Lúcia Müzell, enviada especial da RFI a Belém
"Estamos nisso a longo prazo. Donald Trump é temporário", afirmou Newsom, ao participar de um painel de alto nível sobre resiliência das cidades ao calor extremo. "Acredito nisso do fundo do meu coração: o melhor em termos de políticas climáticas ainda está por vir."
Esta é a primeira vez que nenhum diplomata americano participa de uma COP em 30 anos. O governo de Donald Trump, que considerou as mudanças climáticas a "maior enganação da história", avisou o Brasil sobre a ausência na véspera do evento. Observadores, entretanto, avaliaram que a decisão é melhor do que um comparecimento tóxico às negociações, com os Estados Unidos empenhados em bloquear o acordo que é negociado entre 195 países em Belém.
"É uma abominação. É uma vergonha", criticou Newsom, ao comentar a "abdicação de liderança" do presidente republicano na agenda climática. Ele disse que se um presidente democrata for eleito em 2028, o país voltará "sem hesitação" para o Acordo de Paris, do qual Washington se retirou.
Comitiva democrata na COP30
No total, um grupo de cerca de 100 membros do Partido Democrata comparece à maior conferência internacional sobre o tema. Durante duas semanas, não apenas governos como empresas, organizações, bancos e a academia se reúnem no evento.
"Nossas políticas e nosso compromisso na Califórnia com o crescimento verde de baixo carbono são permanentes. Com a mão aberta, o coração aberto, não com o punho cerrado", frisou o governador do estado que, se fosse um país, seria a quarta economia mundial.
Em uma coletiva de imprensa no fim do dia, Newsom focou nas oportunidades que a agenda climática representa. "Não sou ingênuo quanto ao nosso maior concorrente", comentou.
'Não vamos ceder' à China
O democrata indicou que "respeita e admira" o que a China está fazendo "em grande escala" em relação às cadeias de suprimentos e a indústria. "Nos Estados Unidos, precisamos acordar para isso. Nossos fabricantes de automóveis tradicionais precisam acordar. Não se trata de energia elétrica: trata-se de poder econômico", salientou. "E nós, no estado da Califórnia, não vamos ceder essa corrida para a China. Vamos competir nesse mercado."
Para ele, a ausência de Trump na COP representa "um gol contra" de um presidente que "não entende o entusiasmo do presidente Xi Jinping hoje". "Ele quer fazer meu país retroceder. Ele quer nos fazer voltar e tentar recriar o século 20, talvez até mesmo o século 19. Eles estão apostando cada vez mais na estupidez, em relação à política climática no meu país", criticou. "Estou aqui porque não quero que os Estados Unidos sejam apenas uma nota de rodapé nesta conferência", ressaltou.
O impacto econômico também se reflete no plano doméstico, com o aumento dos seguros para habitação dentro dos Estados Unidos, conforme aumentam os riscos de eventos extremos, como inundações, secas e tornados. "Risco climático é risco financeiro, ponto final", resumiu.
Newsom ainda frisou que o que faz a Califórnia ser tão rica "não é apesar" da sua política climática, "mas sim por causa" dela. "Como consequência, os investidores vieram", afirmou, antes de mencionar a escolha de Elon Musk de instalar a Tesla no estado.
Uma análise recente do Centro para a Sustentabilidade Global da Universidade de Maryland concluiu que, se estados e cidades se mobilizassem — e se um presidente pró-clima fosse eleito em 2028 —, as emissões dos EUA poderiam cair pouco mais de 50% até 2035 em comparação com o pico de 2005. Joe Biden havia prometido atingir uma redução de 61% a 66%.