A cada Natal, muitas mães e pais se perguntam: quando e como revelar aos filhos que o Papai Noel não existe? Embora cada família tenha seu próprio método, a escolha pode variar em função da classe social. É o que mostra um estudo francês que consta na obra "Premières Classes - comment la reproduction sociale joue avant six ans" ("Primeiras Classes - como a reprodução social importa antes dos seis anos", em tradução livre), publicada na França pela Éditions de l'Université Paris Cité.
Segundo as pesquisadoras francesas Frédérique Giraud et Gaële Henri-Panabière, da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade Paris Cité, as desigualdades são registradas desde a pré-escola na França. A vontade de preservar a natureza lúdica do Natal entre as crianças também varia conforme a classe social.
A pesquisa mostra que as famílias das classes baixas buscam mais frequentemente manter suas crianças no universo mágico do Natal, mutiplicando as estratégias para atrasar a descoberta da inexistência o papai Noel. Para este segmento da sociedade, "vale tudo para continuar fazendo os pequenos sonharem pelo maior tempo possível", diz o jornal Le Parisien.
Estímulo ao pensamento crítico
Por outro lado, o trabalho aponta que as classes médias e altas incentivam seus filhos a questionarem a realidade sobre o senhor bondoso, vestido de vermelho e que distribui presentes. Alguns pais e mães chegam a dizer que se sentem incomodados com o que consideram como uma mentira. "Nessas famílias, o Papai Noel se torna um tema de aprendizado para desenvolver o pensamento crítico", destaca a matéria.
Para realizar o estudo, Giraud e Henri-Panabière se apoiaram em uma pesquisa sociológica de campo realizada tanto junto a famílias, quanto em salas de aula. Na obra, as pesquisadoras indicam que as diferenças não são uma fatalidade relacionada à personalidade das crianças, nem o resultado de uma omissão por parte de seus pais ou dos professores.
"Elas se constroem em condições econômicas contrastantes e ao longo de hábitos e práticas culturais que moldam, desde muito cedo, a percepção de si, as formas de aprender, a relação com o tempo e a abertura para o mundo", afirmam no trabalho.