Anissa El Jabri, da RFI em Paris
A paixão russa pela fruta foi prejudicada nos últimos anos pelos preços cada vez mais altos. As importações de bananas pelo país têm se mantido entre 1,3 e 1,5 milhão de toneladas por ano, segundo o jornal Izvestia. A grande maioria do produto vem do Equador.
Mas, desde 2022, após o início da guerra contra a Ucrânia, o valor da fruta disparou no país: de pouco mais de 97 rublos (R$ 6,70) por quilo, antes da guerra, para mais de150 rublos (R$ 10,50) atualmente. As dificuldades na cadeia de suprimentos devido às sanções internacionais a Moscou, a queda da taxa de câmbio do rublo e o aumento dos preços globais explicam a alta. Além disso, o transporte mais longo complicou a distribuição do produto.
Segundo a revista especializada Agro Trend, em 2024, o consumo de banana foi de 0,8 a 0,9 kg superior ao de maçã, atingindo 9,8 quilos per capita. A comparação é reveladora: a maçã é muito popular na Rússia, especialmente no final do verão, quando a colheita é abundante.
Banana quase foi considerada 'socialmente importante'
A popularidade da banana é tão estável e consolidada que, segundo a revista, o governo considerou adicioná-la à sua lista de produtos "socialmente importantes", junto com a carne e os ovos.
A decisão resultaria em vantagens reais para os consumidores: os produtos incluídos na lista, que tem 24 itens, podem se beneficiar de intervenções do Estado para controlar flutuações repentinas de preços. Se o valor aumenta mais de 10% numa determinada região, durante um período de 60 dias, o governo pode impor um teto ao preço praticado no varejo por até 90 dias.
No caso das bananas, entretanto, as autoridades têm optado por uma estratégia diferente para limitar a subida do valor do quilo nas prateleiras e reduzir a dependência das importações: aumentar a produção nacional.
Em julho de 2024, o jornalista próximo do Kremlin Pavel Zarubin publicou um vídeo no qual exaltava o cultivo de bananas "made in Russia" em uma estufa da residência presidencial, ao sul de Moscou. Nas imagens, Zarubin mostrava grandes folhas verdes cobrindo cachos generosos de bananas e se maravilhava com o fato de elas terem crescido "nas condições climáticas da Rússia".
Os 12 segundos de vídeo, divulgados no canal pessoal do jornalista no Telegram durante a visita do presidente indiano Narendra Modi ao país, demonstraram o interesse crescente de Moscou pela fruta.
Custo alto de produção gera incertezas
O clima desfavorável exige que a produção só seja viável em estufas - e mesmo assim, apenas no sul do país. Alguns especialistas do setor têm dúvidas sobre o sucesso da iniciativa, argumentando que as bananas cultivadas em estufa seriam inevitavelmente muito caras devido aos investimentos significativos necessários para a construção e o equipamento, além dos altos custos de aquecimento e iluminação adicional.
Tamara Reshetnikova, CEO da empresa "Tekhnologii Rosta" (Tecnologias de Crescimento), declarou em junho à revista especializada Agro Investor que um preço de 150 a 180 rublos por quilo (o preço atual da banana em Moscou) não permitiria o retorno do investimento na produção, especialmente porque esses investimentos não poderiam ser compensados por grandes volumes, mesmo com apoio governamental.
Por enquanto, as autoridades russas consideram o projeto viável, assim como um grupo de empresários. Em julho passado, o governo incluiu a banana na lista de produtos agrícolas russos, abrindo caminho para a possibilidade de subsídios nacionais.
Bananas e o tráfico de drogas
A agência de notícias estatal RIA Novosti noticiou em outubro que o Ministro da Agricultura anunciou, em um fórum oficial, a construção das primeiras estufas dedicadas ao cultivo. O governador de Stavropol afirmou que as primeiras colheitas em sua região são esperadas para 2027. Outras regiões do sul, como Krasnodar, também já iniciaram o plantio.
Em Sochi, segundo a agência de notícias Interfax, citando a prefeitura, uma fazenda particular planeja colher suas primeiras bananas já em 2026: até março, a propriedade rural pretende realizar uma colheita experimental inicial de 500 quilos.
A redução da dependência das importações traria um benefício indireto: os serviços de segurança interna alertam que as bananas têm sido usadas como fachada para o tráfico de drogas no país. Em setembro, a imprensa local noticiou a descoberta de mais de 1,5 tonelada de cocaína no porto de São Petersburgo. Agentes do FSB e da alfândega localizaram a droga em um carregamento da fruta, a bordo de um navio vindo do Equador.
O valor do produto foi estimado em 20 bilhões de rublos, tornando-se a maior apreensão de entorpecentes já realizada pela alfândega russa.