"A partir dessa segunda-feira (10), as mulheres trabalham de graça até o final do ano". A forte e necessária frase foi dita pela fundadora do "Les Glorieuses", a doutora em economia Rebecca Amsellem. O boletim feminista volta a fazer o alerta sobre as diferenças salariais entre homens e mulheres na França.
A data para esta conclusão não é um chute. O informativo estabeleceu o horário e o dia embasados em estatísticas sobre a desigualdade salarial entre homens e mulheres no país.
Ao calcular e comparar a remuneração de trabalhadores e trabalhadoras na França, o boletim garante que "as mulheres estão efetivamente trabalhando de graça a partir das 11h31 desta segunda-feira". E não é de hoje que esse alerta é feito.
Para a mesma carga horária de trabalho, as mulheres ganham, em média, 14,2% menos que os homens. Os dados são do Instituto Nacional de Estatística e Estudos Econômicos (INSEE) e abrangem o ano de 2023.
Rebecca Amsellem afirma que "ainda precisamos de um impulso para acelerar a luta pela igualdade salarial".
Não pode demorar 142 anos
Desde 2016, a diferença salarial entre homens e mulheres diminuiu timidamente; caiu de 15,1% para 14,2%, o que significa uma redução de 0,9%.
"Nesse ritmo, não alcançaremos a igualdade salarial antes de 2167", calcula Amsellem.
Como forma de promover a busca pela igualdade, o texto do boletim reivindica um aumento salarial nas profissões com maior representatividade feminina e defende a igualdade de licença-maternidade para ambos os pais.
"Les Glorieuses" também quer que o acesso das empresas a contratos públicos e a concessão de subsídios sejam condicionados ao respeito à igualdade salarial. Segundo a publicação, essa medida "garantirá que os fundos públicos não agravem mais as desigualdades".
O grupo espera que a transparência salarial, que se tornará obrigatória no próximo ano, faça a diferença.
"Países como a Islândia e a Suécia, onde a diferença salarial entre homens e mulheres deixou de ser um problema, já implementaram a transparência salarial há décadas", destaca Rebecca Amsellem. "Isso ajudará as mulheres a negociar seus salários", afirmou.
"Isso não é um símbolo abstrato; é uma injustiça real. Precisamos pôr um fim nisso", reagiu a presidente da Assembleia Nacional, Yaël Braun-Pivet.
"Símbolos são inúteis. Agora precisamos de ação", acrescentou a vice-presidente da Assembleia Nacional, Clémence Guetté.
"As mulheres também ocupam com mais frequência empregos de meio período e são representadas de forma desproporcional em setores essenciais, como a saúde, mas são subvalorizadas por nossos padrões econômicos e patriarcais", enfatizou Marine Tondelier, líder do Partido Verde e uma das únicas mulheres à frente de uma grande legenda política na França.
"Vamos acabar com essa desigualdade por meio de uma legislação, de forma obrigatória e incontornável", garantiu o líder do Partido Comunista, Fabien Roussel.
Com AFP