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Escolas sem paredes e com aulas na floresta ganham destaque no Brasil

Apesar de aplaudidos pela comunidade pedagógica, especialistas avaliam dificuldade de espalhar novos modelos pelo País

26 mai 2024 - 05h00
Sala de aula no topo de uma árvore, iniciativa na amazônia peruana
Sala de aula no topo de uma árvore, iniciativa na amazônia peruana
Foto: Deutsche Welle

Não é incomum encontrarmos escolas inovadoras pela internet. Muitas, porém, não ficam no Brasil. Um exemplo recente é a escola cuja sala de aula funciona sediada em cima de uma árvore.

A iniciativa é de uma ONG e tem como intuito combater a evasão escolar na Amazônia peruana. Segundo o perfil da empresa responsável, muitas crianças acabam deixando os estudos para ajudar os pais em trabalhos rurais e até ilegais, como o garimpo.

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No Brasil, nós temos alguns modelos inovadores como o citado, mas poucos. Os termos para defini-los, de acordo com especialistas ouvidos pelo Terra, podem variar entre "sala de aula ao ar livre", "escola sem paredes" e até modelo Escola Waldorf.

Independentemente do nome, a ideia é a mesma: prover educação de qualidade, priorizando o conforto, a individualidade e experiência completa do aluno. 

Todo lugar pode ser uma escola?

Segundo a pedagoga e escritora Josy Asca, sim, qualquer lugar ou espaço pode ser considerado uma escola, desde que ofereça um ambiente de aprendizagem, tenha professores licenciados, currículo acadêmico, métodos de ensino e formas de avaliação. 

"Normalmente possui uma infraestrutura física e segue regulamentações legais e educacionais específicas do país ou região. No entanto, o conceito de escola está evoluindo, e algumas formas de aprendizado autodirigido ou não convencional também podem ser consideradas escolas, desde que promovam o desenvolvimento educacional", explica.

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Luciana Garcia, mestre em Semiótica, Tecnologia da Informação e Educação, enfatiza que, dispondo de paredes ou não, as instituições precisam seguir uma cartilha do Ministério da Educação (MEC) e considerar as necessidades regionais do público atendido, para que possam ser consideradas escolas. No caso da casa da árvore na Amazônia peruana, por exemploo, os alunos estudam na prática assuntos relacionados à sua região e aprendem a valorizar o que eles têm ao redor. 

Escola Waldorf Brasil
Foto: @instagram

Esse formato de escola livre muitas vezes pode ser confundido com o modelo Escola Waldorf, que é baseado na abordagem de Rudolf Steiner, mas há diferenças significativas entre os dois. Luciana comenta que, ao contrário da escola tradicional que estamos habituados, o método Waldorf busca compreender o aluno de forma holística, ou seja, na sua totalidade, considerando seu desenvolvimento neurológico, físico e emocional.

Além disso, esse modelo de ensino leva em consideração muitas formas de aprender, que não só aquela centrada numa sala de aula; prioriza o contato com a natureza e com as diferentes formas de arte; foca na socialização e na necessidade de movimento, entendendo que cada criança se desenvolve num ritmo individual que precisa ser respeitado.

"A maioria dessas escolas se baseia no método construtivista, que considera que o aluno deve ser o protagonista e construir o seu conhecimento de maneira ativa. Neste caso, o professor é o mediador, o incentivador e o condutor desse conhecimento, por meio de estratégias específicas, ajudando o aluno a aprender", acrescenta.

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Escola Waldorf Brasil
Foto: @instagram

Em suma, é mais ou menos assim: se um aluno demonstra agilidade na matéria, ele avançará continuamente. Entretanto, se apresentar lentidão em determinado assunto, terá o tempo necessário para entender suas dificuldades, assimilar e, de fato, aprender sobre o objeto de estudo abordado.

O contato com a natureza, apesar de confundir, não determina a escola como modelo Waldorf, mas sim sua metodologia de ensino diferenciada. Acredita-se que no mundo, hoje, existam 1.092 escolas do tipo, presentes em mais de 64 países ao redor do mundo.

No Brasil, são poucas as Escolas Waldorf. Para as especialistas, tradição e questões econômicas são os principais argumentos e empecilhos para o País não abraçar esse modelo de ensino.

Escola Waldorf: como é o modelo de educação e onde é aplicado no Brasil Escola Waldorf: como é o modelo de educação e onde é aplicado no Brasil

Faltam exemplos no Brasil

Para Josy Asca, embora o modelo Waldorf tenha ganhado reconhecimento e apreciação em muitos países ao redor do mundo, incluindo partes da Europa, América do Norte e Ásia, ele ainda não é tão comum no Brasil por razões como:

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  •  História e tradição educacional: O Brasil tem uma longa tradição de educação pública e privada, com diferentes abordagens pedagógicas. As escolas Waldorf são relativamente recentes no País, em comparação com outras tradições educacionais mais estabelecidas;
  • Conhecimento e aceitação: Muitas vezes, a falta de familiaridade e compreensão sobre o modelo Waldorf pode explicar a baixa adoção. As escolas Waldorf têm abordagens educacionais distintas e podem não ser totalmente compreendidas ou aceitas por todos os pais e educadores;
  • Recursos financeiros: Implementar o modelo Waldorf pode exigir investimentos significativos em treinamento de professores, materiais educacionais e infraestrutura. Nem todas as escolas ou comunidades têm os recursos necessários para fazer essa transição;
  • Regulamentação educacional: As regulamentações educacionais e os padrões curriculares podem variar de acordo com o país e região. Adaptar o modelo Waldorf para atender aos requisitos locais pode ser um desafio em algumas áreas.

Apesar desses desafios, algumas escolas Waldorf têm sido estabelecidas no Brasil ao longo dos anos e há uma crescente conscientização sobre as suas abordagens únicas.

"O aumento da demanda por uma educação mais holística e baseada no desenvolvimento integral dos alunos pode eventualmente levar a uma maior adoção do modelo no Brasil", avalia a pedagoga.

Fonte: Redação Terra
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