Na sexta-feira (26), três mulheres foram atacadas com faca na linha 3 do metrô de Paris, em diferentes estações: République, Arts et Métiers e Opéra. As vítimas sofreram ferimentos nas costas e nas pernas, mas nenhuma corre risco de morte. Duas delas foram socorridas e levadas ao hospital, enquanto a terceira procurou atendimento por conta própria.
O suspeito, um homem de 25 anos, foi identificado por imagens de câmeras de segurança e localizado no departamento de Val-d'Oise, na região metropolitana de Paris, graças à geolocalização de seu celular. Ele já tinha antecedentes criminais por roubo com agravante e agressão sexual e chegou a cumprir pena de prisão. Depois, sua detenção foi suspensa por motivos psiquiátricos.
Polêmica sobre nacionalidade e falha administrativa
Inicialmente, o agressor foi apresentado como um cidadão do Mali, sujeito a uma OQTF (Obrigação de Sair do Território Francês) sob alegação de entrada ilegal e permanência irregular no país. A OQTF é uma medida administrativa que obriga estrangeiros em situação irregular a deixar a França, podendo ser aplicada com prazo de 30 dias ou de forma imediata em casos graves. Em 2023, foram emitidas cerca de 138.000 OQTFs, mas apenas 7,7% foram efetivamente executadas, um dos menores índices da União Europeia.
Durante buscas na residência do agressor, a polícia encontrou um passaporte francês, confirmando que ele era cidadão francês por filiação: nasceu em Bamako, no Mali, mas foi reconhecido pelo pai francês aos nove anos, recebendo certificado de nacionalidade em 2012. Ao completar 18 anos, ele obteve documentos oficiais como passaporte e carteira de identidade.
O ministro do Interior, Laurent Nuñez, reconheceu que houve uma falha grave no sistema: o homem foi tratado como estrangeiro irregular, detido e colocado sob OQTF, quando na verdade era um cidadão com passaporte válido. Nuñez afirmou que vai investigar por que os bancos de dados de cidadãos franceses - como os de identidade e passaporte - não foram consultados corretamente.
Segunda agressão: ataque com martelo
Menos de uma semana depois, na segunda-feira, 29 de dezembro, um incidente ocorreu na estação Temple, também na linha 3. Um homem de 26 anos, nascido na Romênia e alcoolizado, tentou roubar uma passageira e, ao ser confrontado, desferiu um golpe com um martelo na sobrancelha dela, causando uma lesão com incapacidade temporária de trabalho de oito dias. Antes, ele já havia atacado um adolescente de 17 anos. Ao tentar fugir, abandonou o martelo no chão. No momento da prisão, o suspeito tinha 0,40 mg/L de álcool no sangue. A polícia investiga o caso como tentativa de homicídio.
Violência nos transportes públicos de Paris
Apesar da redução geral nos índices de criminalidade nos transportes franceses, os números continuam preocupantes. Em 2023, foram registradas 118.440 vítimas de roubos e violência em transportes coletivos na França, uma queda de 11% em relação a 2022. Na região da Île-de-France, onde fica a capital, os indicadores caíram, segundo dados oficiais, de 20 para 17 vítimas por milhão de viagens.
No entanto, a violência sexual segue em alta: em 2024, foram contabilizadas 3.374 vítimas de agressões sexuais nos transportes, um aumento de 6% em relação ao ano anterior e de 86% desde 2016. Sete em cada dez mulheres na região já relataram ter sofrido algum tipo de violência sexual nos transportes públicos.
Medidas adotadas incluem campanhas contra assédio, criação de espaços seguros em estações, descida a pedido em ônibus após 22h, reforço na vigilância por câmeras e ferramentas de denúncia online. Mesmo assim, os episódios recentes mostram que a segurança no metrô parisiense continua sendo um desafio, especialmente diante de falhas administrativas como a revelada no caso do agressor com faca.
Réveillon
O ministro do Interior, Laurent Nuñez, pediu "firmeza e rapidez" às forças de segurança mobilizadas para as festividades de 31 de dezembro, durante uma reunião nesta segunda-feira (30) com as autoridades de segurança regionais.
Em relação ao uso ilegal de fogos de artifício, à violência urbana, aos disparos de morteiros contra policiais e aos incêndios de veículos: "Não esperamos mais incidentes do que no ano passado, mas isso já é muito", destacou Laurent Nuñez.
Todos os anos, as instruções são as mesmas: "Muita rapidez e firmeza nas intervenções" das forças de ordem em caso de incidentes, lembrou o ministro. O dispositivo de segurança para todo o território será comunicado posteriormente. Em Paris, cerca de 10 mil policiais e militares da operação antiterrorista Sentinela estarão mobilizados, detalhou o representante da direção da polícia local.
Na capital, onde é esperada uma grande concentração de público no Trocadéro e no Campo de Marte, próximos à Torre Eiffel, na avenida Champs-Élysées e também nos bairros Les Halles e Montmartre, as preocupações de segurança incluem risco de ataque terrorista e movimentos de massa - como o que quase ocorreu no ano passado - "que serão tratados com máxima atenção este ano nos Champs-Élysées", acrescentou.
Com AFP