Polícia desaloja islamistas abrigados em mesquita no Egito

17 ago 2013 - 16h55
(atualizado às 17h12)

Equipes especiais da polícia egípcia desalojaram neste sábado em uma violenta operação centenas de manifestantes islamitas refugiados em uma mesquita no centro do Cairo, e que tiveram de ser protegidos de civis exaltados que queriam linchá-los. A retirada foi precedida de um intenso tiroteio sobre a torre da mesquita de Al Fateh, uma das mais icônicas da capital, e que fica ao lado da estação ferroviária de Ramsés.

Homem ferido é transferido de cadeiras de rodas a hospital improvisado após o massacre
Homem ferido é transferido de cadeiras de rodas a hospital improvisado após o massacre
Foto: AFP

Nem as autoridades nem a Irmandade Muçulmana informaram o número de vítimas do ataque, mas foi possível ver feridos, aparentemente manifestantes islamistas, sendo levados. A tensão no templo tinha começado na noite da sexta-feira, quando se registraram duros enfrentamentos nos quais morreu um dos filhos do líder espiritual da Irmandade Muçulmana, Mohammed Badia.

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Ao longo da manhã, moradores do entorno da mesquita e manifestantes anti-islamistas armados com pedaços de pau e barras de ferro tentaram invadir, e os entrincheirados tinham levantado barricadas com móveis para proteger a entrada. O incremento policial em torno da mesquita elevou a tensão até que, ao meio-dia, as forças de assalto abriram fogo intenso sobre a torre do templo, de onde, segundo a imprensa oficial, tinham começado os disparos.

Pouco depois a polícia entrou na mesquita e capturou os homens que teriam disparado na multidão a partir da torre, explicaram a Agência Efe fontes de segurança. Agitadores e residentes na área intimidaram nas imediações vários jornalistas egípcios e estrangeiros, que foram retidos e em alguns casos agredidos.

O ataque à mesquita de Al Fateh aconteceu após uma sangrenta sexta-feira, na qual, segundo os números divulgados pelo governo, pelo menos 173 pessoas morreram e mais de mil foram detidas, enquanto o total de vítimas mortas desde quarta-feira é estimado em mais de 800.

No entanto, isso não impediu que hoje, de novo, milhares de islamitas tomassem as ruas em claro desafio às autoridades apoiadas pelo Exército, após a entrada em vigor do toque de recolher às 19h (hora local).

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Manifestações no Cairo, Alexandria (norte), Asiut e Minia (no sul) pedem a restituição à presidência do presidente deposto Mohammed Mursi, derrubado por um golpe de Estado militar em 3 de julho.

A pressão sobre a Irmandade Muçulmana e seus aliados não se limita às ruas: as autoridades egípcias começaram hoje a dar sinais que a confraria islâmica pode ser ilegalizada, depois de vários de seus líderes terem sido detidos.

Em entrevista coletiva, o porta-voz governamental, Sherif Shauki, contou que o Executivo estuda os "meios jurídicos" para dissolver a Irmandade, embora mais tarde um dos conselheiros da Presidência, Mustafa Higazi, tenha suavizado essas declarações.

Ele se limitou a esclarecer que não há esforços dirigidos a dissolver nenhum grupo, mas "toda organização que trabalhe no Egito tem que estar legalizada com medidas jurídicas para que atue dentro do marco da lei".

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O conselheiro presidencial para Assuntos Políticos criticou os países ocidentais que não apoiaram a campanha de repressão contra os islamitas, que as autoridades egípcias chamam de "guerra contra o terrorismo". "Falamos de um Estado e de um povo que estão sofrendo um ataque, uma guerra de desgaste por forças extremistas que só podem ser qualificadas como terroristas", assinalou.

Para o assessor presidencial, os acampamentos islamitas de Rabea al Adauiya e Al-Nahda no Cairo - que foram desmontados à força na quarta-feira, o que radicalizou os confrontos - "não podem ser descritos como pacíficos, já que neles se cometeram torturas, assassinato de civis e incitação à violência".

Enquanto o país continua imerso na grave crise que ameaça desestruturar totalmente os avanços da revolução de 2011 que derrubou Hosni Mubarak, o julgamento do ex-presidente celebrou hoje uma nova sessão, à revelia deste e de seus filhos.

O juiz Mahmoud Al Rashidi explicou que nem Mubarak, nem seus dois filhos, Alá e Gamal, nem o ex-ministro do Interior Habib al Adli puderam comparecer à sede da corte por causa das "circunstâncias excepcionais de segurança no país".

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Durante a audiência, o juiz escutou os pedidos da defesa para que haja mais investigações e que sejam mais minuciosas. A próxima sessão está marcada para 25 de agosto.

  
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