cheia de vida. Mas o receio diante das novas autoridades islamistas e o impacto que elas podem ter sobre a liberdade das mulheres no espaço público permanece.
As mulheres, que foram protagonistas na revolução e que desempenham papel central na reconstrução do país após a queda do antigo regime, continuam a lutar por seus direitos e pela sua inclusão nas esferas políticas. No entanto, apesar de promessas logo após a tomada do poder, apenas uma mulher - a cristã Hind Kabawat - foi escolhida para integrar um dos ministérios do presidente interino Ahmed al-Sharaa, o dos Assuntos Sociais e do Trabalho. Pelas ruas, as opiniões sobre a sensação de segurança se dividem.
Na capital, circulam rumores sobre leis que não existem, como uma suposta proibição do uso de shorts.
"Antes da queda do regime, como mulher sunita, eu tinha muito medo. Evitava pegar táxis e éramos vigiadas de perto pelos serviços de inteligência, que estavam por toda parte em Damasco", conta Fatima, uma estudante sunita à RFI. "Mas agora, não tenho mais medo nenhum, me sinto livre, até saio com minhas amigas à noite, só entre meninas, há alegria e as ruas estão até cheias."
Experiências divergentes
Esse sentimento de alívio contrasta com a experiência de Layla, que enfrenta uma realidade diferente. "Hoje existe uma verdadeira pressão social para que as mulheres usem o hijab e adotem um vestuário considerado apropriado e respeitoso dos códigos religiosos", explica.
"Essa pressão, que antes não existia, não está baseada em leis explícitas, mas é muito real e transmitida de forma implícita", continua ela. "Por exemplo, quando pego o ônibus sem usar o véu, fico com medo pela minha segurança. Como não me enquadro nessas normas, prefiro ficar em casa a maior parte do tempo e limito minhas saídas."
Moderados
O HTS, grupo islamista que tomou o poder, liderado por al-Sharaa, se apresenta como moderado. Mas um passado de violentas ações contra mulheres ainda reverbera entre as sírias. Além disso, leis rigorosas baseadas na interpretação da sharia (lei islâmica), limitando a mobilidade das mulheres, seu modo de se vestir e sua participação na vida pública vêm sendo aplicadas nas grandes cidades.
Duas realidades coexistem em Damasco. De um lado, uma confiança recuperada; do outro, uma liberdade individual que se enfraquece, bloqueada pelo medo do julgamento. Essas vozes ilustram os desafios enfrentados por mulheres jovens em um espaço público em transformação.
(Com RFI e outros)