Zelensky revela nova versão do plano de paz dos EUA, com congelamento da linha de frente e questão territorial em aberto

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, revelou nesta quarta-feira (24) a última versão do plano de paz americano para a Ucrânia, negociado há semanas entre Washington, Kiev e Moscou. O projeto revelado prevê um congelamento da linha de frente, mas não resolve a questão de uma possível concessão de territórios à Rússia.

24 dez 2025 - 08h33

A bola agora está no campo dos russos: essa foi a mensagem que Zelensky quis comunicar ao revelar os resultados de semanas de negociações com os Estados Unidos; a última etapa tendo sido realizada em Miami, no fim de semana.

Foto registrada na terça-feira (23) e publicada nesta quarta-feira (24) pela presidência ucraniana mostra Volodymyr Zelensky durante uma coletiva de imprensa com jornalistas em Kiev.
Foto registrada na terça-feira (23) e publicada nesta quarta-feira (24) pela presidência ucraniana mostra Volodymyr Zelensky durante uma coletiva de imprensa com jornalistas em Kiev.
Foto: © AFP - HANDOUT / RFI

O texto do projeto de 20 pontos não foi integralmente publicado pelo presidente ucraniano, mas seu conteúdo foi revelado durante uma reunião com jornalistas em Kiev, gravada na véspera e transmitida nesta quarta-feira.

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Segundo Zelensky, a nova versão do texto propõe que "a linha de posicionamento das tropas na data desse acordo é a linha de contato reconhecida de fato. A possibilidade abriria caminho para discussões sobre a criação de possíveis zonas desmilitarizadas na Ucrânia supervisionadas por "forças internacionais". 

"Um grupo de trabalho se reunirá para determinar o deslocamento das forças necessárias para pôr fim ao conflito, assim como para definir os parâmetros das futuras possíveis zonas econômicas especiais", acrescentou.

O tamanho do exército ucraniano permaneceria o mesmo que atualmente, com 800 mil soldados em tempo de paz. No entanto, Zelensky destacou que as negociações entre Kiev e Washington não permitiram chegar a um "consenso" sobre as questões territoriais. Entre as várias exigências, Moscou impõe que Kiev ceda a parte da região oriental de Donetsk, ainda sob o controle dos ucranianos. 

Zelensky disse estar "pronto" para se reunir com lideranças americanas para tratar das "questões sensíveis", depois de já ter sugerido, no passado, um encontro com representantes dos Estados Unidos e o presidente russo, Vladimir Putin.

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Otan, Zaporíjia e eleições

Na nova versão do projeto, outra exigência crucial de Moscou permanece sem solução: o compromisso não prevê que Kiev renuncie formalmente a ingressar na Aliança Atlântica. "Cabe à OTAN decidir se deseja ou não acolher a Ucrânia entre seus membros", disse Zelensky. "A decisão já foi tomada. Optamos por não alterar a Constituição ucraniana para incluir uma cláusula que proíba a adesão do país à OTAN", reiterou.

A decisão modifica a versão anterior do plano, redigida pelos Estados Unidos, e considerada extremamente favorável à Rússia. O projeto de 28 pontos apresentado pelos Estados Unidos no final de novembro exigia de Kiev um compromisso jurídico de não aderir à aliança militar.

No que diz respeito à grande usina nuclear de Zaporíjia, ocupada pela Rússia desde 2022, no sul da Ucrânia, o plano propõe que ela seja operada conjuntamente por Moscou, Kiev e Washington — uma possibilidade rejeitada por Zelensky. "Para a Ucrânia, isso parece muito inadequado e não totalmente realista", declarou.

O presidente ucraniano, cujo mandato se encerrou oficialmente em maio de 2024, também promete realizar uma nova eleição presidencial. Segundo ele, o projeto especifica que a Ucrânia deve organizar o pleito o mais rápido possível após a assinatura do acordo. Por outro lado, Zelensky ponderou que qualquer compromisso prevendo a retirada de suas tropas deve ser aprovado por referendo pelos ucranianos, o que exigiria um cessar‑fogo de 60 dias.

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Resposta da Rússia

O presidente ucraniano disse esperar para esta quarta‑feira uma resposta da Rússia sobre a nova versão do plano americano. "Teremos uma reação dos russos depois que os americanos tiverem falado com eles", declarou.

O texto deve agora ser analisado pela Rússia. Questionado sobre o assunto nesta quarta‑feira, o porta‑voz do Kremlin, Dmitri Peskov, afirmou que Moscou está "formulando sua posição" e se recusou a comentar os detalhes do projeto.

O exército russo vem acelerando seus avanços nos últimos meses. As forças ucranianas anunciaram na terça‑feira que tiveram de se retirar da cidade de Siversk, um dos últimos bloqueios que impediam as tropas da Rússia de se aproximarem de Sloviansk e Kramatorsk, as últimas grandes cidades do Donbass sob controle ucraniano.

Na última noite, as forças russas realizaram um ataque contra infraestruturas petrolíferas e de gás da Ucrânia, provocando a paralisação dos equipamentos, indicou nesta quarta‑feira a empresa estatal ucraniana Naftogaz. Na véspera, bombardeios visaram a rede elétrica, provocando um apagão no país e matando três pessoas.

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