Entre o material que começou a ser divulgado por determinação da Justiça americana, há fotos que mostram várias celebridades, como o líder dos Rolling Stones, Mick Jagger, e o cantor Michael Jackson, na companhia de Epstein. No entanto, grande parte dos documentos tem amplos trechos omitidos, o que alimenta dúvidas sobre o acobertamento de Trump e de outras personalidades de seu círculo.
A enorme quantidade de documentos inclui sete páginas contendo os nomes de 254 massagistas, todos ocultados, acompanhados da explicação: "censurado para proteger informações sobre potenciais vítimas". Outro arquivo contém dezenas de imagens de pessoas nuas ou com pouca roupa escondidas por tarjas pretas.
É o caso do ex-presidente Bill Clinton, que aparece em uma foto com o torso nu em uma jacuzzi. Em outra imagem, o ex-líder democrata está nadando com uma mulher de cabelo escuro, que parece ser Ghislaine Maxwell, cúmplice de Epstein.
Divulgação parcial desobedeceu à legislação
Segundo a emissora americana CNN, páginas inteiras foram suprimidas, e o Departamento de Justiça reteve mais informações do que a lei exige. Apenas parte dos documentos veio a público, apesar da determinação da legislação sobre a divulgação integral dos arquivos.
As revelações também vieram acompanhadas de comentários de integrantes do governo Trump, em uma clara tentativa de desviar a atenção das suspeitas que pairam sobre o presidente americano. O diretor de comunicação da Casa Branca, Steven Cheung, comentou no X as fotos em que Bill Clinton aparece. "Aquele rapaz estava tramando algo", escreveu junto a uma imagem em que o ex-presidente aparece abraçado a uma mulher cujo rosto é escondido por uma tarja preta.
O subchefe de gabinete de Bill Clinton, Ángel Ureña, reagiu em sua conta no X afirmando que o país "espera respostas, e não bodes expiatórios". Segundo ele, a Casa Branca tenta "se proteger do que está por vir, ou do que sempre tentará ocultar". Ureña enfatizou que o ex-presidente democrata "não sabia de nada e cortou relações com Epstein antes de seus crimes virem à tona".
Parlamentares criticam censura
Uma lei aprovada pelo Congresso em novembro determinava que o governo dos Estados Unidos divulgasse todos os documentos não classificados que estivessem em sua posse. Novos elementos devem ser revelados "nas próximas semanas", alegou Todd Blanche, o número dois do Departamento de Justiça.
Entre trechos dos arquivos ocultados estão 119 páginas de um documento judicial de um tribunal de Nova York, apagadas sem qualquer explicação. Segundo o deputado democrata Ro Khanna, não foi divulgado, por exemplo, o rascunho da acusação preparada após a prisão de Jeffrey Epstein em 2019, documento que, segundo ele, envolveria "outros homens ricos e poderosos".
"Isto nada mais é do que uma manobra para encobrir o passado pouco exemplar de Donald Trump", afirmou o líder democrata no Senado, Chuck Schumer. Segundo ele, o governo "faz tudo para esconder a verdade".
Epstein, um antigo amigo de Trump
Jeffrey Epstein, um financista ligado à elite nova-iorquina condenado em 2008 por aliciar menores para prostituição, foi encontrado enforcado na prisão em 2019, antes do início de um novo julgamento por crimes sexuais. Sua morte alimentou inúmeras teorias da conspiração de que ele teria sido assassinado para proteger figuras proeminentes.
Trump, que no passado foi amigo de Epstein, tentou durante meses evitar a publicação dos arquivos no poder do Departamento de Justiça, apesar de uma total transparência sobre o tema ter sido uma de suas promessas de campanha. Pressionado até mesmo pelo Partido Republicano, o magnata aceitou promulgar, em 19 de novembro, a lei que obrigava a publicação dos materiais em 30 dias, prazo que se encerraria à meia-noite desta sexta-feira.
O presidente americano aparece ao lado de Epstein em várias fotos das festas que o financista promovia. No entanto, sempre negou ter conhecimento do comportamento criminoso do amigo e afirma que se distanciou dele nos anos 2000, muito antes do início da investigação.
(RFI com agências)